O resultado da indústria
10/09/12 07:19 | Júlio Gomes de Almeida - Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp
Do ponto de vista da indústria como um todo o resultado de julho foi decididamente uma decepção. Um aumento real de 0,3% com relação a junho é muito baixo para um setor que acumulou no primeiro semestre do ano uma retração de 3,7%.
Tendo sequência para os meses restantes de 2012, a taxa referente a julho não mudará muito o quadro de declínio da indústria para o ano, pois nessa hipótese o retrocesso da produção industrial será próximo a 3%.
Colocando de outra forma, para que a indústria brasileira tenha crescimento zero neste ano seria necessário que nos meses de agosto a dezembro o crescimento de sua produção superasse 2% a cada mês, algo muito difícil de ser alcançado.
Por trás dos números mais globais, algumas tendências setoriais estão em desenvolvimento, as quais acenam que de fato a indústria brasileira pode estar transitando para uma etapa de maior dinamismo, embora nada ainda leve a crer que a nova fase terá a volta do crescimento acelerado.
A primeira delas tem relação com medidas adotadas pelo governo para acelerar a evolução do crescimento econômico.
Ao contrário do que afirmavam algumas análises, o incentivo da redução de impostos na aquisição de bens de consumo duráveis tem efeito sobre a produção desses bens, notadamente nos casos de automóveis, geladeiras e outros bens da chamada linha branca, móveis e materiais de construção.
Com isso, desde junho a indústria de bens duráveis de consumo passou a registrar índices positivos de produção, o que foi reproduzido em julho e deve ser mantido ao longo dos próximos meses por uma dupla razão: 1) devido à prorrogação do subsídio fiscal até outubro para automóveis, até dezembro próximo para linha banca e móveis e até o final de 2013 para material de construção; 2) em razão da regularização das condições do crédito às famílias que deve ser processada nos próximos meses.
Outro ramo que dá sinais de ter superado uma sucessão de meses negativos é alimentos. Como tem elevada participação na indústria, está disseminado por todas as regiões do país e é muito empregador, o retorno do crescimento neste caso é tão ou mais importante do que a superação da crise na indústria automobilística.
Os últimos resultados da indústria mostram ainda a continuidade pelo segundo mês de elevação da produção de bens de capital, o que pode ser indicativo de que o investimento na economia começa a ser redinamizado.
Além desses pontos, há um outro fato novo: a volta ao crescimento em ramos relevantes de bens intermediários, cujo declínio se arrastava em alguns casos por mais de quatro meses. O poder da indústria reside em sua capacidade de espalhar para segmentos da própria indústria e para os outros setores da economia um determinado estímulo de demanda, potencializando o crescimento. Este poder deriva da existência de um diversificado segmento de bens intermediários.
A importação tem levado para benefício da produção no exterior um pedaço relevante dessa engrenagem, mas as últimas indicações são de que há uma reexpansão de ramos nacionais que formam a base de várias cadeias produtivas, como produtos químicos, metalurgia, borracha e plástico e minerais não metálicos.
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Julio Gomes de Almeida é ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp