Maré vazante da globalização
Uma política de atração de IED produtivo poderia permitir que enfrentássemos com mais tranquilidade uma maré global que não estará para peixe por muito tempo
Rogerio Studart rogerio.studart@brasileconomico.com.br
Para aqueles que ainda duvidam da maré vazante da economia global, recomendo a leitura do relatório World Economic Outlook 2014 (WEO) do Fundo Monetário Internacional (FMI), que pinta para os próximos anos um quadro de crescimento medíocre e com riscos elevados. Nesse ritmo, dificilmente o Brasil poderá contar com uma retomada forte do comércio mundial. Mas há um aspecto do momento atual que é favorável para as economias emergentes: um excesso de capital a ser investido e uma relativa escassez de economias com retorno esperado elevado. O Brasil pode, e deve, beneficiar-se disso para enfrentar esta maré vazante da globalização.
O WEO 2014 resume assim o estado da economia global: “O ritmo da recuperação é decepcionante e desequilibrado, com um crescimento global projetado de 3,3% em 2014. Nas economias avançadas, as heranças do período de boom e da crise de 2008-2009 que o sucedeu projeta uma sombra, enquanto diversas economias emergentes estão se ajustando a um crescimento de longo prazo menor”. O mesmo relatório confirma o que a Organização Mundial do Comércio (OMC) vem reafirmando no último ano: o comércio está andando de lado, com a perda de dinâmica da demanda da Ásia emergente e com a fragilidade do crescimento da zona do euro. E, de quebra, lança um alerta, já há muito ressaltado pelas Nações Unidas (tanto a Cepal, quanto a Unctad): mesmo que o total de Investimento Estrangeiro Direto (IED) tenha finalmente recuperado os volumes pré-crise, a maior parte deles se concentra em aquisições de títulos financeiros, enquanto os investimentos em capacidade produtiva e fusões e aquisições continuam em baixa.
Outro relatório importante para quem está observando a maré vazante global é aquele recentemente encomendado pela DHL, gigante do mercado postal, a dois professores (Pankaj Ghemawat da New York Univerity School of Business e Steven A. Altman, da IESE Business School). Utilizando-se de diversos indicadores de interconectivade (dentro os quais comércio e fluxos de capital), o DHL Global Connectedness Index de 2014 conclui que, após a crise de 2009, “a conectividade global começou a se recuperar em 2013 (porém) entrou em declínio de novo”. Nada parece indicar que o processo de globalização não possa reverter-se nos próximos anos.
E como ficamos neste quadro de maré vazante?
Bem, o Brasil ganhou muito na maré cheia da globalização. Inicialmente os fluxos para as economias emergentes (nos anos 90) permitiram o crescimento das reservas internacionais, que foram absolutamente essenciais para o sucesso do Plano Real. Nos anos 2000, o crescimento da demanda chinesa por commodities primárias foi fundamental para abrir o espaço para o mais profundo processo de inclusão socioeconômica no Brasil. Graças a essa última fase da globalização, mas especialmente devido ao compromisso da sociedade e seu governo em utilizar essa maré cheia em prol de um projeto de inclusão socioeconômica, temos um país bem mais justo, e um mercado doméstico bem mais robusto.
A reversão da maré, entretanto, nos pegou num momento de alta da demanda doméstica, câmbio sobrevalorizado e juros elevados. E tem gerado o retrocesso do mercado pelas nossas exportações, além de aumentar as pressões de competidores pelos nossos mercados domésticos. E, para evitarmos ser dragados por esta maré, que não está para peixe, precisamos urgentemente aumentar os investimentos em infraestrutura, logística e renovação do parque produtivo (especialmente o manufatureiro). Tudo isso quando encontramos restrições à expansão do investimento público e alta incerteza — o que cria hesitação por parte do investidor produtivo privado (inclusive pelas condições domésticas de financiamento de longo prazo). Neste quadro, o ideal seria que procurássemos mais financiamento e especialmente parceiros estrangeiros, para conquistarmos o tão requerido salto de investimento.
Aqui temos uma janela de oportunidades nesta globalização em maré vazante. Afinal, continuamos entre as sete economias que mais atraem fluxos de capitais (na ordem de US$ 63 bilhões). Mesmo com todas as incertezas, ainda em 2014 gozamos do quarto lugar entre as economias que os investidores estrangeiros consideram possuir as melhores perspectivas de longo prazo — como indica um respeitado relatório internacional sobre confiança do investidor estrangeiro (o A.T. Kearney Foreign Direct Investment Confidence Index . Isto quer dizer que, mantendo-se os fundamentos econômicos, e enfrentando-se alguns dos problemas considerados estruturais para esses investidores (por exemplo, burocracia, segurança jurídica) e investindo-se na melhora da oferta e da qualidade da mão de obra qualificada, podemos transformar este IED em fonte promissora para a necessária expansão do investimento, e de quebra ainda poderíamos aumentar a parceria entre produtores locais e estrangeiros, no sentido de acelerar ganhos de produtividade e competitividade. No todo, uma política de atração de IED produtivo poderia permitir que enfrentássemos com mais tranquilidade uma maré global que não estará para peixe por muito tempo. Não será fácil, mas é factível e tem de ser feito.
Outro relatório importante para quem está observando a maré vazante global é aquele recentemente encomendado pela DHL, gigante do mercado postal, a dois professores (Pankaj Ghemawat da New York Univerity School of Business e Steven A. Altman, da IESE Business School). Utilizando-se de diversos indicadores de interconectivade (dentro os quais comércio e fluxos de capital), o DHL Global Connectedness Index de 2014 conclui que, após a crise de 2009, “a conectividade global começou a se recuperar em 2013 (porém) entrou em declínio de novo”. Nada parece indicar que o processo de globalização não possa reverter-se nos próximos anos.
E como ficamos neste quadro de maré vazante?
Bem, o Brasil ganhou muito na maré cheia da globalização. Inicialmente os fluxos para as economias emergentes (nos anos 90) permitiram o crescimento das reservas internacionais, que foram absolutamente essenciais para o sucesso do Plano Real. Nos anos 2000, o crescimento da demanda chinesa por commodities primárias foi fundamental para abrir o espaço para o mais profundo processo de inclusão socioeconômica no Brasil. Graças a essa última fase da globalização, mas especialmente devido ao compromisso da sociedade e seu governo em utilizar essa maré cheia em prol de um projeto de inclusão socioeconômica, temos um país bem mais justo, e um mercado doméstico bem mais robusto.
A reversão da maré, entretanto, nos pegou num momento de alta da demanda doméstica, câmbio sobrevalorizado e juros elevados. E tem gerado o retrocesso do mercado pelas nossas exportações, além de aumentar as pressões de competidores pelos nossos mercados domésticos. E, para evitarmos ser dragados por esta maré, que não está para peixe, precisamos urgentemente aumentar os investimentos em infraestrutura, logística e renovação do parque produtivo (especialmente o manufatureiro). Tudo isso quando encontramos restrições à expansão do investimento público e alta incerteza — o que cria hesitação por parte do investidor produtivo privado (inclusive pelas condições domésticas de financiamento de longo prazo). Neste quadro, o ideal seria que procurássemos mais financiamento e especialmente parceiros estrangeiros, para conquistarmos o tão requerido salto de investimento.
Aqui temos uma janela de oportunidades nesta globalização em maré vazante. Afinal, continuamos entre as sete economias que mais atraem fluxos de capitais (na ordem de US$ 63 bilhões). Mesmo com todas as incertezas, ainda em 2014 gozamos do quarto lugar entre as economias que os investidores estrangeiros consideram possuir as melhores perspectivas de longo prazo — como indica um respeitado relatório internacional sobre confiança do investidor estrangeiro (o A.T. Kearney Foreign Direct Investment Confidence Index . Isto quer dizer que, mantendo-se os fundamentos econômicos, e enfrentando-se alguns dos problemas considerados estruturais para esses investidores (por exemplo, burocracia, segurança jurídica) e investindo-se na melhora da oferta e da qualidade da mão de obra qualificada, podemos transformar este IED em fonte promissora para a necessária expansão do investimento, e de quebra ainda poderíamos aumentar a parceria entre produtores locais e estrangeiros, no sentido de acelerar ganhos de produtividade e competitividade. No todo, uma política de atração de IED produtivo poderia permitir que enfrentássemos com mais tranquilidade uma maré global que não estará para peixe por muito tempo. Não será fácil, mas é factível e tem de ser feito.