Brasil perde espaço em
comércio com África
Foco da política
comercial brasileira no governo Lula, vendas para continente africano caem
desde 2011. Déficit superou US$ 6 bi em 2013
Nicola Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
Foco da política externa durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, o
estreitamento das relações comerciais entre o Brasil e a África tem beneficiado
muito mais países africanos produtores de petróleo do que a indústria
brasileira. Em 10 anos, houve avanço no fluxo de comércio entre as duas
regiões, mas as exportações brasileiras começam a dar sinais de arrefecimento,
enquanto as compras de petróleo pela Petrobras chegaram a níveis históricos em
2013. Para especialistas, altos custos e dificuldades logísticas limitam a
entrada de produtos nacionais no continente, que vem sendo invadido pela
produção chinesa.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as vendas de
produtos brasileiros para países africanos vêm caindo desde 2011, quando
bateram o pico de US$ 12,224 bilhões, coroando um crescimento impulsionado pelo
esforço para ampliar o comércio entre as duas regiões, com uma série de missões
comerciais e abertura de embaixadas no continente. Em 2013, o país vendeu US$
11,087 bilhões. Dados deste ano apontam para a manutenção da curva de queda:
nos quatro primeiros meses, as exportações caíram 13,13%, com destaque para a
redução de vendas de produtos alimentícios, barras de ferro e aço e veículos.
“Apesar da maciça promoção comercial do Brasil na África, ainda não
estamos aproveitando as oportunidades geradas no continente”, diz José Augusto
de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Por
não ter uma indústria forte, a África é um típico importador de manufaturados.
Mas as necessidades do continente estão sendo supridas por produtos chineses”,
completa ele. A participação do continente africano nas exportações brasileiras
ainda é tímida: em 2013, foi de 4,58%; no melhor ano, 2009, chegou a 5,68%.
Especialistas apontam o custo Brasil e as dificuldades logísticas como
principais entraves ao aumento do comércio bilateral, em um momento em que a
África vem registrando forte crescimento econômico, impulsionado pelas vendas
de commodities e pelo consumo das famílias — estimativas do Banco Mundial
apontam para este ano alta de 5,2% no PIB dos países subsaarianos, contra 4,7%
registrados em 2013. “O continente tem uma população de mais de 1 bilhão de
pessoas, com uma classe média que cresce acima da média mundial e precisa de
produtos alimentícios e bens de consumo”, comenta Dirk Van Hoomisen, da empresa
de navegação Safmarine, que tenta expandir as rotas entre os dois continentes.
“O problema é que as rotas tradicionais fazem transbordo no Norte da
África, o que torna o transporte mais caro e demorado”, pondera Abel Domingos,
presidente da Câmara de Comércio Brasil-África. Ele negocia com armadores e com
a autoridade portuária das Ilhas Canárias a implantação de um hub para
distribuição de produtos brasileiros para o continente africano. Para o
presidente da AEB, o alto custo da produção brasileira contribui para reduzir a
competitividade diante da invasão chinesa. “Se você tem um produto caro com
logística cara, vai ter exportações supercaras”, resume.
Segundo Castro, o grande crescimento das exportações para o continente
africano nos últimos anos foi provocado, principalmente, pelas empreiteiras que
ganharam obras de infraestrutura e, devido ao financiamento à exportação,
levaram consigo equipamentos e serviços. As vendas de bens de consumo ainda
patinam, diz ele, que é crítico do foco da política externa na África. “O
continente representa apenas 3% do comércio mundial”, argumenta. Lula fez 33
viagens presidenciais à África e criou 19 embaixadas no continente durante os
oito anos de governo.
No entanto, os números mostram que os maiores beneficiados pelo comércio
com o continente africano são os países produtores de petróleo. No ano passado,
o déficit brasileiro com a África chegou a US$ 6,358 bilhões, fruto de uma
diferença entre importações de US$ 17,445 bilhões e exportações de US$ 11,087
bilhões. As compras brasileiras praticamente triplicaram em dez anos, devido à
maior necessidade de petróleo importado para abastecer o mercado interno.
Grande produtor, a Nigéria é hoje o quarto país no ranking dos que mais vendem
produtos para o Brasil.
Segundo um diplomata que participa das negociações econômicas com a
África, a orientação da presidenta Dilma Rousseff é manter a prioridade em
investimentos e trocas comerciais com o continente africano. Em relação às
exportações, diz ele, o foco é de incentivar as vendas de máquinas e
equipamentos, aproveitando o momento de industrialização dos países da região.
Para esse mês, está prevista a exportação de máquinas pelo Programa Mais
Alimentos para o Zimbábue. Para Angola, duas missões recentes do governo
brasileiro tiveram o objetivo de fazer parcerias para a produção conjunta de
maquinários com cooperação técnica e crédito do Brasil.