Inflação deixará brasileiro
em casa durante a Copa
Com os preços ainda
mais altos por causa do Mundial, brasileiros vão preferir torcerem em frente à
TV, segundo pesquisa da CNC. Supermercados preveem aumento nas vendas
A Copa do Mundo no Brasil para a maioria dos brasileiros será pela TV,
no sofá de casa. De olho na inflação, que chegou aos 6,37% no acumulado dos
últimos 12 meses em maio — segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) —, os torcedores preferiram optar por assistir aos jogos em casa e
gastar muito pouco ou nada com lazer. É o que mostra pesquisa da Confederação
Nacional do Comércio (CNC), que coletou as intenções de consumo para os 31 dias
de Mundial de 18 mil brasileiros em todas as capitais e no Distrito Federal e
respectivas regiões metropolitanas do país em maio.
Segundo o levantamento, a maioria dos entrevistados — 74,4% — disse que
não vai viajar e 54,5% não pretendem gastar com lazer durante os jogos da seleção.
O barateamento das televisões, que baixou 4,5% em maio, segundo o IBGE, ajudou
nessa escolha, mas foi o encarecimento da alimentação fora de casa o elemento
determinante. Nos últimos 12 meses encerrados em maio, a alimentação fora do
domicílio registrou alta de 10,09% em seus preços, enquanto os alimentos e
bebidas ficaram 7,67% mais caros.
Não é à toa que a maioria das pessoas ouvidas pela CNC (53,4%) disse que
vai preferir comer em casa durante os jogos. “Independente da faixa de renda,
as famílias vão dar prioridade à comida dentro do domicílio. O que revela uma
clara noção de que a inflação está pegando nos serviços”, diz Fábio Bentes,
economista da CNC.
“Alimentar-se em casa está mais barato. Quem mora em cidades-sede já
percebeu essa pressão nos preços por causa dos jogos, um efeito comum a todos
os países que sediaram Copa e Olimpíadas. Quem vem de fora, no entanto, não tem
como fugir, mas o consumidor local tem como adotar estratégias”, completa
Bentes.
Nessa escalada de fuga dos preços altos, quem ganha é o varejo de
alimentação. De acordo com o último balanço da Associação Brasileira de
Supermercados (Abras), as vendas reais de abril tiveram expansão de 10,29% em
comparação a 2013. Há um ano, o setor tinha sofrido queda de 3,84% no seu
faturamento. A expectativa para 2014 é de um crescimento de 3% em comparação ao
ano anterior, que teve um aumento de 5%. A Copa será essencial para essa
expansão.
“Estamos otimistas, embora ainda não tenhamos condições de quantificar
esse aumento nas vendas porque há muitas décadas não temos uma Copa no país.
Mas a expectativa é que grande parte do consumo seja pontual, feito na véspera
dos jogos. Em algumas categorias, são esperadas vendas fortes, como cerveja e
refrigerantes, carnes e salgadinhos”, afirma Sussumu Honda, presidente do
Conselho Consultivo da Abras.
Segundo o executivo, o varejo vem se preparando para uma alta no
movimento mesmo com as paradas para os jogos em função da instituição de
feriados e pontos facultativos nas cidades-sede. “Para abocanhar esse movimento
de véspera, as grandes redes devem funcionar normalmente e devem parar apenas
para os jogos e reabrir logo depois”, completa Honda.
O setor de bares e restaurantes também se prepara para atrair os
torcedores. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel),
a estimativa é que o setor vá faturar 30% a mais do que no mesmo período do ano
passado e até 70% a mais em dias de jogos do Brasil. Mas, segundo a pesquisa da
CNC, a tendência é de que os bares e restaurantes tenham mais turistas do que
nativos. De acordo com o levantamento, apenas 24,2% dos brasileiros das
capitais escolheram assistir aos jogos nesses ambientes.
Para Paulo Solmucci Junior, presidente executivo da Associação
Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), há um excesso de pessimismo que
deve se dissipar quando os jogos da seleção começarem. “Não tem como a Copa não
ser boa para o setor, a menos que tenham manifestações. Estamos bastante
otimistas. O empresário vive um aperto de rentabilidade nos últimos meses,
ganhar dinheiro está mais difícil porque o segmento vem tendo pressões grandes
com mão de obra, impostos e aluguel. A margem do setor sumiu, mas o faturamento
está bom. Historicamente a Copa, é ótima para o nosso setor”, avalia Solmucci
Junior.
A confiança de que o Mundial vá trazer excelentes resultados para o
setor, no entanto, não é unânime. Parte dos empresários está receoso com a
perda de faturamento em função dos feriados e ponto facultativos nos municípios
e estados das cidades-sede da Copa, o que levaria a uma redução direta no
movimento.
“Apenas os bares e restaurantes que estão em zonas turísticas da cidade,
como a Zona Sul, é que devem se beneficiar. Mas os polos comerciais localizados
no Centro e nas zonas Norte e Oeste devem perder bastante, pois não terão o
movimento do almoço, visto que a partir do meio-dia muitos trabalhadores serão
liberados do serviço. O prejuízo será muito além dos 10%”, aponta Darcilio
Junqueira, superintende do Sindicato dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro
(SindRio).
Outro setor que prevê perder com a Copa é o comércio e parte do segmento
de serviços não ligado ao turismo. Com lojas fechadas no meio da tarde,
perde-se grande parte do faturamento. “O histórico recente das Copas mostra que
o Mundial não é tudo isso para o comércio e serviços. Há setores que perdem,
como combustíveis, farmácias, prejudicados pela queda na movimentação em função
da redução dos dias úteis” observa Fábio Bentes.
Ainda assim, para o economista, o evento deve ajudar a trazer melhores
resultados para o PIB do segundo semestre. “O consumo das famílias vai crescer,
o que deve estimular um resultado melhor do PIB no próximo trimestre do que os
0,2% do primeiro trimestre. Mas será um efeito diluído”, enfatiza Bentes.