Coronel brasileiro
Amadeu Marto é observador militar na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul.
Foto: Arquivo pessoal
Entrevista: Coronel brasileiro em missão da
ONU fala da situação de segurança no Sudão do Sul
22 de fevereiro de 2014 · Destaque
Coronel brasileiro
Amadeu Marto é observador militar na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul.
Foto: Arquivo pessoal
A crise iniciada em
meados de dezembro já deslocou mais de 715 mil sul-sudaneses e levou mais de
160 mil ao refúgio em países vizinhos. Os números são atualizados pela ONU a
cada três dias aproximadamente e não param de crescer. Numa operação sem
precedentes, a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) abriu suas dez
bases no país para proteger civis da violência. No total, mais de 85 mil
pessoas se abrigaram nas instalações da missão de paz.
É sobre essa
situação que o coronel brasileiro Amadeu Marto, líder dos observadores
militares da ONU no estado de Northern Bahr el Ghazal, noroeste do país,
conversou por telefone com a equipe do Centro de Informação da ONU para o
Brasil (UNIC Rio).
No estado onde o
coronel Marto coordena uma equipe multinacional de dez pessoas, a situação de
segurança é mais estável. De acordo com o boina-azul, isso se deve ao fato de a
maioria da população pertencer a apenas uma etnia. “A crise não é só étnica.
Ela é muito mais política e econômica do que étnica, mas o lado étnico também
puxa bastante. E como aqui 90% da população é Dinka, então a situação é bem
tranquila”, explicou.
Dinka é a etnia do
presidente, Salva Kiir, que em 15 de dezembro afirmou que soldados leais ao
ex-vice-presidente Riek Machar, destituído do cargo em julho, tentaram aplicar
um golpe de Estado. O opositor é da etnia Lou Nuer, o que serviu de estopim
para que os conflitos exacerbassem as questões políticas.
A situação, afirma
Marto, é mais grave nos estados de Jonglei, Unity e Alto Nilo. A base da ONU na
capital do país, Juba, recebe mais da metade dos deslocados internos. A ONU
presta todo o auxílio possível, mas as condições são precárias e a quantidade
de necessitados é muito superior à capacidade de resposta humanitária.
Os 13 brasileiros
que trabalham na missão – oito militares do Exército e da Aeronáutica e cinco
policiais militares de diferentes estados – desempenham papeis importantes na
busca pela estabilidade do país mais novo do mundo (tornou-se independente em
julho de 2011) e na proteção dos direitos humanos.
No caso de Marto, a
tarefa é manter contato com o Exército do Sudão do Sul, emitir alertas
antecipados sobre possíveis ameaças à segurança de civis e humanizar a atuação
das forças locais.
A entrevista foi feita pela jornalista Damaris Giuliana, com produção
técnica de Felipe Siston e Ivone Alves.