segunda-feira, 15 de julho de 2013

A classe média e a guilhotina

15/07/13 08:45 | Octávio Costa - Chefe de Redação do Brasil Econômico
Ontem foi o 14 de julho, dia da Revolução Francesa. A data é comemorada pelas várias correntes de pensamento de esquerda em todo o mundo. Faz-se reverência obrigatória a Robespierre, Danton e Saint-Just, os líderes da mãe de todas as revoluções.
E com plena justiça, pois a expressão esquerda surgiu exatamente em 1789 para identificar o lado da assembleia onde se sentavam os jacobinos.
Marxista de formação e militante convicto desde seu tempo à frente do grêmio da Faculdade de Direito da USP, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, é um dos políticos que buscam respostas e exemplos na queda da Bastilha e na derrocada do absolutismo.
Naquela época tumultuada de Paris, os sans-culottes desafiaram a nobreza e tomaram as ruas para cobrar mudanças radicais. E os cabeças da Revolução, embora desconfiassem uns dos outros, não tinham dificuldade para identificar o sentido da voz das ruas.
Mas hoje, como diria o antropólogo Darcy Ribeiro, a clivagem entre esquerda e direita não é tão nítida. Tanto assim que a poeira das manifestações de junho vai baixando e ainda é tarefa complexa a tentativa de desvendar as motivações por trás do movimento.
Fernando Haddad, porém, é intelectual de esquerda que gosta de pensar a realidade. Em entrevista ao Brasil Econômico, aceitou o desafio de explicar o que aconteceu.
Para ele, trata-se de uma reação aos governos mais alinhados à esquerda no poder em vários países da América Latina. Isso vale para a Venezuela, a Argentina e o Brasil.
Derrotados nas urnas, segmentos da sociedade perderam o espaço político-eleitoral e saíram em protestos em Caracas, em Buenos Aires, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Aqui, pesaram também a contestação aos partidos e os respingos mais fortes da crise internacional na economia brasileira. Outro catalizador da mobilização foram a violência e os abusos da repressão policial.
Haddad não cita expressamente a classe média, mas está claro que se refere a essa camada da população. O presidente do Ipea, Marcelo Neri, em declaração recente, fez um ataque direto, atribuindo as manifestações a jovens das faixas de renda mais altas. Foi forçado, porém, a se calar por pressão do Palácio do Planalto e de lideranças do PT.
Ano que vem haverá eleições no país e não é hora de afrontar o eleitorado. O ex-metalúrgico Lula, como se sabe, elegeu-se com tranquilidade depois de quebrar a resistência do empresariado e da classe média.
Ao contrário do amigo e conselheiro, Dilma Rousseff nasceu em família abastada, mas também venceu os preconceitos ideológicos e chegou a atingir índices de popularidade superiores a 70%.
Mesmo que o PT concorde com a leitura de Haddad, é prudente não cutucar a onça com vara curta. Em pouco mais de um ano, será aberta a nova temporada de busca de votos e não é hora de provocar atritos. E muito menos de tomar pelo todo a ação de grupos isolados.
Um dos que chamam atenção - e se enquadram à teoria do prefeito - é o tal do Black Blocs, que tem atacado a polícia com coquetéis molotov. Na internet, seus integrantes dizem que se inspiram no anarquista Malatesta e no jacobino Jean-Paul Marat.
Um dos líderes aparece de camisa polo Ralph Laurent, tomando chope no principado de Mônaco. Certamente, o jovem ativista de classe média não sobreviveria ao crivo radical de Marat, o amigo do povo. Iria para a guilhotina.
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Octávio Costa é chefe de redação do Brasil Econômico