Ponto Final - Quando a indústria pesava mais
10/02/14 10:45 | Octávio
Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)
Nos últimos
anos, a produção industrial perdeu espaço para o agronegócio e o setor de
serviços. E a tendência continua
Na virada de 1978 para 1979, a editoria de economia
de VEJA entrou em campo para descrever em detalhes as articulações de
empresários paulistas em apoio à abertura política iniciada pelos generais
Ernesto Geisel e Golbery. Ainda havia reações à redemocratização nos núcleos
mais duros do regime militar, mas alguns industriais não se intimidavam e
defendiam a necessidade de o país avançar mais e encerrar o regime de exceção.
Faziam isso no limite do possível, mas sem temer retaliações. Opunha-se a eles
a corrente reacionária da iniciativa privada que apoiou o golpe de 1964 e havia
financiado a Operação Bandeirante, braço da repressão responsável pela tortura e
morte de militantes da esquerda. Verdadeiras viúvas da ditadura, eles defendiam
o status quo, por temer a volta do país à democracia.
Naquele tempo, a linha editorial de VEJA era bem
diferente e a reportagem conquistou o Prêmio Abril de Jornalismo. Entre os
empresários pró-abertura, destacavam-se José Mindlin, da Metal Leve, Antônio
Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, Dilson Funaro, da Trol, Claudio
Bardella, do grupo Bardella, Eugênio Staub, da Gradiente, e Paulo Francini, da
Coldex-Frigor. No final de 1980, esse mesmo time, que pregava a inovação e a
modernização do parque industrial, tendo o BNDES como braço forte da política
de desenvolvimento, decidiu ocupar espaço na Fiesp. Desde o golpe de 1964 a
entidade estava nas mãos de gente simpática à ditadura. Dizem que, nos anos de
chumbo, o presidente da Fiesp, Theobaldo de Nigris, encarregava-se de ligar
pessoalmente aos filiados para cobrar contribuições para o caixa da OBAN. Ele
tinha respaldo do então ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, que, por
sinal, participou ativamente da reunião que pariu o AI-5.
Na eleição histórica de 1980, que sacudiu a
pirâmide da Av. Paulista, Luis Eulálio Bueno Vidigal, da fábrica de vagões
Cobrasma, derrotou De Nigris, na presidência desde 1967. Curiosamente, Luís Eulálio
era sobrinho do banqueiro Gastão Vidigal, que também teria financiado a Oban.
Enfim, eram tempos difíceis que exigiam escolhas corajosas. Empresários
progressistas, como Francini e Staub, fizeram a opção certa. E se aproximaram
do jovem líder sindical que comandava os metalúrgicos de São Bernardo do Campo:
Luiz Inácio, o Lula. Reconheciam o direito de greve e viam com bons olhos o
novo sindicalismo, que também apostava na indústria nacional.
O grupo desenvolvimentista chegou ao poder quando
Dilson Funaro assumiu o Ministério da Economia no governo Sarney e lá estava
durante o Plano Cruzado em 1986. Não se deu com Fernando Collor, mas voltou a
ser ouvido por Fernando Henrique e Lula. Nos últimos anos, porém, a produção
industrial perdeu espaço para o agronegócio e o setor de serviços. Os
interlocutores da indústria também foram perdendo influência nas decisões sobre
a economia. Muitas das empresas deixaram de existir, entre elas, a Cobrasma, a
Villares, a Gradiente, a Trol e a Coldex-Frigor. Sofreram com os importados e
também com a seleção natural na economia.