Queda de 0,6% no PIB do 2º
trimestre coloca economia em recessão técnica
Recuo e revisão do
crescimento da economia no primeiro trimestre acende sinal de alerta no país.
Indústria e investimentos foram os principais responsáveis pelo mau desempenho
Bruno Dutrabruno.dutra@brasileconomico.com.br
Rio - O Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) teve queda de 0,6%
no segundo trimestre de 2014, em relação aos primeiros três meses do ano. O
valor ficou em R$ 1,27 trilhão. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgou hoje o indicador, que havia caído 0,2% no trimestre anterior.
Já em 12 meses, com o dado do segundo trimestre, há um crescimento acumulado de
1,4%.
O melhor desempenho neste trimestre foi registrado pelo setor de
agropecuária, que cresceu 0,2% em relação aos últimos três meses. A pós a
revisão do crescimento do primeiro trimestre do ano, o fraco desempenho da
economia brasileira caracteriza um quadro chamado pelos economistas de recessão
técnica, processo que o país enfrentou no auge da crise financeira
internacional entre 2008 e 2009. A economia, naquele ano, registrou recuo de
4,2% e de 1,7% respectivamente, na mesma base de comparação.
“Nós conseguimos observar trimestres consecutivos de queda em setores
essenciais para o crescimento da economia do país. Sendo assim, podemos afirmar
que existe recessão técnica na economia brasileira. Nas contas nacionais como
um todo, estamos observando esse movimento”, afirmou o economista-chefe do
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de
Souza, para quem a indústria de transformação, o setor de construção e o
comércio puxaram para baixo o indicador.
Em relação ao primeiro trimestre, o setor que mais registrou recuo foi o
da indústria, com queda de 1,5%. Na comparação com o mesmo trimestre do ano
anterior, a queda foi ainda maior, de 3,4%, a maior queda desde o primeiro
trimestre de 2009, quando caiu 11,6%. Já o setor de construção civil teve
queda, na margem, de 2,9%. De acordo com o economista do Iedi, a recessão está
focada especialmente nos dois setores.
“Esses dois setores estão nitidamente em recessão. A construção, por sua
vez, está vivendo o final de um longo ciclo de expansão. Já a indústria de
transformação apresenta um problema estrutural de longo prazo com altos e
baixos, mas, agora, está claro que está em um momento difícil, com produção em
baixa e desemprego”, avaliou o economista do Iedi.
Pelo lado da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu 5,3%
no 2º trimestre, frente ao trimestre anterior. Comparado ao mesmo período de
2013, o setor teve retração de 11,2%. Nesse item são incluídos os investimentos
em máquinas e equipamentos, investimento em infraestrutura e aumento no estoque
de bens duráveis, usados para o aumento da produção. A queda nos investimentos
também caiu pela quarta vez consecutiva e mostra desconfiança dos empresários
brasileiros com o futuro da economia do país.
“A economia está com claro problema de competitividade. O salário cresce
mais que os preços e isso deixa o empresariado com certeza de que não vai
lucrar e os investimentos caem”, explica o economista-chefe da Opus
Investimentos, José Márcio Camargo.
A crise na Argentina também afetou diretamente o desempenho da economia
brasileira, como ressaltam os economistas. Grande parceiro do Brasil nas
importações, o país vizinho é um dos grandes compradores de bebidas, alimentos
e automóveis. Esse último, um dos motivos da queda na produção do setor
automobilístico brasileiro.
“Houve queda nas exportações de automóveis, mas esse não é o principal
problema do setor. Houve muito incentivo para aquecer a venda de carros nos
últimos anos com a desoneração e isso inflou o setor que, agora, está com
produção em baixa. Além disso, o consumidor está endividado e também não
consegue crédito para comprar”, diz Camargo.