A opção preferencial pela Venezuela e seu custo para o Brasil
Nas democracias de verdade, o resultado de uma eleição presidencial até pode ser antecipado pelas pesquisas de boca de urna. Mas a palavra final cabe, no final das contas, ao eleitor — que tem liberdade de escolher de acordo com regras claras a quem deseja entregar o governo. Não é essa, infelizmente, a situação na vizinha Venezuela.
No próximo fim de semana, em mais uma dessas eleições nas quais o nome do vencedor é conhecido antes mesmo do início da campanha eleitoral, Hugo Chávez conquistará seu terceiro mandato consecutivo. Detalhe: na Venezuela, o mandato presidencial é de seis anos - e os três somados dariam a ele um total de 18 anos de poder.
Chávez, como se sabe, tem a saúde debilitada por um câncer agressivo e corre o sério risco de não chegar ao fim do novo mandato. Sua eventual saída de cena poderá abrir uma disputa política feroz e provavelmente apressará a derrocada do arranjo "bolivariano" de poder.
Tratada por muita gente como um evento secundário, a eleição na Venezuela é um evento de alta relevância para a economia brasileira e para o equilíbrio regional.
Não é segredo que Chávez mantém com o governo brasileiro uma relação que ultrapassa os limites da afinidade política desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
No passado, quando o preço do petróleo estava nas alturas, a Venezuela - que é um grande exportador - tinha dinheiro de sobra e era a parte forte da parceria. Àquela altura, Chávez falava grosso e sentia-se à vontade para dar palpite nos assuntos internos do Brasil.
Com o preço do óleo em queda e as despesas na direção oposta, a Venezuela perdeu o fôlego, enquanto a economia brasileira decolou. Os pesos se inverteram e até a Refinaria Abreu e Lima, que os dois países deveriam construir em conjunto, em Pernambuco, passou a ser bancada apenas pelo Brasil.
Recentemente, Brasília apoiou a decisão que tirou o Paraguai do Mercosul e, com isso, abriu espaço para a Venezuela no Acordo Aduaneiro. Para Chávez, foi um presente e tanto.
A opção preferencial pela Venezuela tem um preço. Ao estender a mão para Chávez de forma tão ostensiva, o Brasil faz uma escolha que o afasta, por exemplo, da Colômbia e do Peru. Esses dois países, que têm muitas diferenças com Caracas, além de apresentar taxas de crescimento mais expressivas do que as da Venezuela, têm conseguindo se modernizar de forma mais acelerada.
Além disso, existe a questão com o Paraguai - que deveria ser tratado como aliado preferencial pelo Brasil. Nem tanto pelo que pode oferecer, mas pelos problemas que é capaz de causar.
Como se vê, a eleição na Venezuela é mais importante do que parece. Opções ideológicas à parte, talvez fosse melhor para o povo brasileiro se o governo desse aos outros países um pouco da atenção que dá ao país de Chávez.
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Ricardo Galuppo é publisher do Brasil Econômico