Rússia segue passos da
China e censura internet
O presidente do
conselho da Google, Eric Schmidt, já havia advertido sobre as intenções de
Putin
Bloombergredação@brasileconomico.com.br
O presidente do conselho da Google Inc., Eric Schmidt, advertiu no ano
passado que a Rússia estava “seguindo os passos” do modelo da China de censura
à internet. Vladimir Putin está lhe dando razão.
Com a Rússia travada no pior impasse com os EUA desde a Guerra Fria, o
presidente russo disse na semana passada que seu governo precisa impor um
controle maior sobre os fluxos de informações na web que, segundo o ex-coronel
da KGB, é uma criação das agências de espionagem dos EUA.
Os comentários de Putin surgiram depois que a câmara baixa do parlamento
aprovou uma proposta de lei que exige que as empresas de internet, como a
Google, situem os servidores que lidam com o tráfego russo dentro do país,
similar às regras chinesas, e armazenem dados dos usuários por seis meses. A
legislação, que precisa da aprovação da câmara superior e da assinatura de
Putin para se tornar lei, também classifica os blogueiros com 3.000 leitores ou
mais – cerca de 30.000 pessoas – como saídas de “mídia”, o que significa que
eles e seus servidores devem ser responsáveis pelo conteúdo e que estão
sujeitos a regulação.
“Esta lei é mais um passo em direção à segmentação e à nacionalização da
internet e a colocá-la sob o controle do Kremlin”, disse por e-mail Matthew
Schaaf, que trabalha no grupo de pesquisa Freedom House, com sede em
Washington. “Isso poderia provocar um sério efeito inibidor na expressão
on-line da Rússia, fazendo com os que usuários parem para pensar como suas
buscas no Google e publicações no Facebook poderiam ser utilizados contra
eles”.
"Vingança" de Putin
As agências de inteligência russas, assim como suas correspondentes dos
EUA, aumentam constantemente suas capacidades cibernéticas, disse Putin em uma
reunião com executivos dos meios de comunicação em São Petersburgo, em 24 de
abril. A Rússia deve proteger suas informações em um mercado dominado pelas
empresas americanas de tecnologia, disse Putin, 61.
O projeto de lei sobre o armazenamento de dados dos usuários segue uma
lei decretada em 1º de fevereiro que dá ao Roskomnadzor, o regulador de
comunicações, o poder de bloquear sem decisão judicial os sites considerados
“extremistas” ou uma ameaça à ordem pública.
O Roskomnadzor fez exatamente isso em 13 de março, quando interrompeu
temporariamente o acesso a meia dúzia de sites, incluindo o do líder da
oposição, Alexei Navalny, para impedir iniciativas de realização de comícios
não aprovados contra a anexação da Crimeia, efetuada por Putin. O órgão
regulador também fechou 13 grupos ucranianos no VKontakte, um site russo
semelhante ao Facebook.
“Putin vê uma ameaça importante à sua lei vinda dos EUA, e a Ucrânia é
só o motivo mais recente para as tentativas de desacreditá-lo”, disse Alexei
Mukhin, diretor do Centro de Informações Políticas, um grupo de pesquisa em
Moscou. Para Putin, “isso se tornou uma vingança pessoal, então limitar a
internet é uma medida necessária”.
Consciência tranquila
As agências russas vêm pressionando as empresas de internet para obter
dados sobre os ucranianos que apoiaram a expulsão do presidente da Ucrânia
apoiado pelo Kremlin, Víktor Yanukóvytch, de acordo com Pavel Durov, fundador
do VKontakte, ou VK.
Durov, que começou o VK em 2006, o mesmo ano em que o bilionário Mark
Zuckerberg abriu a Facebook Inc. ao público, disse em 16 de abril que vendeu
suas ações e abandonou o cargo de CEO para não ter que cumprir as demandas de
entregar os dados pessoais dos usuários ucranianos.
“Já não tenho uma participação, mas tenho algo mais importante:
consciência tranquila e ideais que estou disposto a defender”, disse Durov em
sua página do VK.
Para as empresas estrangeiras, mudar os servidores para a Rússia pode
não valer o investimento, o que significa que seus serviços poderiam deixar de
estar disponíveis para os russos, disse Karen Kazaryan, analista da Associação
Russa de Comunicações Eletrônicas.