Corrupção na Petrobras tem efeito direto sobre o PIB brasileiro
Paralisação total no plano de investimentos da estatal reduziria em até dois pontos percentuais o crescimento do país em 2015. Eventos negativos terão efeito cascata em setores da economia
Sonia Filgueiras sonia.filgueiras@brasileconomico.com.br
Brasília - Se o plano de investimentos da Petrobras fosse totalmente paralisado em 2015 por causa das denúncias e investigações que a estatal vem enfrentando, isso poderia significar uma redução de até dois pontos percentuais no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) anual brasileiro. A empresa, com quase 90 mil funcionários diretos, 134 plataformas e contratos com centenas de fornecedores de vários tipos, é responsável por cerca de 10% do PIB brasileiro. Por isso, qualquer evento com impacto significativo nos planos de expansão ou na operação da estatal tende a ter consequências em cascata sobre alguns setores da economia brasileira.
“Mesmo que a empresa vença esta etapa relacionada aos impedimentos para a publicação do balanço, os custos futuros de captação de recursos provavelmente vão ficar mais caros”, diz o professor do Insper e diretor da M2M Escola de Negócios, Eric Barreto, autor dos cálculos que espelham a importância da companhia para a economia brasileira, com base em dados de 2013.
Barreto aponta que, por conta do escândalo envolvendo a estatal, os preços de bônus da Petrobras negociados no mercado internacional já sofreram queda, o que afeta captações futuras. “No caso da Petrobras, vejo um impacto maior pelo lado dos investimentos. É uma empresa de capital aberto. As denúncias e investigações em curso tornam as captações para investimentos inviáveis”, avalia Maurício Canêdo, pesquisador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV-RJ). “Se fosse captar, seria a que custo? Certamente, proibitivo.”
Canêdo ressalva que o impacto seria apenas de curto prazo, enquanto a exposição da empresa às denúncias e à paralisação de contratos durasse. “Quanto mais longo for este tempo, maior será o impacto, mas ele é difícil de mensurar”, explica. No entanto, o economista vê benefícios no médio prazo. “É algo que tem que ser feito”, diz ele, referindo-se às investigações. “Mas se isso de alguma forma contribuir para melhores práticas na gestão da Petrobras e menor ingerência política na empresa no futuro, certamente os custos atuais serão compensados com resultados melhores no médio prazo”, afirma. Segundo ele, as chances da melhora futura na governança são maiores porque a empresa tem capital aberto e compromissos de transparência para cumprir.
O economista do Ibre acrescenta que a ingerência política vinha afetando a empresa mesmo antes da eclosão das denúncias. “O represamento do preço dos combustíveis já vinha impondo um aperto à estatal”, diz ele. “É evidente que há um problema. O lucro da empresa caiu à metade nos últimos quatro anos”, lembra.
As investigações podem atingir também outros contratos, além dos da Petrobras. Fornecedores da estatal que também prestam serviços ao governo federal correm o risco de serem declarados inidôneos e, com isso, ficarem proibidos de trabalhar para o setor público federal. O vice-presidente da República, Michel Temer, afirmou ontem que se trata de uma questão “sob análise” e ponderou que é preciso separar a questão da prisão dos empresários no âmbito da operação Lava Jato, das obras que foram contratadas pelo governo federal.
“O que eu penso é que deve haver ou uma repactuação para eliminar os eventuais exageros... e o segundo ponto é que a inidoneidade se dê em relação ao futuro, e não em relação aos contratos existentes”, disse Temer, após participar de um evento sobre governança na gestão pública, em Brasília.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, diz que o impacto sobre a economia dependerá de quanto o plano de investimentos da empresa for afetado. Uma redução no ritmo de investimentos da estatal tenderia a impactar também o nível de atividade da cadeia doméstica, por causa da política adotada pela empresa de incentivo ao conteúdo nacional. “Mas considero a investigação positiva. Há um processo de limpeza na empresa e isso é bom para o futuro”, diz.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, atribui à Operação Lava Jato grande parte da queda de 22,4% nas ações ordinárias da Petrobras desde 27 de outubro até ontem. “Também se percebe uma queda no volume negociado”, diz ele. Para Agostini, há também um prejuízo à imagem do Estado brasileiro, com riscos para a captação de investimentos em outras áreas no futuro. “As denúncias podem causar uma insegurança para investidores estrangeiros quanto às relações com estatais e com o governo brasileiro. É um risco potencial, por exemplo, na atração de investimentos nos projetos de infraestrutura logística”, diz. Agostini também vê prejuízos ao mercado de capitais. “O investidor deixa não apenas as ações da Petrobras, mas de outras empresas também”, diz ele.
Segundo Eric Barreto, os recursos que a Petrobras tem em caixa — cerca de R$ 60 bilhões — são suficientes para manter os investimentos até o final do primeiro trimestre de 2015, mas se o impedimento na publicação do balanço ultrapassar 31 de dezembro, a estatal corre o risco de ter prejuízos antes disso.