Tecnologia para manter as tropas bem
alimentadas
Brasília, 28/02/2014 – “Alimento seguro é a garantia do
emprego operacional da tropa”. É com este lema que as Forças Armadas mantêm
seus homens com moral elevados e sempre prontos para o combate. A questão da
alimentação no meio militar sempre foi tratada como assunto de segurança.
Quando foi criada em 2003, a Comissão de Estudos de Alimentação para as Forças
Armadas (CEAFA), do Ministério da Defesa (MD), deu novos rumos para os padrões
de rações de comida e alimentação da tropa, convencional ou operacional.
De acordo com o atual presidente da CEAFA, comandante Luís
Campos, a comissão busca melhorias nos modelos de alimentação e das rações
utilizadas pelas Forças Armadas por meio de parcerias intersetoriais, atuando
junto a outros órgãos do governo e da iniciativa privada, como empresas,
institutos de pesquisa e estabelecimentos de ensino.
Para o comandante Campos, a importância da alimentação militar
deve levar em conta todas as fases da cadeia de produção – procedência,
preparo, manipulação, distribuição e armazenamento. “Caso contrário, não há
como assegurar a desejável eficácia no suporte ao emprego operacional da
tropa”, disse.
Ração Operacional
Muita coisa mudou na alimentação do soldado brasileiro nas
últimas décadas. A comida enlatada, usada desde as grandes guerras mundiais,
deu espaço a novas tecnologias e maneiras de preparar a refeição do
militar.
A ração operacional é uma composição de itens desidratados
(refrescos, bebidas quentes), liofilizados (macarrão instantâneo, risotos),
termoprocessados (comida esterilizada, cozida, pronta para consumo) e outros
complementos industrializados, como doces e biscoitos.
As Forças Armadas têm optado, na atualidade, por rações
operacionais de perfil tecnológico termoprocessado, alimento pronto para o
consumo, cozido, esterilizado em embalagens flexíveis, chamadas em inglês de pouchs. Esse tipo de
comida é preparada a uma temperatura em torno de 120°C. Quatro camadas da
embalagem protegem o alimento de microorganismos, luz, calor e poeira.
São quatro os tipos de ração de campanha. A de combate deve
suprir as necessidades de um soldado por um período de 24 horas. É composta
café, almoço, jantar e ceia. Já a de emergência destina-se para uma campanha de
12 horas, com duas refeições (café e almoço ou jantar e ceia).
Já a ração de adestramento, para exercícios de instrução de até
6 horas, contém apenas uma refeição (almoço ou jantar). Também pode ser usada
em situações de resgate ou calamidade pública. Todas as rações são acompanhas
por um kit com acessórios para aquecimento – mini fogareiro, combustível e
fósforo.
A finalidade da ração operacional coletiva suprir a necessidade
de um grupo. Tem duas ou três refeições principais, constituídas basicamente de
alimentos termoprocessados e complementos (batata palha, farofa). Segundo a
CEAFA, o alimento militar coletivo é uma das grandes tendências por atender
demandas da defesa civil em catástrofes naturais e calamidade pública.
Esse tipo de mantimento foi utilizado, pela primeira vez, pelo
20º Batalhão Logístico do Rio de Janeiro (RJ), durante as eleições estaduais na
chamada Operação Guanabara em 2010. À época, o batalhão desenvolveu o “Posto
Cozinha Móvel” (instalação de campanha montada em container com módulos de aquecimento em
banho-maria).
Outra tendência é o segmento de alimentos pré-preparados, que
utilizam a tecnologia sous-vide
(a vácuo), facilmente encontrados nas gôndolas dos supermercados e que
dispensam Regionalismo
Além disso, as Forças têm se preocupado em adaptar seus
cardápios às preferências regionais, de modo a satisfazer as tropas. Há menus
como carne seca, rapadura, farinha de mandioca, feijoada, strogonoff, entre
outros.
Está em estudo pela CAEFA um kit
energético operacional com a finalidade de prover energia adicional ao
combatente durante esforço físico prolongado, intenso e sob condições
estressantes. Trata-se de uma fonte suplementar de carboidratos (380 a 500
Kcal), de fácil e rápida metabolização pelo organismo. O kit poderá ser composto
por um carboidrato em gel, uma barra de cereal, um repositor hidroeletrolítico
e água potável.
Cada Força tem suas particularidades em seus pedidos de
alimentação: tipo de missão, duração e terreno da operação. Por exemplo, a
ração de náufrago da Marinha é composta por um sachê de água, jujubas, e goma
de mascar, com duração por até seis dias.
A Aeronáutica possui um módulo de alimentação transportável para
locais desprovidos de apoio e capaz de alimentar 250 homens. O Mapre, como é
conhecido, foi projetado para ser transportado em aeronave Hércules C-130. No
módulo são servidos alimentos frescos in natura e do tipo cook-chill – refeição
cozida, embalada e resfriada.
Segurança
A segurança alimentar é preocupação capital do Ministério da
Defesa. Em 2005, a então Secretaria de Logística, Mobilização, Ciência e
Tecnologia (SELOM) regulamentou as boas práticas nas organizações militares,
desde a higiene, manipulação, armazenamento e até distribuição dos alimentos.
Por sua vez, o Exército Brasileiro estabeleceu, em 2010, o
Programa de Auditoria de Segurança Alimentar (PASA). A iniciativa é uma
estratégia pensada para conhecer, identificar e mitigar aspectos críticos nos
serviços de alimentação das unidades da Força Terrestre. O PASA premia e
certifica àquelas unidades com alto padrão de qualidade.
Em 2013, foram destinados recursos na ordem de R$ 46 milhões
para a reforma das cozinhas das instalações militares e aquisições de novos
equipamentos. Hoje, o Exército possui 469 ranchos; a Marinha, 156 em terra e
105 embarcados (navios); e a Força Aérea, 55 cozinhas.
Forças estrangeiras já tratam deste tema para além da segurança
dos alimentos (Food Safety).
Os Estados Unidos desenvolveram e trabalham com o conceito de Food Defense, que
inclui medidas para prevenir a contaminação proposital da cadeia alimentar
dentro de suas organizações militares.
Indústria
Um dos papéis da CEAFA é estimular a indústria e os centros de
pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos para as Forças Armadas. No
Brasil, há diversas empresas habilitadas a fornecer rações operacionais.
Fundada em 1990, em Campinas (SP), a Cellier foi a pioneira e é
a única, atualmente, a fabricar rações termoprocessadas para as Forças. A
fábrica produz aproximadamente 430 mil rações, entre os tipos de combate (24
horas) e de emergência (12 horas). Para o Exército Brasileiro, a Cellier possui
dez cardápios; para a Marinha do Brasil são cinco pratos; e para a Aeronáutica
entrega seis opções de rações.
A Cellier forneceu produtos para o programa de pacificação, em
2002, no país africano de Angola. Também abasteceu a tropa brasileira na
implantação da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti
(Minustah), em 2004. O diretor José Luiz Favrin ressalta que os colaboradores
da Cellier têm consciência que "não estão produzindo um saquinho de feijoada,
por exemplo, mas o alimento que socorrerá o soldado numa situação hostil”.
Em 1995, um grupo de empresários paranaenses identificou uma boa
oportunidade de negócios. O sistema de cozimento a vapor e embalagem a vácuo já
era usado na França para conservar as batatas que não eram aproveitadas na
época da colheita. Com essa ideia, os empresários fundaram a Vapza Alimentos
S/A, no município de Castro (PR). O primeiro produto a sair da fábrica foi a
Batata Vapza. Hoje, ela possui um portfólio com cerca de 40 itens. Por
enquanto, a empresa não fabrica especialmente para as Forças Armadas.
A coordenadora de comunicação, Natasha Schaffer, enfatiza que os
produtos estão adequados para o uso militar. “Nosso departamento de Pesquisa e
Desenvolvimento está pronto para inovar e atender às diversas demandas do
mercado.”
Fundada em 1953, a JBS S/A é considerada o maior frigorífico do
setor de carne bovina do mundo. Os produtos da empresa podem ser utilizados
tanto pelas organizações militares, como na alimentação coletiva civil. No
entanto, a JBS ainda não guarnece às Forças brasileiras com refeições coletivas
termoprocessadas.
Segundo o coordenador de vendas institucionais, Fábio Lucena
Baptista, os produtos fabricados têm finalidade dual, ou seja, podem ser
utilizados pelas Forças Armadas ou na alimentação coletiva civil. A empresa
ainda não guarnece as organizações militares brasileiras com refeições
coletivas termoprocessadas. “A JBS exporta seus produtos com tecnologia
pouchpara as forças armadas da Grã Bretanha”, comenta Lucena.
Apesar de não fornecer mais rações para a Marinha, o Exército e
a Aeronáutica, a Liotécnica, com três sedes em Embu (SP), é pioneira na
tecnologia de liofilização de alimentos. A empresa faz parte da história da
ração militar, alimentou as tropas brasileiras de 1964 a 2008.
Fotos: divulgação/MD
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa
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