quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Aécio e o voto feminino

Quando um time de futebol brilha durante o campeonato e perde fôlego nas rodadas finais, costuma-se dizer que “nadou, nadou, mas morreu na praia”

Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Nas atuais eleições para presidente, a considerar a última pesquisa do Datafolha, o senador Aécio Neves está correndo este risco. Ele começou a disputa sem grandes pretensões. Parecia fazer apenas um teste de urnas para 2018. Com a morte de Eduardo Campos e a ascensão meteórica de Marina Silva, chegou se comentar, no próprio PSDB, que ele desistiria da candidatura. Mas o neto de Tancredo insistiu e conseguiu passar para o segundo turno à frente de Marina. Para surpresa geral, ultrapassou Dilma e liderou a disputa até esta semana. Agora, porém, à medida que os indecisos saem de cima do muro, o tucano começa a ficar para trás. Por enquanto, há empate técnico dentro da margem de erro. Mas se a tendência se firmar, o fosso pode aumentar até domingo.
Informam os responsáveis pelo Datafolha que Aécio está perdendo os votos das mulheres no Sudeste – exatamente a faixa de eleitores que formava o maior contingente de indecisos na semana passada. A queda do senador mineiro seria resultado de um flanco aberto pela insistente campanha de desconstrução do PT nas mídias sociais e na campanha de rádio e TV. Em meio ao forte tiroteio entre os dois candidatos, as pesquisas telefônicas instântaneas (trakings) feitas pelos petistas indicaram que houve forte reação ao bate-boca de Aécio com Dilma, no debate do SBT. As telespectadoras não gostaram de ver a presidente ser chamada de “leviana” e “mentirosa” por seu adversário. Consideraram que Aécio foi longe demais em seu ataques. Ele teria sido desrespeitoso.
O PT não pensou duas vezes. Passou a alardear que Aécio não tem consideração com as mulheres. Na internet, está circulando um vídeo que traz diálogos do tucano com William Bonner, do JN, Luciana Genro e Dilma Rousseff sobre as denúncias que envolvem a construção do aeroporto na cidade de Claudio (MG), em terras de seu parente. Ao responder a Bonner, Aécio disse que era uma excelente oportunidade para esclarecer o assunto. Ao rebater pergunta da então candidata do PSOL, ele a chamou de “leviana” com o dedo em riste. No debate do SBT, Dilma retomou a polêmica e também foi chamada de “leviana” pelo tucano. O tratamento ríspido tirou votos de Aécio. Ciente disso, o ex-presidente Lula, em evento na segunda-feira, tratou de pôr lenha na fogueira: “Esse rapaz não teve educação de berço para respeitar as mulheres. E, sobretudo, uma presidente, mãe e avó”. Dilma também se queixou do tom agressivo.
Ninguém ignora que Aécio também foi alvo de ataques violentos durante o segundo turno. Mas o que importa é a impressão do eleitorado feminino. Para parte das mulheres indecisas, o tucano passou dos limites. E, por isso, elas estão optando por Dilma na reta final. Se ficar de braços cruzados, o tucano dificilmente vai estancar a sangria de votos. Em 2002, quando viu a Bolsa derreter e o dólar disparar com medo de sua eleição, Lula, por recomendação de José Dirceu, divulgou uma “Carta aos Brasileiros”, na qual assumiu compromisso com os fundamentos sólidos da economia. Aécio Neves, diante da reação negativa das mulheres, deveria pensar em gesto semelhante. Talvez seja o caso de ele lançar uma “Carta às Brasileiras”. E assim escapar de “morrer na praia”.