Com a comprovação científica, a Pousada
Flutuante Uacari iniciou a operacionalização de expedições científicas para
turistas avistarem esses animais
Estudo comprova que onças vivem na copa
das árvores durante a cheia dos rios
A pesquisa foi
realizada pelo Instituto Mamirauá e não há registros de que este tipo de
comportamento ocorra em outras partes do mundo
Manaus (AM), 07 de Junho de 2014
ACRITICA.COM
Pesquisa realizada pelo Instituto
Mamirauá comprovou cientificamente que nas florestas inundáveis da Amazônia,
durante o período da cheia, as onças-pintadas (Panthera onca) permanecem em
cima das árvores durante aproximadamente três meses do ano. Desde a semana
passada, onças estão sendo avistadas diariamente na copa das árvores da Reserva
de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. Não há registros de que
este tipo de comportamento ocorra em outras partes do mundo.
"Esse é um comportamento inédito
para grandes felinos, que precisam de grandes quantidades de alimento todos os
dias para sobreviver e que até agora eram considerados terrestres",
afirmou o pesquisador Emiliano Esterci Ramalho, responsável pelo Projeto
Iauaretê, desenvolvido desde 2004 pelo Instituto Mamirauá, com o objetivo de
estudar a ecologia e promover a conservação da onça-pintada na várzea
Amazônica.
Ainda em 2013, os pesquisadores já
haviam avistado os espécimes nas árvores, um, inclusive, com seu filhote:
"Seguindo a trilha do GPS de uma das nossas onças-pintadas encoleiradas,
uma fêmea, a achamos com seu filhote de seis meses vivendo numa árvore a 12km
de distância do solo seco mais próximo. O filhote dormiu na nossa frente. Isso
implica que as onças-pintadas fêmeas estão vivendo nas árvores e nadando
diariamente para outras árvores para conseguir caçar presas", relatou
Emiliano.
O ambiente da várzea da Reserva
Mamirauá possui características bem específicas, como a variação do nível d'
agua, variando anualmente em média 10 metros. Segundo o pesquisador, o comum
seria que esses animais terrestres se deslocassem para áreas não inundadas.
"Mas Mamirauá é uma ilha, então uma espécie que vive aqui dentro, vai ter
que necessariamente cruzar o rio Amazonas toda vez que encher, ou seja, não é a
melhor ideia. A alternativa é subir muito bem em árvores. O senso comum diz que
"gato não gosta de água", o que não é o caso das onças, ou seja, em
teoria, elas podem viver em Mamirauá".
Na opinião do pesquisador, a descoberta
tem sérias implicações para a conservação da onça-pintada e levanta outras
questões sobre o comportamento e a ecologia de grandes carnívoros. "As
florestas de Várzea, que foram esquecidas em propostas de conservação para a
onça-pintada no passado, são áreas extremamente importantes para a onça-pintada
na Amazônia porque abrigam um grande número de onças-pintadas, são áreas de
reprodução da espécie, e também porque os animais que vivem nessa região da
Amazônia tem uma ecologia única. Aumentar o número de áreas protegidas na
várzea pode ser crucial para a sobrevivência das onças-pintadas na
Amazônia", afirmou.
Turismo científico
Com a comprovação científica de que as
onças de Mamirauá permanecem na copa das árvores, a Pousada Flutuante Uacari,
em parceria com a equipe de pesquisa do Projeto Iauaretê, iniciou a
operacionalização de expedições científicas para turistas avistarem esses
animais. "É a primeira expedição científica com onças-pintadas da
Amazônia", afirmou Gustavo Pereira, gestor operacional da Pousada Uacari.
As expedições são parte de uma
estratégia de conservação que tem o objetivo de aumentar o valor da
onça-pintada para as comunidades da Reserva Mamirauá. O recurso das expedições
será usado gerar benefícios econômicos para as comunidades locais e para apoiar
a continuidade do projeto de pesquisa com onças-pintadas visando reduzir o
conflito entre onças e comunidades locais. A Pousada Uacari é um projeto de
turismo de base comunitária, cuja gestão é compartilhada entre o Instituto
Mamirauá e comunidades da Reserva Mamirauá.
*Texto de Eunice Venturi/Assessoria de imprensa do Instituto
Mamirauá