Ponto Final – À sombra dos crimes de Stalin
18/03/14 10:28 | Octávio Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)
Animados com o resultado de domingo, descendentes de russos em outras cidades foram às ruas com o mesmo ânimo da Crimeia e se mostram dispostos a aderir à onda
Muita gente no Brasil está em dúvida sobre os acontecimentos na Ucrânia. Ou não sabem como se posicionar ou tomam partido com base em informações apressadas. Há um grupo que apoia Vladimir Putin por considerá-lo um legítimo remanescente do antigo regime soviético.
A visão é a seguinte: se Putin, que pertenceu ao PCUS e à KGB , está enfrentando os Estados Unidos e a Europa Ocidental, ele merece crédito. Existe também a corrente que torce contra os EUA em qualquer circunstância. Logo, se Barack Obama considera a anexação da Crimeia um absurdo jurídico, pau no presidente dos EUA e em todos os yankees. Como contestar um plebiscito em que 95% das pessoas votaram pela independência da Crimeia? Falar nisso, o Parlamento local adiantou-se a Putin e já está propondo a união da península à Rússia.
Animados com o resultado de domingo, descendentes de russos em outras cidades foram às ruas com o mesmo ânimo da Crimeia e se mostram dispostos a aderir à onda. É esse exatamente o risco apontado por quem conhece a Rússia a fundo. Putin, movido por ambição pessoal, está insuflando um sentimento que ameaça não só a integridade da Ucrânia, mas também a de outros países que faziam parte da União Soviética. Com seu sonho autocrático, o presidente dá um passo atrás na história do Leste Europeu. Tenta repetir o que aconteceu após a Revolução Russa, com a conquista de territórios pelo Exército Vermelho. Retoma um pedaço da Ucrânia que havia sido devolvido por Kruschev há 60 anos. Putin faz da história uma farsa, como ensinou Marx.
Nada justifica o apoio à anexação da Crimeia. Dizer que é o desejo da maioria é bobagem. Obviamente, o Kremlin está pondo lenha na fogueira. E incentiva grupos separatistas de um anacronismo espantoso. Basta ver as bandeiras com a imagem de Stalin empunhadas em Odessa. O ditador, que fez e desfez de 1923 a 1953, seria o símbolo maior da volta à esfera de poder da mãe Rússia. Stalin seria o elo perdido com o regime soviético, quando a URSS era respeitada e dividia a hegemonia mundial. E Putin seria seu digno sucessor.
Sempre que Stalin é enaltecido, cita-se a resistência da URSS aos exércitos de Hitler. Além do heroísmo no cerco de Stalingrado, aponta-se com emoção a vitória e a bandeira da União Soviética fincada no alto de um prédio em Berlim. O relato é justo. Mas não é suficiente para apagar os crimes de Stalin. Sabe-se hoje com detalhes como ele eliminou todos os companheiros de Revolução. A perseguição a Trostky atravessou as fronteiras e só foi terminar no México, em 1940, quando o espanhol Ramón Mercader matou o pai do Exército Vermelho com uma picaretada, a mando de Lavrenti Beria, o chefe da polícia secreta de Stalin.O passatempo predileto de Beria era estuprar adolescentes que arrastava para seu carro nas ruas de Moscou.
Stalin foi perverso no varejo e no atacado. Com a coletivização forçada da agricultura, matou milhões na Rússia e nas repúblicas vizinhas (a Ucrânia, inclusive). Contra os poloneses, Beria cometeu um genocídio em nome do patrão. Executou 8 mil membros do exército da Polônia, 6 mil policiais e 6 mil civis - todos acusados de espionagem e subversão. As vítimas foram mortas com tiros na cabeça na floresta de Katyn, na Rússia, e enterradas em fossa comum. Houve outros crimes da dupla Stalin-Beria, mas bastam esses para saber de que lado ficar no ataque de Putin à Ucrânia.