terça-feira, 14 de outubro de 2014

Acredite quem quiser
O Instituto Sensus, que faz pesquisas de opinião para a revista IstoÉ, não tem a mesma credibilidade do Datafolha
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
E também não tem a tradição do Ibope. Isso lhe permite maior ousadia. A exemplo do Vox Populi, costuma divulgar dados que destoam da tendência mais cautelosa de seus concorrentes mais fortes. E, no caso de erro, não há problema. Basta corrigir a pesquisa quando a ida às urnas estiver mais próxima. Mas, independentemente da autoria, as pesquisas sempre têm impacto e chamam a atenção do mercado financeiro.
Foi o que aconteceu com o surpreendente levantamento divulgado pelo Sensus no fim de semana. Em suas contas, novamente alvo de controvérsia, o instituto apontou larga vantagem de Aécio Neves sobre Dilma Rousseff: 58,8% dos votos válidos para o tucano e apenas 41,2% para a presidente. Uma incrível diferença de 17,6 pontos percentuais.
Para Ricardo Guedes, diretor do Sensus, o espanto não se justifica. Seu instituto ouviu 200 pessoas em 24 estados e 136 municípios e foi o primeiro a captar os efeitos das denúncias feitas pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, sobre o esquema de corrupção na Petrobras. “Além do crescimento da candidatura de Aécio Neves, observa-se um forte aumento da rejeição de Dilma Rousseff”, afirmou Guedes, em entrevista à revista da Editora Três.
O índice de rejeição de Dilma subiu para 46,3%, enquanto o de Aécio Neves é de apenas 29,2%. Considerando-se o total de votos, Aécio tem 52,4%, Dilma ficou com 36,7% e indecisos, brancos e nulos somaram 11%. A margem de erro é de 2,2%, com índice de confiança de 95%, igualando-se, portanto, aos de Ibope e Datafolha.
Indiferente à celeuma criada, Guedes mostra absoluta convicção no resultado: “O tamanho da rejeição à candidatura de Dilma torna praticamente impossível a reeleição da presidente”. Sua conclusão parece precipitada, quando se sabe que Ibope e Datafolha, na semana passada, apontaram empate técnico, com pequena vantagem de Aécio, 51% contra 49% de Dilma. É difícil acreditar que o enorme fosso revelado agora tenha sido aberto em pouco mais de dois dias, no rastro do noticiário negativo sobre a Petrobras.
As notícias são contundentes, mas deixam revoltadas pessoas que já haviam decidido não votar em Dilma. Para a maioria dos analistas, a faixa de eleitores que permanece fiel ao PT está mais preocupada com a preservação dos programas sociais. E tende a concordar que as denúncias nesta hora têm fundo eleitoreiro.
Dilma pode ter perdido votos nos últimos dias e novas pesquisas devem apontar nesta direção. Certamente, porém, a presidente não está a 17 pontos de Aécio. Mas o mercado financeiro gosta de apostas arriscadas e recebeu os dados do Sensus como retrato fiel do momento eleitoral. Críticos da política econômica do atual governo e torcedores ostensivos do tucano, os responsáveis pelos negócios de bancos e corretoras fizeram festa diante da possibilidade de vitória de Aécio.
As ações de Petrobras subiram mais de 10% e a Bolsa fechou em alta de 4,7%. O dólar caiu 1,27%, cotado a R$ 2,39. O mercado não esconde as afinidades eletivas com o ex-presidente do BC Armínio Fraga e torce para que ele assuma o posto de Guido Mantega em janeiro. Mas está comemorando antes da hora. Muita água ainda vai rolar até o dia 26 de outubro. E haverá tempo de sobra para as pesquisas se ajustarem.