Banco Mundial: recessão no
Brasil provoca estagnação da economia na América Latina
Brasil foi
classificado no grupo de ‘baixo crescimento’ da América do Sul. Em 2015, o
Banco Mundial prevê uma queda de 2,6% no PIB real do país. Retração começa a
afetar mercado de trabalho e renda.
A construção civil é um dos setores mais afetados pela desaceleração no
Brasil. Foto: EBC
Em relatório semestral publicado nesta segunda-feira (5), o Banco Mundial chamou atenção para a desaceleração econômica na América
Latina e no Caribe. Segundo o documento, o Brasil será um dos
principais responsáveis pela estagnação do PIB da região prevista para 2015. A
situação é mais grave na América do Sul, onde desde 2011 os índices de
desenvolvimento econômico têm apresentado quedas significativas.
Após uma década de
intenso crescimento (de 2002 a 2011), impulsionada pela elevação dos preços das
commodities, as economias dos países sul-americanos começaram a sofrer os
efeitos da desvalorização das matérias-primas no mercado internacional e da
desaceleração econômica da China. A retração econômica, no entanto, afeta as
nações da região de forma distinta.
Colômbia, Peru e
Uruguai terão uma taxa de crescimento médio de 3% em 2015. O Brasil e o Equador
apresentarão índices negativos, de acordo com o relatório. O PIB real
brasileiro, por exemplo, terá uma queda estimada em 2,6% nesse ano. A recessão
deve continuar em 2016, mas em proporções menores. Junto com a Argentina, as
duas nações foram classificadas no grupo de Baixo Crescimento da América do
Sul.
No Caribe e na
América Central, as projeções são positivas. O Banco Mundial destaca que essa
região cresceu menos durante o aumento dos preços das commodities. Por sua
maior proximidade econômica com os Estados Unidos, os países também teriam
passado por retrações mais duras após a crise global de 2008 e 2009. Agora,
suas economias estão sendo impulsionadas pela recuperação norte-americana,
enquanto as nações sul-americanas continuam mais suscetíveis às oscilações do
mercado chinês.
Mesmo com
perspectivas de crescimento para alguns países, o desempenho negativo do
Brasil, que é a maior economia da América Latina, está provocando a estagnação
econômica da região, de acordo com o relatório.
Mercado de trabalho e renda familiar na América do Sul
Segundo o economista-chefe
do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Augusto de la Torre, a
desaceleração que se anunciava desde 2011 começa a ter consequências concretas
para o mercado de trabalho e para a renda familiar nos países da América do
Sul. “Mais recentemente, estamos observando uma deterioração na qualidade do
emprego, na medida em que os trabalhadores assalariados se tornam autônomos e a
mão de obra se transfere das grandes empresas para outras menores”, afirmou.
O relatório aponta
que, no grupo de Baixo Crescimento, a capacidade de criar um número de vagas
maior que o crescimento do contingente de trabalhadores chegou a zero. Nesses
países, com a exceção do Equador, verificou-se um aumento expressivo de postos
em grandes corporações e uma queda na quantidade de trabalhadores autônomos
e/ou de pequenas empresas, entre 2002 e 2011.
Ao mesmo tempo,
houve uma redução da desigualdade salarial entre trabalhadores qualificados e
não qualificados durante o período de boom econômico. No Brasil, além da
formação profissional, o relatório aponta que outros fatores que condicionavam
o valor dos pagamentos, como diferenças de gênero e raça, teriam avançado.
Agora, o fenômeno
inverso tem provocado a precarização do trabalho. As políticas de valorização
do salário, que contribuíram anteriormente para reduzir a disparidade de renda
entre segmentos sociais, podem acabar produzindo o efeito contrário, acelerando
demissões.
O Brasil e a
Argentina apresentam um quadro atípico entre seus parceiros regionais, pois,
nos dois países, as taxas de desemprego entre profissionais qualificados e não
qualificados mantiveram-se similares no período de 2011 a 2014. O relatório
sugere a hipótese de que a situação incomum pode ser decorrente de benefícios
oferecidos aos desempregados nessas nações.