Ponto Final - A cobra vai fumar
03/02/14 10:45 | Octávio
Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)
Cresce no país o
desejo de mudança. A dúvida é se os eleitores querem as mudanças com a
presidente Dilma Rousseff ou sem ela
O publicitário João Santana, responsável pelo
marketing da campanha de reeleição de Dilma Rousseff, está preocupado com as
manifestações de rua agendadas para o período da Copa do Mundo. Sabe que não é
possível avaliar de antemão o desgaste na candidatura oficial, mas sabe também
que os respingos serão inevitáveis. E prepara um pacote de ações para tentar se
contrapor ao trabalho de solapa do megaevento, que já começou nas mídias
sociais, no Facebook e no Twitter. Após a pré-estreia em São Paulo, quando um
manifestante foi baleado pela polícia, novos ensaios estão sendo convocados
para os próximos dias, sob pretexto de protestar contra reajustes de tarifas de
ônibus. O caldo, portanto, começa a engrossar.
Se Santana desembarcar no aeroporto do Rio e entrar
num táxi, terá um exemplo microscópico de como se disseminou na opinião pública
o sentimento negativo sobre a Copa 2014. Os motoristas estão revoltados com a
total desorganização do Galeão, onde continua a imperar a bandalha com a
disputa entre táxis comuns e especiais. Os profissionais do volante lamentam
também o atendimento precário aos turistas, que entram nos veículos
completamente desorientados.
Após expor a irritação com o improviso geral e o
atraso nas obras, o discurso dos taxistas se volta contra o custo elevado da
Copa do Mundo e o desperdício de recursos públicos. Se gastaram bilhões com
estádios, por que não fazem o mesmo com hospitais públicos e escolas,
eternamente abandonados?
O marketing oficial tem uma tarefa árdua pela
frente. Quando taxistas começam a falar mal de alguma coisa, é sinal de que
algo está afetando o humor da classe média. Eles são formadores primários de
opinião. E usam o tempo gasto no itinerário para influenciar seus passageiros.
São conservadores em geral, mas costumam expressar a voz do povo. Sem dúvida,
há insatisfação no ar. Ou como indicam as pesquisas do Ibope, cresce no país o
desejo de mudança. Todos querem o aprimoramento dos serviços essenciais, como
transporte, educação e saúde. A dúvida dos institutos de pesquisa é se os
eleitores querem mudança com a presidente Dilma Rousseff ou sem ela.
Enquanto essa zona cinzenta não de desfaz, o
governo resolveu se mexer antes do início da campanha eleitoral. João Santana
desenvolve uma campanha institucional para defender a realização da Copa no
Brasil. Em sua explicação, serão "várias ações, vários instrumentos e
várias linguagens". Vem aí, portanto, uma avalanche de esclarecimento
sobre os investimentos da União e dos estados em mobilidade urbana e na
melhoria dos serviços básicos. Ainda se ouvirá falar muito dos pactos assumidos
por Dilma durante a onda de protestos de junho do ano passado. Tudo será feito
para mostrar à sociedade os ganhos que o país terá com a maior festa do
futebol.
No aquecimento do esforço publicitário, rolou a
cabeça da jornalista Helena Chagas, ministra da Secretaria de Comunicação da
Presidência da República. Assume hoje o cargo o também jornalista Thomas
Traumann. Ambos são experientes e respeitados pelos colegas. Mas Thomas tem o
perfil mais adequado para os embates políticos que serão travados neste ano de
eleições. Além disso, é mais afinado com João Santana e também com o
ex-ministro Franklin Martins, homem de confiança de Lula e um dos principais
articuladores da reeleição. Com o novo ministro, o governo acumula forças
contra os futuros protestos de rua e também para enfrentar a disputa
sucessória. Como se dizia na FEB, a cobra vai fumar.