Violência na República Centro-Africana pode
sair de controle, alerta ONU
11 de novembro de 2013 · Destaque
Refugiados da
República Centro-Africana chegam à República Democrática do Congo. Foto:
ACNUR/G. Casteele
A chefe das Nações
Unidas para os direitos humanos, Navi Pillay, alertou na sexta-feira (8) que a deterioração da segurança na República Centro-Africana pode sair do
controle e desestabilizar ainda mais o país.
“Os últimos
confrontos entre as ex-forças Séléka e vários grupos de autodefesa são
extremamente preocupantes”, disse Pillay. “Tais incidentes violentos têm
aumentado as tensões entre as comunidades, causado divisões religiosas e linhas
sectárias que podem levar a uma maior desestabilização do país”, acrescentou.
Há décadas a
República Centro-Africana vem sofrendo com os conflitos e a instabilidade. Em
dezembro do ano passado, a violência aumentou quando a coalizão rebelde Séléka
lançou uma série de ataques. Um acordo de paz foi assinado em janeiro, porém,
foi logo quebrado em março de 2013 quando os rebeldes tomaram a capital Bangui
e forçaram a fuga do presidente François Bozizé.
Agora, o país
possui um governo de transição, liderado pelo primeiro-ministro Nicolas
Tiangaye, encarregado de restaurar a lei e a ordem e abrir o caminho para
eleições democráticas. Mas os confrontos armados no nordeste têm aumentado
desde o início de agosto e a região está enfrentando uma terrível crise
humanitária, que afeta toda a população de cerca de 4,6 milhões de pessoas.
Pillay disse que os
relatos do massacre de 26 de outubro, com vítimas majoritariamente mulheres e
crianças em um vilarejo perto de Bouar, ilustra o nível de violência que
prevalece no país e o absoluto desprezo pela vida humana demonstrado pelas
pessoas que estão promovendo esses ataques.
Em Bossangoa,
centenas de civis, incluindo dois trabalhadores humanitários de uma ONG,
morreram durante confrontos entre grupos armados nas duas primeiras semanas de
setembro. Pillay pediu que o governo do país investigue esses incidentes de
forma transparente.
Representantes da
ONU visitaram a região recentemente e receberam relatos de violações
generalizadas dos direitos humanos cometidas por grupos armados, incluindo
execuções sumárias, violência sexual, prisões e detenções arbitrárias.
A alta comissária
da ONU para os direitos humanos também mostrou preocupação quanto aos relatos
de detenções ilegais e tortura na capital do país e pediu que o governo
investigue as denúncias.
Enquanto isso, um
estudo recente realizado em conjunto pela ONU, organizações não governamentais
e o governo do país mostra que mais de 1 milhão de pessoas estão correndo o
risco de passar fome e adverte que a situação pode piorar por causa das
colheitas ruins e da desaceleração drástica das atividades econômicas nos
últimos meses.
O Programa Mundial
de Alimentos (PMA)
forneceu ajuda alimentar vital para cerca de 250 mil pessoas no país desde
janeiro. Para manter a assistência, a agência precisa de um financiamento
adicional de 20 milhões de dólares até abril de 2014.
Desde o ano
passado, muitos agricultores abandonaram suas fazendas, deixando plantações
abandonadas. A maioria das famílias disse que o gado havia sido roubado. Outras
venderam gado e sementes para sobreviver com medo de deslocamentos e saques.