Marina e o desejo de mudança
A primeira pesquisa com Marina Silva no lugar
de Eduardo Campos confirmou sondagens feitas pelos partidos políticos desde a
morte do neto de Miguel Arraes
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Segundo o Datafolha, a ex-ministra aparece com 21% das intenções de voto, ao
lado de Aécio Neves (20%), mas atrás de Dilma Rousseff (36%). Porém, na
simulação de segundo turno, ela surge à frente da presidente, com 47% contra
43%. Se o número surpreende, haverá novidade ainda maior nos próximos dias. O
Datafolha fez entrevistas na quinta e na sexta-feira, antes, portanto, do
velório e do cortejo fúnebre pelas ruas do Recife. Àquela altura, o PSB ainda
resistia à promoção da vice para cabeça de chapa. Ontem, informações
preliminares de instituto de pesquisa que estava em campo mostravam vantagem
muito maior de Marina. Ela já teria de sete a oito pontos sobre Aécio e igual
distância para Dilma no segundo turno.
Os novos dados sobre a reviravolta na corrida sucessória vão ter
forte impacto. Mas o PT e o PSDB continuam a fazer o possível para demonstrar
tranquilidade, ao mesmo tempo em que tentam desqualificar o avanço da candidata
apoiada pela família do ex-governador de Pernambuco. Petistas e tucanos afirmam
que o fenômeno é passageiro e se deve em grande parte à comoção com a tragédia
aérea de Santos.
Assim que a poeira baixar e o clima de emoção se desfizer, a
candidatura de Marina perderia fôlego e se estabilizaria em torno do patamar de
2010, quando ela, no Partido Verde, chegou a 19,3% dos votos, perdendo para
Dilma Rousseff e José Serra. Dizem também que a ex-ministra do Meio Ambiente
não tem a mesma aura de quatro anos atrás. Sua imagem, explicam os adversários,
sofreu desgaste em polêmicas que envolveram o aborto e o homossexualismo.
Apesar do reconhecido carisma, haveria flancos vulneráveis em seu perfil.
Passado o calor da hora, vem por aí um enorme esforço para
desconstruir Marina Silva. Um dos alvos será o seu desempenho quando comandou o
Ministério do Meio Ambiente, durante o governo Lula. Comenta-se, nos bastidores
de campanha, que Marina não se saiu bem na atividade executiva e nem de longe
sua experiência administrativa pode ser comparada à de Aécio ou à de Dilma. Há
quem lembre que, em seus tempos de poder, o IBAMA levantou graves obstáculos ao
licenciamento ambiental, a ponto de provocar atrasos em grandes obras de
interesse público. Serão apontadas também suas dificuldades de relacionamento
com o agronegócio, além das resistência de grupos dentro do próprio PSB.
A munição está sendo acumulada para ser usada nos debates e nos
programas de TV. Resta saber se conseguirá estancar a atropelada da candidata
do PSB na reta final. Um respeitado especialista em pesquisa de opinião
advertia ontem que é um equívoco atribuir somente à comoção as intenções de
voto em Marina. Ele afirma que a ex-ministra de Lula tem tudo para encarnar o
desejo de mudança que tomou conta das ruas do país nas manifestações de junho
do ano passado.
Eleitores que, em protesto, pretendiam votar em branco ou anular
o voto podem ver na ambientalista a alternativa aos padrões convencionais.
Marina Silva representaria o voto contra a política tradicional. Em 2010, com
apenas um minuto na propaganda eleitoral, ela conquistou 20 milhões de votos.
Agora, terá 2 minutos e 3 segundos e representa séria ameaça ao sonho de
reeleição de Dilma Rousseff.