Parlamento da Crimeia aprova por unanimidade a união com a Rússia
Brasil Econômico - Por AFP 17/03/14 10:24
O Parlamento ucraniano aprovou nesta segunda-feira a mobilização parcial das tropas para enfrentar
Documento afirma que as leis ucranianas não são mais aplicadas na Crimeia e que o governo de Kiev já não tem nenhuma autoridade sobre a península
O Parlamento da Crimeia proclamou nesta segunda-feira a independência da península da Ucrânia e a nacionalização de todos os bens do Estado ucraniano em seu território, e pediu a união à Federação Russa.
Os 85 deputados aprovaram por unanimidade as medidas, após a vitória esmagadora (96,6%) dos partidários da adesão à Rússia em um referendo no domingo. "A república da Crimeia pede às Nações Unidas e a todos os países do mundo seu reconhecimento como Estado independente", afirma o texto aprovado pelo Parlamento em Simferopol, capital do território.
"A Crimeia pede à Rússia que a aceite como um de seus membros", completa. O documento afirma que as leis ucranianas não são mais aplicadas na Crimeia e que o governo de Kiev já não tem nenhuma autoridade sobre a península.
O primeiro-ministro da Crimeia, Serguei Axionov, anunciou uma alteração no fuso horário na península em 30 de março, que passará ao horário de Moscou (GMT+4), duas horas antes da hora de Kiev atualmente em vigor. Anteriormente, Axionov havia anunciado que o período de transição de todas as instituições da Crimeia para a Rússia levaria pelo menos um ano. O Parlamento anunciou ainda que o rublo é agora a moeda oficial da república separatista da Crimeia, mas a moeda ucraniana, a grivna, poderá ser utilizada até 1º de janeiro de 2016.
Uma delegação do Parlamento da Crimeia viajará nesta segunda-feira a Moscou, onde o Parlamento russo pretende votar nesta segunda-feira a integração da Crimeia à Federação Russa. "Voamos para Moscou", anunciou Axionov no Twitter.
A nacionalização de todos os bens do Estado ucraniano na Crimeia pode incluir as bases militares cercadas desde o fim de fevereiro por civis pró-Moscou e soldados enviados pela Rússia. No momento, o presidente do Parlamento da Crimeia, Volodimir Konstantinov, anunciou a dissolução de todas as unidades militares ucranianas com base na península.
"Aqueles (militares) que desejarem viver aqui poderão fazê-lo. Examinaremos a questão entre aqueles que prestarem juramento às novas autoridades", disse.
As autoridades de Simferopol indicaram antes do referendo que os soldados que desejarem permanecer leais a Kiev terão que abandonar a península. Os nascidos na Crimeia, depois de prestar juramento às novas autoridades, poderão continuar na região e incorporar-se ao exército russo. Axionov escreveu no Twitter que pelo menos 500 soldados ucranianos teriam abandonado as bases na cidade portuária de Sebastopol, onde a Rússia mantém a base de sua frota do Mar Negro.
Para aumentar a tensão, o Parlamento ucraniano aprovou nesta segunda-feira a mobilização parcial das tropas para enfrentar a "ingerência da Rússia nos assuntos internos da Ucrânia". No total, 275 deputados aprovaram a mobilização solicitada pelo presidente interino Olexander Turchynov em consequência do "agravamento da situação política no país (...) e da ingerência da Rússia nos assuntos internos da Ucrânia".
O ministro ucraniano da Defesa, Igor Teniukh, afirmou que as tropas do país permanecerão na Crimeia. "Os militares mobilizados (na Crimeia) permanecerão no local", declarou o ministro durante uma entrevista coletiva.
Os deputados ucranianos também aprovaram a utilização de 6,9 bilhões de grivnas adicionais (530 milhões de euros) para garantir a capacidade de combate das Forças Armadas. Trinta e três deputados não participaram na votação e nenhum votou contra a medida. O referendo de domingo teve o apoio de 96,6% dos eleitores da península a esta adesão, em uma votação condenada pelos países ocidentais, que preparam novas sanções contra Moscou.
"Resultados definitivos do referendo -- 96,6% a favor!", escreveu o primeiro-ministro da Crimeia no Twitter.
O presidente interino da Ucrânia chamou o referendo de "grande farsa" decidida no Kremlin. "A Rússia busca cobrir sua agressão na Crimeia com uma grande farsa chamada referendo, que jamais será reconhecida pela Ucrânia ou pelo mundo civilizado", declarou Turchynov aos deputados.
Um deputado do partido da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko ironizou "os resultados sensacionais" na Crimeia. "Esperávamos 101%, levando em consideração a organização do referendo", declarou Mikola Tomenko durante a sessão parlamentar.