5 anos após pacificar área
violenta do Haiti, Brasil volta a enfrentar gangues
'Dei o 1º tiro', diz oficial brasileiro responsável
pela segurança de Cité Soleil.
Soldados do MS foram encurralados em tiroteio, em agosto, e revidaram.
Soldados do MS foram encurralados em tiroteio, em agosto, e revidaram.
Tahiane
Stochero Do G1,
em Porto Príncipe - a repórter viajou a convite do Ministério da Defesa
Mais de
cinco anos após pacificar Cité Soleil, área considera pela Organização das
Nações Unidas (ONU) como a mais pobre e violenta do Haiti, o Exército
brasileiro voltou, em agosto deste ano, a enfrentar grupos armados. Em um dos
tiroteios, soldados do Mato Grosso do Sul ficaram encurralados e tiveram que
realizar 20 disparos de fuzil, o que não ocorria desde 2007.
Cité
Soleil é reduto de rebeldes que apoiavam o ex-presidente Jean
Bertrand-Aristides, e se tornou conhecida internacionalmente como uma
"fortaleza" onde grupos armados impunham terror à população. Foi a
queda de Aristides, em 2004, durante um princípio de conflito civil, que fez a
ONU criar a missão de paz para estabilizar o país caribenho (chamada de
"Minustah") O Exército brasileiro comanda a Minustah e possui o maior
efetivo - cerca de 1.300 soldados - e é responsável por cuidar de Cité Soleil.
Eu dei o
primeiro tiro. Vi um homem de longe apontando uma arma na minha direção e
depois vi o clarão do disparo dele"
Victor
Faria, capitão do Exército
Entre
2006 e 2007, uma série de operações, comandadas pelo Brasil, prenderam e
mataram vários criminosos. Desde então, a Polícia Nacional Haitiana (PNH)
começou a atuar na região. A situação de relativa tranquilidade acabou entre
junho e agosto de 2013. Diante da indefinição de um cronograma para as
eleições, que devem ser realizadas em 2014 para o Senado e as prefeituras,
grupos armados apoiados por grupos políticos voltaram a se enfrentar em Cité
Soleil, preocupando a ONU.
Os
assassinatos, considerados raros até então, passaram a ser frequentes. Foram de
5 a 10 por semana em uma área de 5 km quadrados. Corpos decapitados, comuns
entre 2004 e 2007, voltaram a ser encontrados nas ruas, e tiros ouvidos todas
as noites pelos 140 soldados brasileiros, que são originários de Mato Grosso do
Sul e estão morando dentro da favela.
Um dos
confrontos ocorreu quando 16 soldados brasileiros ficaram encurralados em
Boston, uma das áreas disputadas pelos criminosos. “Eu dei o primeiro
tiro”, diz o capitão Victor Bernardes Faria, de 32 anos, que comanda a
companhia do Brasil em Cité Soleil.
Ele estava junto com os soldados em uma patrulha à noite quando a troca de tiros entre as gangues começou.
Ele estava junto com os soldados em uma patrulha à noite quando a troca de tiros entre as gangues começou.
“Vi um
homem de longe apontando uma arma na minha direção e depois vi o clarão do
disparo dele”, conta o oficial, que estava com mais 8 soldados em um beco de
uma rua. Mais à frente, na mesma rua, um sargento que comandava o restante do
grupo também foi alvo de tiros e revidou.
O comandante lembra ter orientado o subordinado a não avançar, pois os bandidos estavam logo a frente e, se seus soldados saíssem do local onde estavam abrigados, estariam em perigo.
Faria pediu apoio de blindados dos Fuzileiros Navais e do Destacamento de Operações de Paz (DOPaz), a tropa de elite que o Exército possui no Haiti para ações de risco, para resgatar os soldados encurralados.
O comandante lembra ter orientado o subordinado a não avançar, pois os bandidos estavam logo a frente e, se seus soldados saíssem do local onde estavam abrigados, estariam em perigo.
Faria pediu apoio de blindados dos Fuzileiros Navais e do Destacamento de Operações de Paz (DOPaz), a tropa de elite que o Exército possui no Haiti para ações de risco, para resgatar os soldados encurralados.
“Por
sorte nenhum dos meus homens ficou ferido. Nossa maior preocupação é com efeito
colateral (feridos ou mortos civis nos confrontos). Mas os soldados foram
treinados e só atiram quando conseguem identificar e ver o alvo (um suspeito)”,
afirma o capitão.
Estes foram os primeiros disparos reais na vida do oficial, que trabalha no 47º Batalhão de Infantaria, em Coxim, no Mato Grosso do Sul. Casado e sem filhos, Faria acredita que os disparos não foram direcionados contra a tropa do Brasil, mas sim, de um confronto entre os bandidos.
Ao contrário de 2007, quando a ONU autorizava o Exército a ter ações pró-ativas e atacar as gangues, hoje esta responsabilidade é da polícia haitiana. O Brasil só dá o apoio necessário. A ONU fez uma investigação sobre o caso e, segundo o capitão, encontrou cartuchos de fuzis e pistolas no local do confronto, tanto usados pelo Exército brasileiro quanto pelos criminosos.
População diz que violência voltou
“Os brasileiros entraram aqui em Cité Soleil em 2006 e 2007 e pacificaram, prenderam todos os bandidos. Antes a violência era ruim, os criminosos atiravam todas as noites, a gente não podia sair de casa. Os brasileiros acabaram com aquilo. Agora que os brasileiros passaram para nossa polícia agir, a situação voltou a piorar. Todos os dias os bandidos atiram aqui”, diz o aposentado Merat Jean, de 57 anos, que mora em Boston, área disputada por gangues.
Estes foram os primeiros disparos reais na vida do oficial, que trabalha no 47º Batalhão de Infantaria, em Coxim, no Mato Grosso do Sul. Casado e sem filhos, Faria acredita que os disparos não foram direcionados contra a tropa do Brasil, mas sim, de um confronto entre os bandidos.
Ao contrário de 2007, quando a ONU autorizava o Exército a ter ações pró-ativas e atacar as gangues, hoje esta responsabilidade é da polícia haitiana. O Brasil só dá o apoio necessário. A ONU fez uma investigação sobre o caso e, segundo o capitão, encontrou cartuchos de fuzis e pistolas no local do confronto, tanto usados pelo Exército brasileiro quanto pelos criminosos.
População diz que violência voltou
“Os brasileiros entraram aqui em Cité Soleil em 2006 e 2007 e pacificaram, prenderam todos os bandidos. Antes a violência era ruim, os criminosos atiravam todas as noites, a gente não podia sair de casa. Os brasileiros acabaram com aquilo. Agora que os brasileiros passaram para nossa polícia agir, a situação voltou a piorar. Todos os dias os bandidos atiram aqui”, diz o aposentado Merat Jean, de 57 anos, que mora em Boston, área disputada por gangues.
Para poder patrulhar a região à noite, o Exército colocou em postes lâmpadas que são alimentadas por energia solar. O país não possui um sistema de distribuição de energia elétrica e boa parte da capital, Porto Príncipe, fica às escuras à noite.
A tropa
brasileira é chamada diariamente para atender casos de brigas - algumas acabam
em morte ou ferimentos graves, provocados por pedras e facas. "A população
ainda não confia na PNH. O efetivo deles aqui é pequeno, são 6 a 8 policiais
por dia, um carro e eles não fazem patrulhamento nas ruas. As pessoas confiam
nos brasileiros para passar informações, mesmo a base da polícia sendo aqui do
meu lado", diz o capitão.
"Mas
agora a missão mudou e minhas tropas não podem atacar os bandidos, sou a
terceira opção. Temos sempre que deixar a polícia haitiana e a polícia da ONU
atuarem primeiro", acrescenta ele.
A
previsão da ONU, conforme o comandante da Minustah, general brasileiro Edson
Pujol, é que a missão chegue a cerca de 3.300 militares em 2016. Os soldados
brasileiros devem ser os últimos a deixar a missão, que conta com tropas de 19
países.
"Estamos aqui basicamente para ajudar a PNH a manter um ambiente seguro para que as organizações tanto internas quanto externacionais possam trabalhar. Acho difícil chegar em 2016 e tirar toda a tropa, isso vai ser avaliado anualmente. Vai depender das condições do país de se autogerenciar. No caso da segurança, em especial as condições da polícia de assumir as responsabilidades", aponta.
"Estamos aqui basicamente para ajudar a PNH a manter um ambiente seguro para que as organizações tanto internas quanto externacionais possam trabalhar. Acho difícil chegar em 2016 e tirar toda a tropa, isso vai ser avaliado anualmente. Vai depender das condições do país de se autogerenciar. No caso da segurança, em especial as condições da polícia de assumir as responsabilidades", aponta.