Filha de motorista de JK refuta assassinato
Eles não se conformam, precisam de um corpo e de um assassino
para "fabricar" suas teorias conspiratórias.
Maria de Lourdes Ribeiro diz que não vai permitir nova exumação
do pai, envolvido em acidente suspeito do ex-presidente
12 de dezembro
de 2013
PEDRO VENCESLAU
- O Estado de S.Paulo
A advogada Maria de Lourdes Ribeiro,
filha de Geraldo Ribeiro, motorista que dirigia o carro do ex-presidente
Juscelino Kubitschek quando ele morreu na Rodovia Presidente Dutra em agosto de
1976, disse ontem que não permitirá a terceira exumação dos restos mortais de
seu pai.
O pedido para um novo exame foi feito
pela Comissão Municipal da Verdade de São Paulo à Justiça de Minas Gerais, onde
Ribeiro foi sepultado. O pedido foi acatado, mas condicionado à autorização da
família. "Foi um acidente. Essa tese do tiro é muito primária para mim,
que sou advogada. Não quero que entrem mais na vida do meu pai. Estão
invadindo a nossa privacidade", disse Maria de Lourdes ao Estado.
Anteontem, a comissão apresentou um
relatório com 92 indícios, segundo ela, de que o ex-presidente teria sido
assassinado - o principal deles seria que Ribeiro teria levado um tiro na
cabeça antes da colisão do automóvel em que estavam. A comissão afirmou ainda
que o motorista e JK foram vítimas de uma conspiração.
Ribeiro foi periciado pela primeira
vez em 1976, após o acidente. Em 1996, o ex-secretário particular de JK,
Serafim Jardim, conseguiu liminar para uma nova exumação. Concluiu-se na época
que havia um fragmento metálico no crânio de Ribeiro, mas que seria um prego do
caixão. "Se não provarem que ele foi assassinado, eu posso entrar com uma
ação por danos morais. Isso está sendo um transtorno enorme para mim. Estou
sem dormir", diz Maria de Lourdes.
A advogada afirma que nunca foi
chamada para falar à Comissão da Verdade. "Se eles pegarem os restos do
meu pai e levarem para São Paulo, quem garante que não vão colocar um tiro
lá?", questiona.
Para ela, apenas escritores e
políticos têm interesse na hipótese de assassinato. "Seria mais
confortável para mim se eu comungasse com essa tese. Eu até poderia pedir
indenização do governo, mas meu pai me ensinou que a mentira prende e a verdade
solta. Meu pai não levou tiro", ressalta. "A Maria Estela
(Kubitschek Lopes, filha adotiva de JK), também não quer mais discutir esse
assunto. Ela acha que desígnios de Deus não se discutem. Ela me escreveu
dizendo isso."
Perito. Presidente
da comissão, o vereador Gilberto Natalini (PV) diz que Maria de Lourdes não foi
encontrada para receber o convite. "(Na exumação de 1996) o perito
criminal Alberto Carlos de Minas viu que havia um rombo na cabeça do motorista,
mas não deixaram que ele fotografasse. Respeito muito o sofrimento dela, mas
não abrimos mão do relatório."
Segundo o ex-secretário particular de
JK, Serafim Jardim, as perícias de 1976 e de 1996 estavam erradas. "Podiam
ter guardado o metal que estava na cabeça do Geraldo e que disseram ser um
prego, mas não fizeram isso. A Maria de Lourdes está falando bobagem",
afirma.
A Comissão da Verdade pediu, com base
no relatório, que o governo federal, o STF e o Congresso retifiquem a causa da
morte de JK e reconheçam que ele foi assassinado.