Honda inaugura parque eólico de autogeração
Projeto em Xangri-Lá vai atender a 100% da demanda da fábrica de veículos em Sumaré e reduzir em 30% as emissões de CO2
Patricia Büll pbull@brasileconomico.com.br
Xangri-Lá, Rio Grande do Sul - A Honda Energy, subsidiária da Honda Automóveis do Brasil, inaugurou ontem em Xangri-Lá (RS), um parque eólico que irá suprir toda a demanda de energia elétrica da fábrica de automóveis da montadora em Sumaré (SP). Com investimentos de R$ 100 milhões, 75% deles destinados aos equipamentos, o projeto é o primeiro parque eólico da companhia japonesa no mundo e, no Brasil, é o primeiro no setor automotivo e também o primeiro de uma empresa para autogeração.
As gigantescas torres de aço dão um ar futurista à pacata cidade do litoral gaúcho, que não chega a 14 mil habitantes. Os nove aerogeradores são capazes de gerar 3 megawatts (MW) de energia cada, com capacidade total de 27MW, ou 95 mil MW/ano, suficiente para abastecer uma cidade de 35 mil habitantes, ou duas Xangri-Lá.
O projeto levou uma nova dinâmica econômica para a cidade, cuja economia gira em torno da construção civil, movimentando o comércio e incentivando o empreendedorismo para prestação de serviços. Apesar disso, o prefeito de Xangri-Lá, Cilon Rodrigues da Silveira, afirmou que esperava mais em relação ao uso da mão de obra local, mas reconheceu que a falta de especialização dificultou o processo. “Mas a parceria entre a Honda e a cidade é de uma importância tremenda, pois a empresa traz junto o desenvolvimento de outros setores. Além disso, a companhia se comprometeu em desenvolver projetos que aproximem a comunidade da empresa, ajudando no desenvolvimento social”, disse. Segundo o prefeito, o projeto vai gerar cerca de R$ 200 mil por ano em ICMS.
Com o pleno funcionamento do parque, a Honda deixará de emitir 2,2 mil toneladas de gás carbônico ( CO2) por ano, o que representa 30% do total gerado pela fábrica de automóveis de Sumaré. Esse, aliás, é o motivo principal apontado pelo presidente da Honda South America, Issao Mizoguchi, para a adoção do projeto.
Em 2011, a empresa estabeleceu a meta de reduzir em 30%, até 2020, as emissões de CO2 de seus produtos e em seus processos produtivos, em comparação com os níveis obtidos em 2000. Assim, o parque eólico é uma das várias iniciativas que a empresa vem adotando para que as metas sejam atingidas no Brasil. “O investimento aqui não é por questões financeiras, mas para atender ao nosso compromisso de sustentabilidade e redução de emissão de CO2 no meio ambiente”, disse o presidente da companhia.
Ainda assim, a autogeração vai gerar uma economia entre 40% e 45% em relação ao que a companhia paga pelo contrato de fornecimento com a CPFL em Sumaré, segundo o presidente da Honda Energy, Carlos Eigi Miyakuchi. Esse porcentual já leva em conta o que a companhia pagará para utilizar o Sistema Integrado Nacional (SIN), através de uma subestação da Eletrosul em Xangri-Lá.
Miyakuchi salientou que a geração de energia será essencialmente para abastecer a fábrica de Sumaré, que consome cerca de 70 mil MW/ano. Mas não descartou a possibilidade de venda da energia excedente, tampouco de projetos que abasteçam também as fábrica de motocicletas em Manaus e a nova unidade de veículos em Itirapina (SP). “Meu sonho é que as três fábricas fossem abastecidas com energia eólica, mas ainda não há nada de concreto”, disse .
O parque eólico de Xangri-Lá é o segundo no litoral do Rio Grande do Sul, e, na opinião do governador Tarso Genro (PT), demonstra a confiança que as empresas têm no estado e no país: “Só se faz um investimento desse porte quando se confia no governo.”
Genro destacou o protagonismo do estado na produção de energia eólica e que esses projetos levam investimento e emprego para regiões consideradas deprimidas.
Presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeolica), Elbia Melo salientou a importância de um grande consumidor de energia tornar-se gerador, o que deve abrir caminhos para que outras empresas sigam o exemplo. Ela lembrou que o Brasil é, hoje, o segundo país mais atraente para novos investimentos em fontes renováveis, atrás apenas da China. E o terceiro em investimentos em energia eólica. Sobre o Rio Grande do Sul, disse que o estado é o terceiro em capacidade instalada. “O país tem capacidade de investir em energia limpa de forma competitiva”, afirmou.