Todo cuidado é pouco
Atingida por uma
avalanche de notícias negativas, Dilma perdeu pontos em popularidade e também
viu cair as intenções de voto na disputa sucessória
Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
O feriado prolongado foi útil para os especialistas em pesquisa de
opinião. Eles tiveram tempo de sobra para analisar os últimos números do Ibope,
do Vox Populi e do Datafolha. E, com bases nesses dados, concluíram que a Dilma
Rousseff enfrenta, sem sombra de dúvida, um momento bastante complicado.
Atingida por uma avalanche de notícias negativas, a presidente perdeu
pontos em popularidade e também viu cair as intenções de voto na disputa
sucessória.
Concorde-se ou não, os experts veem nuvens cinzentas no horizonte e
já não apostam na vitória de Dilma no primeiro turno. O ex-prefeito Cesar Maia,
por exemplo, destaca que o eleitorado está partido. O Nordeste continua com
Dilma, mas o Sudeste se distancia mais. A classe de baixa renda permanece
fiel, enquanto cresce a insatisfação dos que ganham acima de 5 salários
mínimos. E por aí vai.
A tempestade que se abateu sobre a presidente tem múltiplas origens. Vai
da ameaça de racionamento de energia e da falta de água em São Paulo até os mal
feitos do deputado petista André Vargas, ex-presidente da Câmara, que insiste
em se agarrar ao mandato. Mas o que mais contribuiu para adernar o barco
oficial foi o escândalo em torno da compra da refinaria americana de Pasadena
pela Petrobras. Repercutiu mal o desembolso de US$ 1,2 bilhão pela unidade que
os belgas da Astra haviam comprado por apenas US$ 42 milhões. O negócio foi
realizado em 2006, quando Dilma era ministra-chefe da Casa Civil e comandava o
Conselho de Administração da estatal. O presidente da empresa era José Sérgio
Gabrielli, mas há todo um esforço da oposição para jogar o peso nas costas de
Dilma. Se valem as pesquisas, a tática está dando certo, até porque, diante das
notícias e manchetes, muita gente entende que o negócio foi realizado no
governo atual. Para complicar, o sobrenome do doleiro envolvido com um
ex-diretor da Petrobras é Yousseff e leva a confundir com o Rousseff da
presidente.
Além dos fatores políticos, pesa também o mau momento da economia
brasileira. Ontem mesmo, a pesquisa Focus, do Banco Central, apontou para uma
taxa de inflação acima do limite da meta. Essa é a previsão para este ano das
principais instituições financeiras. Mas as pessoas ouvidas pelo Ibope e pelo
Datafolha também demonstram uma expectativa pessimista em relação à alta dos
preços. Começam a temer a volta da inflação e se preocupam com a manutenção do
nível de emprego. Ou seja, desconfiam do futuro da economia e desaprovam a
forma de governar da presidente. A sorte de Dilma é que seus adversários não
emocionam e estão empacados. Mas todo cuidado é pouco.
Algumas raposas em eleições afirmam que a presidente não pode esperar
até o início da campanha na TV em agosto. Está crescendo o número de indecisos
e a reação de eleitores desencantados com a política é imprevisível. Podem
anular votos, podem engrossar a abstenção, mas também podem buscar
alternativas. Na opinião dos especialistas, o desafio imediato de Dilma
Rousseff é reagir logo para estancar a sangria de intenções de voto. Ela tem
que apresentar algo forte e inesperado que altere a tendencia de baixa. Um ato
de efeito. Do contrário, seus principais adversários podem surfar na onda de
decepção. O que já estão tentando fazer. De qualquer forma, comenta-se nos
institutos de pesquisa que “esta será a eleição mais difícil da história
recente”.