Esperança e história
Assim como caiu o
Muro de Berlim em 1989, um dia haverá paz na Terra Santa entre israelenses e
palestinos
Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
Em 1985, Berlim era uma cidade dividida pelo muro. No lado ocidental,
vivia-se com a liberdade de expressão de qualquer grande centro da Europa
democrática. No lado oriental, porém, o clima era pesado, não pelo comunismo
ali instalado desde 1945, mas muito mais pela presença de tropas da União
Soviética. Os turistas deparavam-se com uma situação estranhíssima. Para
visitarem atrações no setor comunista, tinham de pegar o metrô e saltar na
estação de Friedrichstrasse. Antes, o trem passava lentamente por cinco
estações fantasmas, protegidas por guardas e cães pastores. Em
Friedrichstrasse, tinham de apresentar o passaporte e passar pela aduana (havia
até freeshop de cigarros e bebidas). Turistas e alemães com mais de 60 anos
podiam transitar de um lado para o outro, mas só até as dez horas da noite.
Quem ia ao Berliner Ensemble, criado por Bertolt Brecht, era obrigado a deixar
o teatro no meio da peça. E sair correndo para embarcar no último metrô.
Depois de uma semana de perplexidade, um brasileiro comentou com alemães
ocidentais que o Muro de Berlim, que foi erguido pelos russos no auge da Guerra
Fria em 1961, não fazia mais sentido algum. Era uma vergonha uma das principais
capitais europeias ser partida em dois na beira do Terceiro Milênio. O Muro era
um anacronismo que não resistiria à virada do século. Sua previsão foi recebida
com risos e profundo ceticismo. Só mesmo um estrangeiro, ignorante da realidade
das duas Alemanhas, para acreditar no fim da divisão. O turista não recuou em
seu comentário. E a História acabou por lhe dar razão, mais rápido do que ele
esperava. Quatro anos depois, no dia 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim
foi derrubado, sem qualquer reação dos ocupantes do Kremlin. Três anos depois,
a própria União Soviética foi extinta.
Se a unificação da Alemanha parecia delírio de um estrangeiro, o mesmo
ceticismo envolve hoje o conflito entre israelenses e palestinos. A questão
também se tornou mais aguda, após a criação de Estado de Israel pela ONU, em 1948,
com o voto do Brasil. A partilha inicial da antiga Palestina durou pouco.
Atacado por países árabes, Israel ampliou seu território e instalou colônias em
áreas que antes pertenciam aos palestinos. Desde então, o Oriente Médio ou
enfrenta guerras formais ou sofre com o terrorismo. São gerações e gerações que
não sabem o que é viver em paz. Mas é preciso acreditar no impossível. E é
exatamente isso que o Papa Francisco fez ao unir em oração, em Roma, no
domingo, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade
Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. “É preciso mais coragem para fazer a paz do
que a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro, e não ao
confronto”, afirmou Francisco, ao plantar uma oliveira nos Jardins do Vaticano,
com o auxílio dos dois líderes.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se recusa a manter
relações com o governo palestino. E o grupo islâmico Hamas continua a apostar
na guerra como solução para os palestinos. Porém, assim como caiu o Muro de
Berlim, um dia haverá paz na Terra Santa. “Uma paz entre iguais”, disse Peres.
“Uma paz para nosso povo e para nossos vizinhos”, completou Abbas. O avanço
pode não ser imediato. Mas os jovens em Tel Aviv e em Gaza querem o fim do
conflito. Símbolo de esperança, a juventude fez história na Alemanha e também
fará no Oriente Médio.