Crescimento não é desenvolvimento
03/07/12 08:30 | Marcos Troyjo - Diretor do BricLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec
O Brasil não adota um "modelo de desenvolvimento". O que existe no país é um "padrão-de-crescimento-baseado-no-apetite-do-mercado-interno". As noções de "modelo" e "padrão" são bem distintas. A primeira é de natureza estratégica e dinâmica; abrange um "plano".
A segunda é tática e recorrente; reage aos desígnios da economia global. A primeira promove desenvolvimento. A segunda, crescimento.
Muitos acham que ainda é possível ao país expandir sua economia a taxas satisfatórias apenas com o incentivo ao consumo do mercado interno. Há porém muitas condicionantes para que o "padrão" se transforme em "modelo". Baixo nível de poupança e investimento. Arcaísmo trabalhista e tributário. Gargalos de infraestrutura. Educação, ciência, tecnologias insuficientes.
À imagem da experiência histórica de outros países, o Brasil precisa eleger um modelo. Elencar prioridades. Por elas sacrificar-se. Isto passa necessariamente pelos setores em que o Brasil apresenta vantagens comparativas.
Agronegócio, mineração, petróleo em águas profundas, biocombustíveis. Estas devem ser as bases para uma nova economia. A plataforma de geração de excedentes a serviço da construção das novas vantagens competitivas do Brasil - na nanotecnologia, bioengenharia, biotecnologia, química fina, novos materiais, na robótica, porque aqui é que está o futuro.
Estes são os diferenciais competitivos que vão colocar os países na vanguarda dos mercados em ascensão. A atual reinterpretação da política de substituição de importações no Brasil é um bom exemplo da diferença entre "modelo" e "padrão".
É praticamente impossível perceber modelos de fomento industrial ao redor mundo que não tenham sido feitos com alguma forma de substituição de importações. Esta é quase que uma passagem necessária para a criação de capacidades locais.
A substituição de importações não pode ser vista como regra ad eternum. Ela tem de ser uma espécie de proteção para o nascimento das competências num setor específico da atividade econômica, que capacita aquele setor a competir internacionalmente.
Para a construção do "modelo" há que se ter por base três elementos. O primeiro é vontade política. O segundo, condições objetivas do ponto de vista da disponibilidade de capital. O terceiro, um bom diagnóstico daquilo que o mundo é hoje. Orientar estratégias às oportunidades que se descortinam para o Brasil.
Sempre se critica o "déficit" de vontade política. Mas é difícil imaginar alguém como a presidente Dilma Rousseff desprovida da vontade de construir um "atalho para o desenvolvimento" que leve a nação a patamares muito mais elevados. Ela intui a importância da inovação e de reposicionar o país na economia do conhecimento.
Ainda assim, o Brasil de hoje confunde o "padrão" de expansão por estímulos pontuais ao mercado interno com o que seja um "modelo" que permita nossa evolução econômica. E daí continuarmos a nos equivocar no diagnóstico - e portanto na compreensão de diferença entre crescimento e desenvolvimento.
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Marcos Troyjo é diretor do BricLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec