Um Armínio para Dilma
Assim que foi divulgada a pesquisa de boca de urna no domingo, muita gente passou a especular sobre qual seria a reação do mercado financeiro na abertura dos negócios no dia seguinte
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Sabia-se que haveria comemoração pela passagem de Aécio Neves para o segundo turno no lugar de Marina Silva, mas havia dúvidas sobre a exata dimensão do impacto na Bolsa e no câmbio. As expectativas mais otimistas se confirmaram. O dólar comercial operou em queda durante todo o dia, a cotação chegou a cair 3,5% e fechou em queda de 1,4%, a R$ 2,42. Na Bolsa, as ações da Petrobras dispararam quase 12% e o Ibovespa, depois de subir 7%, fechou em alta de 4,7%, em 57,1 mil pontos. Explicação mais do que óbvia para o movimento altista: os investidores animaram-se com a possibilidade de Aécio ganhar as eleições para Presidente.
A preferência dos investidores pelo candidato do PSDB não é novidade. Se já existia simpatia pela ortodoxia econômica dos tucanos (praticada nos dois mandatos de Fernando Henrique), ela ganhou forma definitiva quando Aécio anunciou que, se eleito, seu ministro da Fazenda será o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Professor da PUC-Rio, sócio-fundador da Gávea Investimentos e diretor-gerente por seis anos da gestora de recursos do bilionário George Soros, Fraga é o homem certo no lugar certo, na visão do mercado. Segundo reportagem recente do jornal britânico “Financial Times”, ele é o queridinho das mesas de operação. E agora, na previsão mordaz de um comentarista, faltariam apenas sete pontos percentuais para Fraga assumir a Fazenda, tomando por base as simulações de segundo turno divulgadas na tarde de sábado.
Desde sábado o cenário mudou bastante, a favor das pretensões de Aécio Neves. No balanço final do primeiro turno, a presidente, com 41,59% dos votos úteis, ficou bem distante do que apontavam as pesquisas do Ibope e do Datafolha. E mais: Dilma perdeu 4,4 milhões de votos em relação ao seu desempenho em 2010. Já Aécio, com 33,55%, foi muito além dos prognósticos e superou a votação de José Serra em 1,7%, segundo a contagem do TSE. Dilma só não caiu mais graças ao colchão de votos que tem no Norte/Nordeste, mas corre o risco de perder o confronto direto se repetir o mau desempenho em São Paulo. Aécio, ao contrário, está em ritmo de alta e, se conquistar o apoio de Marina, pode avançar no Nordeste (em Pernambuco, por exemplo, teve apenas 5% dos votos).
Ainda não há novas pesquisas sobre o segundo turno, mas as apostas estão sendo feitas. O momento favorece Aécio, que dividirá com Dilma o tempo no rádio e na TV – cada um com dez minutos por 15 dias. O crescimento baixo e a inflação no teto certamente serão temas em discussão. Mesmo que não queira, a presidente sabe que será pressionada a apontar as linhas gerais da futura política econômica. Armínio anunciou que pretende levar a inflação para o centro da meta de 4,5% e, depois, reduzir a meta para 3%. A notícia caiu como mel para abelha na Bolsa. O que fará Dilma? Acredita-se que, para não deixar o flanco aberto para Aécio, ela poderá antecipar seu titular da Fazenda, no caso de reeleição. Também anunciaria um nome ao gosto do mercado financeiro. Quem será?