Incerteza também na
economia
Será divulgado hoje
o resultado de junho do IBC-Br, a prévia do PIB calculada pelo Banco Central
Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
As estimativas do mercado financeiro, até ontem, não eram boas. O
Departamento Econômico do Bradesco, por exemplo, previa, na margem, uma queda
de 1,4%, fortemente influenciada pelos feriados durante a Copa do Mundo. Indicador
nessa direção foi o comportamento das vendas no varejo naquele mesmo mês,
anunciado ontem pelo IBGE. Registrou-se o terceiro resultado mensal negativo e
o pior desde maio de 2012, com queda generalizada das atividades. As vendas
caíram 0,7% em junho, em comparação a maio. O pior desempenho foi do grupo
veículos e motos, com queda de 12,9%. Só salvou-se o setor de supermercados e
produtos alimentícios. Para agravar o quadro, o IBGE revisou, para baixo, o
levantamento referente a maio: a alta foi de 0,3%, e não de 0,5%.
A economia, portanto, fechou o primeiro semestre mal e, apesar de alguns
sinais de avanço em julho — em grande parte, pelos 31 dias completos —, não
deve se recuperar até o fim do ano. E este foi exatamente um dos alvos das
críticas à política econômica feitas pelo ex-governador Eduardo Campos em sua
última entrevista, ao “Jornal Nacional”, na noite de terça-feira. Além de
alertar que o governo Dilma Rousseff “está guardando na gaveta” reajustes dos
preços de energia e combustíveis, ele voltou a afirmar que o Brasil, este ano,
foi goleado de 7 a 1 na economia, com inflação anual de cerca de 7% e
crescimento abaixo de 1%. Na Globonews, sua análise foi ainda mais contundente:
“Esse governo é o único governo que vai entregar o Brasil pior do que recebeu.
Nós vamos estar pior na economia, pior na questão da violência, pior na
logística, pior na relação externa com o resto do mundo”.
Seria exagero do candidato do PSB? Pura retórica de quem procurava
ampliar seu espaço na corrida sucessória? Tudo indica que não. Eduardo Campos,
na verdade, estava reverberando um sentimento de importantes segmentos do setor
produtivo. É crescente a incerteza. Basta ver o Indicador de Clima Econômico
(ICE), que mede a opinião de 140 especialistas em conjuntura ouvidos pelo
instituto alemão Ifo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).
Entre abril e julho, a avaliação sobre a expectativa para os próximos seis
meses recuou 22%, de 71 pontos para 55 pontos. Trata-se do pior resultado desde
de 1991 e põe o Brasil atrás do Chile, do Equador e até mesmo da Argentina,
esta última com 57 pontos. Segundo Lia Vals, da FGV, pesam nas projeções
negativas a taxa de inflação e as previsões de um PIB de apenas 0,86%, de
acordo com a mais recente pesquisa Focus.
O quadro, portanto, não é animador. Mas não chega a justificar
declarações extremadas como a do presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, na
terça-feira, em São Paulo. Depois de explicar que medidas paliativas não
resolvem os problemas estruturais, o dono da CSN afirmou que, na percepção dos
empresários, ainda há uma margem para a situação piorar. E concluiu: “Só louco
investe no Brasil”. Com a morte de Eduardo Campos, a declaração de Steinbruch
desapareceu do noticiário. Mas lembrou a de outro presidente da Fiesp, Mario
Amato, diante da possibilidade de Lula ser eleito em 2002: “Se Lula ganhar, 800
mil empresários vão deixar o país”.
Da mesma forma que não houve êxodo, a GM, ontem, anunciou investimentos
de R$ 6,5 bilhões no Brasil. E não tem nada de louca.