De volta ao futuro
Não são cinco, são
14. O renomado economista indiano Deepak Nayyar, 67 anos, professor emérito da
Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Delhi, diz que os emergentes vitoriosos
do século 21 não se limitam aos cinco famosos do Brics (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul)
Florência Costaflorencia.costa@brasileconomico.com.br
Além desses, Nayyar — que lecionou nas Universidades de Oxford e de
Sussex, na Inglaterra, e na New School for Social Research, em Nova York — cita
mais nove países emergentes com chances de vencer a chamada corrida pelo
crescimento. Ele faz uma inusitada análise da história econômica dos países em
desenvolvimento, desde o segundo milênio até hoje, em seu livro “A Corrida pelo
Crescimento: países em desenvolvimento na economia mundial” (Editora
Contraponto e Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o
Desenvolvimento), que acaba de ser lançado no Brasil.
Deepak Nayyar provavelmente é um dos primeiros a navegar pela história
econômica dos países em desenvolvimento em um período tão longo. Ele lembra que
boa parte da história foi escrita de uma perspectiva europeia. Seu olhar, é
claro, é de quem pertence ao mundo emergente. O destaque nessa viagem feita por
Nayyar fica para a segunda metade do século 20 e a primeira década do século
21, quando os países em desenvolvimento passaram a atrair os holofotes na sua
direção. Alguns deles, como China e Índia, ressuscitaram das cinzas, após um
passado glorioso. A constatação central é de que o equilíbrio do poder
econômico global está mudando novamente. Dessa vez, na direção de um mundo mais
multipolar.
Os “Próximos 14” — como chama Nayyar — estão em três continentes. Na
Ásia, além de China e Índia, há Turquia, Indonésia, Malásia, Coreia do Sul,
Tailândia e Taiwan. Na África, além da África do Sul, o Egito (mas hoje esse país
carrega um pesado ponto de interrogação nos ombros). Na América Latina, além do
Brasil, o México, o Chile e a Argentina (que, no entanto, encara sérios
problemas econômicos).
Em seu livro, o economista contrasta as diferenças entre países
industrializados e em desenvolvimento no século 19 e início do século 20.
Nayyar apoia seus argumentos pesquisando dados como Produto Interno Bruto
(PIB), comércio, produção industrial, população, desigualdade e planos de
combate à pobreza. Alguns países hoje descritos como em desenvolvimento tinham
uma importância esmagadora até o final do século 18. No caso das civilizações
milenares, o auge foi entre os anos 1000 e 1500.
A Ásia era o centro da economia global naquela época: China e Índia,
sozinhas, concentravam metade dos habitantes do mundo. Esse cenário começou a
mudar na primeira fase do colonização, até os anos 1800, com a descoberta dos
novos mundos. E aí houve a revolução industrial. Mas mesmo em 1820 — ou seja,
menos do que 200 anos atrás — a Índia e a China ainda representavam 50% da
população e da renda global.
Após a metade do século 19 até meados do século 20 — em um curto espaço
de tempo de apenas 130 anos — a transformação na economia mundial foi profunda.
A quota dos países em desenvolvimento (chamados de “O Resto”) no PIB mundial
caiu de 63,1% em 1820 para 27,1% em 1950. Esse declínio dramático ocorreu em
grande parte devido à queda do PIB na Índia e na China. Nos anos 50, a Ásia
representava apenas um décimo da economia europeia. No mesmo período, o
“Ocidente” aumentou sua porção do PIB de 36,9% em 1820, para 72,9%, em 1950.
Os emergentes são muito diferentes uns dos outros e essa é uma
característica sempre ressaltada nas análises sobre o Brics. Mas um dos fatores
que eles têm em comum é o de que começaram a industrialização tardiamente, depois
dos anos 50. O crescimento econômico dos emergentes tornou-se mais veloz a
partir dos anos 80. Nayyar ressalta que esse processo de industrialização tem
sido, no entanto, vitorioso.
Observando a quota da produção mundial, do comércio, da produção global
de manufaturas e da população, os países em desenvolvimento voltaram a um ponto
favorável a partir de 2010, equivalentes ao momento que viviam em 1820. Nayyar
explica que o avanço dos emergentes, em décadas recentes, tem mais a ver com os
passos que a Ásia deu. Nesse caso, entre os países em desenvolvimento,
destaca-se especialmente a China, segunda maior economia do mundo, e a Índia, a
terceira economia da Ásia.
Na sua análise sobre o futuro da economia mundial, ele considera
essencial focar em uma perspectiva de longo prazo, mais do que pensar em quatro
meses ou em um ano: o horizonte de tempo deveria ser 2030 e não 2015.
Após décadas de políticas públicas voltadas para o crescimento, faria
sentido que o mundo fosse mais igualitário, mas há imensas diferenças entre os
países industrializados e os países em desenvolvimento. O livro de Nayyar trata
também das razões disso.
Mas os emergentes serão capazes de reproduzir o seu passado? Depende.
Nayyar afirma que eles sustentarão o seu crescimento econômico apenas se houver
um amplo processo inclusivo na divisão da prosperidade.