Que economia é essa?
Além da visão cada vez mais crítica de
economistas de diferentes matizes, o governo não consegue convencer com sua
pregação otimista
ocosta@brasileconomico.com.br
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi enfático ao afastar essas
três sombras que frequentam as análises econômicas recentes”. É isso mesmo. Em
audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Tombini rebateu os
críticos do governo e afirmou que a economia brasileira vai bem, obrigado. “Que
crise é essa que nós estamos no menor nível de desemprego de todos os tempos.
Que crise é essa que a inflação está sob controle?”, desafiou. Aproveitou a ida
ao Congresso para descartar também a preocupação do FMI com nossas contas
externas. Equiparou a situação do Brasil às do Canadá e do Reino Unido e
garantiu que “estamos melhores que a França e uma série de outros países”.
Ao tempo de Santo Agostinho, usava-se uma expressão para se
referir à visão da Igreja Católica sobre questões polêmicas: “Roma Locuta,
Causa Finita”. Ou seja, Roma falou, a causa estava encerrada. Obviamente, tanto
Alexandre Tombini quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, gostariam que a
opinião do governo prevalecesse nas discussões sobre os rumos da economia
brasileira. Deveria caber a eles a última palavra. Até que funcionou assim
enquanto a economia respondeu aos estímulos ao consumo. O BC e a Fazenda foram
alvo de reverências aqui e no exterior. Mantega, que enfrentou com sucesso os
piores momentos da crise internacional, passou a ter destaque nos foros
multilaterais. E o Brasil frequentou com assiduidade as capas de jornais e
revistas na Europa e nos Estados Unidos.
Mas os dias de euforia ficaram para trás. Hoje, a palavra da
equipe econômica é questionada a toda hora. Além da visão cada vez mais crítica
de economistas de diferentes matizes, o governo não consegue convencer com sua
pregação otimista. Por mais que Tombini e Mantega se mostrem tranquilos,
continua muito baixo o índice de confiança de empresários e consumidores. Os
fatos têm mais força do que as palavras de Brasília. No dia seguinte à fala do
presidente do BC no Senado, vieram à luz novos números decepcionantes sobre o
crescimento do país. Segundo a Anfavea, a produção de carros e veículos leves
caiu 20,5% em julho, comparada ao mesmo mês de 2013. Foi o pior resultado da
indústria automobilística desde 2006. “Houve uma quebra muito grande, e não
esperada, na confiança do consumidor brasileiros no primeiro semestre”,
explicou o presidente da Anfavea, Luiz Moan Yabiku Júnior.
As agruras do setor automotivo começam a se refletir no nível de
emprego, com férias coletivas e lay-offs. Em julho, houve redução de 4,2% no estoque
de mão de obra, em prejuízo de 6,6 mil trabalhadores. A retração da indústria
nacional não está restrita ao universo das montadoras. Segundo dados do IBGE, a
queda de 1,4% na produção industrial entre maio e junho foi provocada por recuo
da atividade em 11 das 14 regiões pesquisadas. Só houve avanço no Rio de
Janeiro, Espírito Santo e Goiás. Em evento na Fundação Getúlio Vargas, o
próprio presidente do BNDES, Luciano Coutinho, admitiu que as empresas estão
adiando investimentos. “Isso já é perceptível na redução no número de consultas
ao banco. Este é um período de incerteza”.
Em que acreditar? No otimismo do Banco Central ou no
realismo do BNDES?