Ponto
Final - Sonho de poder até 2022
06/12/13 10:45 | Octávio Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)
Graças ao ex-presidente Lula, o projeto de
hegemonia do PT tornou-se público
A ambição do partido é permanecer no comando do
país por 20 anos, até 2022. Em seu discurso de agradecimento do título de
doutor honoris causa que recebeu da Universidade Federal do ABC, o carismático
ex-metalúrgico deixou clara a estratégia, quando se referiu às realizações dos
governos petistas. "Eu já estou pensando no Brasil de 2022, quando a gente
completar 200 anos de Independência e fizer uma comparação do que era este
Brasil.
Aí vai ser duro, Dilminha. Vai ser duro quando a gente
falar do Brasil que nós deixamos em 2022 e o que pegamos em 2002". A
presidente Dilma Rousseff, ao lado, não disse sim, nem não. Apenas sorriu
diante da profecia de seu padrinho político.
Não foi por acaso que Lula escolheu São Bernardo do
Campos para lançar o desafio. Lá nasceu o PT e teve início a trajetória
política do próprio Lula. Palanque ideal, portanto, para o anúncio. Resta saber
se o destino vai continuar a sorrir para o filho de dona Lindu. O tucano Sérgio
Motta, que foi ministro das Comunicações de Fernando Henrique Cardoso e
defensor apaixonado das privatizações, tinha um sonho parecido em relação ao
PSDB.
Quando foi aprovada a emenda que permitiu a
reeleição de FHC, Serjão cantou aos quatro ventos que os tucanos iriam governar
o Brasil por duas décadas. Sua aposta não se concretizou. Foi abortada
exatamente pela ascensão de Lula. Primeiro, ele derrotou José Serra, depois
repetiu a dose com Alckmin e, por último, carregou no colo a candidatura de
Dilma.
Sua prioridade, agora, é reeleger sua ex-ministra.
Lula está participando ativamente das composições nos Estados, preocupado em
aplainar o caminho para o pleito de 2014. E já anunciou que, na campanha
oficial, vai se dedicar especialmente ao Nordeste e ao Norte, para construir
naquelas regiões um colchão de votos confortável, capaz de superar qualquer
surpresa no Sudeste.
Certos de que a reeleição está no papo, os
assessores de Lula já trabalham pela volta do chefe em 2018. O ex-presidente,
até agora, acompanhava essas articulações à distância. Em, entrevista ao Brasil
Econômico, no fim de setembro, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria
Geral da Presidência, disse que ainda estava convencendo o amigo a tentar o
terceiro mandato. Seu principal argumento é que essa é a vontade do povo que se
identifica com o ex-presidente.
Se Lula resistia à ideia, não resiste mais. Prova
disso foi sua visão sobre 2022. Ao fim do segundo mandato de Dilma, o PT
venceria a eleição com líder maior. Lula voltaria a vestir a faixa presidencial
em janeiro de 2019, aos 73 anos de idade. Concluiria o mandato aos 77 anos. E,
como disse em São Bernardo, dará por encerrada a passagem do PT pelo Palácio do
Planalto. Talvez o ex-presidente seja defensor da tese de que não é bom para a
democracia que uma corrente política se perpetue no poder. Vinte anos seria
tempo suficiente para deixar a marca na história.
Mas é melhor o PT ir devagar com o andor. A
economia, a continuar assim, pode retirar votos preciosos de Dilma. Há quem
recomende, como o jornal inglês Financial Times, que o governo mude o rumo da
política econômica para não se arrepender mais tarde. Um pouco de exagero, sem
dúvida. Mas, em português corrente, não é bom dar sopa para o azar.