ONU: Gaza pode ficar ‘inabitável’ em menos de cinco
anos devido ao conflito de 2014 e à estagnação atual
Um novo relatório
da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)
alerta para a situação dos refugiados da Palestina em Gaza, após 8 anos de
bloqueio econômico e três operações militares.
Crianças palestinas
na Faixa de Gaza. Foto: ONU/Milton Grant
Um novo relatório da
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) sobre a
assistência ao povo palestino, lançado nesta terça-feira (1), afirma que Gaza pode se tornar
“inabitável” até 2020 caso as tendências econômicas atuais persistam.
Além de oito anos
de bloqueio econômico, nos últimos seis anos Gaza suportou três operações
militares que abalaram sua capacidade de exportar e produzir para o mercado
interno, devastaram a infraestrutura já debilitada, não deixaram tempo para a
reconstrução e recuperação econômica e aceleraram o “de-development” – processo
pelo qual o desenvolvimento não é apenas impedido mas também revertido – do
Território Palestino Ocupado.
O relatório destaca
as crises severas em Gaza relacionadas a água e eletricidade, bem como a
destruição de infraestruturas vitais durante as operações militares em julho e
agosto de 2014. Por exemplo, 1,8 milhão de habitantes de Gaza dependem de
aquíferos costeiros como sua principal fonte de água doce, mas 95% dessa água
não é segura para beber.
O documento também
estima que as perdas diretas (excluindo as pessoas mortas) das três operações
militares, que aconteceram entre 2008 e 2014, equivalem a três vezes o produto
interno bruto de Gaza. Entretanto, o custo total pode ser substancialmente
maior quando as perdas econômicas indiretas estão incluídas e são adicionados
fluxos de renda futura perdidos e capacidades produtivas destruídas.
Além das 500 mil
pessoas que foram deslocadas em Gaza como resultado da operação militar mais
recente, o relatório estima perdas econômicas significativas, incluindo a
destruição ou danos graves de mais de 20 mil casas palestinas, 148 escolas, 15
hospitais e 45 centros primários de saúde.
Também 247 fábricas
e 300 centros comerciais foram total ou parcialmente destruídos. Danos graves
foram infligidos à única usina elétrica de Gaza. Somente o setor agrícola teve
550 milhões de dólares em perdas.
Estima-se que,
mesmo antes das operações militares em julho e agosto de 2014, a capacidade de
oferta de energia elétrica de Gaza não era suficiente para satisfazer 40% da
demanda, segundo dados de 2012. A crise de eletricidade e energia é agravada
também pelo fato de a Autoridade Nacional Palestina não ter permissão de
desenvolver e utilizar os campos de gás natural descobertos desde a década de
1990 na costa mediterrânea de Gaza.
Em 2014, o
desemprego em Gaza atingiu 44%, o maior nível já registrado. O desemprego é
particularmente grave entre as mulheres jovens refugiadas, com 8 em cada 10
mulheres desempregadas. O bem-estar econômico dos palestinos que vivem na Faixa
de Gaza é pior hoje do que há duas décadas.
O produto interno
bruto per capita diminuiu em 30% desde 1994. A insegurança alimentar afeta 72%
das famílias e o número de refugiados palestinos que dependem de distribuição
de alimentos de agências das Nações Unidas aumentou de 72 mil em 2000 para 868
mil em maio de 2015, o que representa metade da população de Gaza.
O relatório
sustenta que, mesmo antes das três operações militares, o bloqueio econômico em
vigor desde 2007 já tinha levado à interrupção de operações produtivas e perda
de emprego. As exportações a partir de Gaza foram quase completamente
bloqueadas, importações e transferências de dinheiro severamente restringidas e
os bens humanitários mais básicos suspensos.
O documento alerta
que o apoio dos doadores continua sendo uma condição necessária, mas
insuficiente para a recuperação e reconstrução de Gaza. A ajuda dos doadores
continuará sendo de vital importância, mas não irá reverter o “de-development”
e o empobrecimento em curso.