Teoria
Política de Dilma é criticada até por keynesianos
Dilma Rousseff tem a sua imagem, frequentemente,
atrelada à escola keynesiana, pela defesa à intervenção estatal na economia.
Foto: Antonio Cruz/Ag.Br
Modelo econômico
comemorado em 2010 já não é consenso. Economistas querem investimento, mas não
sabem de onde virá
Rio - Inflação próxima do teto da meta,
balança comercial deficitária, desvalorização cambial crescente e cenário
externo preocupante. Um ambiente de instabilidade está dando margem a críticos
do governo da presidenta Dilma Rousseff, em ano de eleição, para questionar a
política econômica que, em artigo publicado em 2010, o então secretário do
Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa (atual pesquisador da Fundação Getúlio
Vargas), classificou como caso de sucesso. "Durante o governo Lula, o
Brasil iniciou uma nova fase de desenvolvimento econômico e social, em que se
combinam crescimento econômico com redução das desigualdades sociais",
comemorou, então, Barbosa.
Com um Produto Interno Bruto (PIB) negativo em 0,5%
no terceiro trimestre de 2013, comparado a igual período anterior, e o processo
de retração da desigualdade estagnado, como demonstra a Pesquisa por
Amostras de Domicílio (Pnad) de 2012, academia e mercado questionam: a fórmula
desandou?
Em seu artigo, na época em que o Brasil avançava a
ritmo chinês, Barbosa atribuiu o crescimento à mão do "Estado no estímulo
ao desenvolvimento e no planejamento de longo prazo", uma clara alusão à
teoria de John Maynard Keynes, teórico do século XX, defensor da tese de que o
ciclo econômico não é auto-regulado. A própria presidenta Dilma Rousseff tem a
sua imagem, frequentemente, atrelada à escola keynesiana, pela defesa à
intervenção estatal na economia - como a decisão de segurar os preços dos
combustíveis vendidos pela Petrobras e também da energia elétrica, contrariando
os interesses empresariais. Seu orientador de mestrado na Unicamp foi o
professor keynesiano Manoel Cardoso de Melo.
A esse grupo se contrapõem os neoliberais, credores
no poder dos fundamentos financeiros para equilibrar a economia. No entanto,
atualmente, diante de perspectivas não tão otimistas quanto as de três anos
atrás, a presidenta enfrenta crítica de ambos os lados e não chega a ser
reconhecida como uma fiel representante por nenhum deles. Presidente da Associação
Keynesiana Brasileira (AKB), o professor da Universidade de Brasília (UNB) José
Luis da Costa Oreiro enxerga na atual política econômica uma flexibilização do
modelo econômico do "tripé" - câmbio flutuante, metade inflação e
superávit primário - inaugurado pela equipe de Fernando Henrique Cardoso.
"Não houve mudança na matriz macroeconômica. O
que foi feito foi alongar a convergência do centro da meta da inflação,
reduzir a meta de superávit primário e manter o regime de flutuação cambial,
mas com indução de valorização por meio de mais controle da entrada de
capitais. Foi mantida a lógica do modelo anterior, só que o governo passou a
testar os seus limites", diz Oreiro.
Em sua opinião, não é suficiente flexibilizar o
tripé, criado para conter a inflação, para garantir crescimento econômico. Em
vez disso, sua principal proposta é que o governo adote um sistema de meta de
poupança pública, com foco no investimento. "Essa é a regra de ouro
da política fiscal de Keynes, na qual o endividamento público só pode ocorrer
para financiar investimento e não o consumo. É claro que é uma mudança que não
pode ser feita do dia para a noite", ressalta o professor da UnB,
salientando, em seguida, que a taxa de poupança pública hoje é negativa em 1%
do PIB e que o ideal seria estar em 5%. "Não é uma política de
austeridade, mas de mudança do perfil do déficit. É uma mudança da composição
da poupança. O ideal é financiar todo o investimento com poupança interna e
zerar a externa".
O que está em
questão no debate sobre a política econômica atual, a mesma comemorada no
artigo de Barbosa de 2010, é o gasto do governo e a sua capacidade de
investimento em um ambiente externo mais hostil, diz o economista-chefe da
Gradual Investimentos, André Perfeito. "A única coisa a ser feita é
mostrar sinais fiscais menos expansionistas, evitar custeio. Exatamente o
que ninguém sabe, porque o grau de mau humor chegou a um grau muito
elevado", opina. Ele reclama de uma má vontade dos economistas.
"Chegamos num ponto em que o mercado exige que o governo jogue o país
para a recessão