domingo, 27 de fevereiro de 2011

A RECENTE CRISE POLÍTICA NO NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO

CMG (RM-1) MÁRCIO BONIFÁCIO MORAES
       

  Prezados amigos, todos renomados profissionais da área de Inteligência ou estudiosos das áreas de Relações Internacionais e Geopolítica.
        
O mundo assiste perplexo uma série de acontecimentos que já culminaram com a queda de dois presidentes (Tunísia e Egito) e mais um, o da Líbia, deverá ocorrer em questão de horas ou dias.
        
 Manifestações populares também ocorrem no Irã, no Bahrein, na Jordânia e até no Iraque.
        
 Em nenhuma análise prospectiva que tenha lido recentemente, foi feita qualquer menção a esses acontecimentos levando a crer que o mundo foi surpreendido com esses fatos. Onde estava a Inteligência Estratégica que não conseguiu prever esses fatos?
        
Tenho procurado estudar com afinco a questão tentando entender o que está acontecendo. Realizei uma breve análise dos principais atores mundiais capazes de apoiar esses movimentos e com as suas motivações. Entretanto, não consegui vislumbrar nenhum que pudesse estar direta e/ou indiretamente envolvido na questão. Consegui identificar os seguintes:
EUA – atualmente mais preocupado com os seus problemas internos e colocar fim nos conflitos militares que está envolvido. Era “aliado” ou apoiava discretamente pelo menos um desses países, o Egito. Não tem o menor interesse em criar áreas de instabilidade ou fricção no Norte da África e no já conturbado Oriente Médio. A questão foge a linha de política externa do governo Obama.
UNIÃO EUROPÉIA – tem adotado reações tímidas sobre a questão. Seus países parecem surpreendidos com esses movimentos populares. Só poderá ser prejudicada com aumento do fluxo de refugiados e imigrantes ilegais que tentam chegar ao continente.
ISRAEL – Não deseja criar turbulências na região. Tinha no Egito um dos seus únicos aliados no contexto dos países árabes.
MOVIMENTOS ISLÂMICOS RADICAIS – também não tem sido possível identificar a sua presença marcante nos movimentos. Todos os países que depuseram os seus presidentes não falam em torná-los fundamentalistas. Pelo contrário, desejam a religião afastada do Estado.
RÚSSIA – Embora venha lucrar com o aumento do preço do petróleo, uma das suas principais fontes de renda, parece mais preocupada com seus problemas internos (restaurar as Forças Armadas, a infraestrutura do país e o terrorismo).
        
 Fala-se muito que esses movimentos teriam sido fomentados pelas redes de relacionamento que permitem uma articulação rápida entre seus integrantes. Entretanto, de acordo com indicadores de 2009 sobre o número de internautas pelo mundo o Oriente Médio e África são os continentes que apresentam o menor número de usuários de computadores (Revista Diplomatie). Ademais, esses governos já exerciam forte controle sobre as redes de relacionamento social e até sobre a própria imprensa.
        
 Finalmente, quem estaria dando suporte e fomentando esses movimentos. Em todos eles, os ativistas dão muito destaque a palavra democracia.  Entretanto, salvo minha falha, nenhum deles já teve regime democrático anteriormente.
        
 O que estaria realmente acontecendo nesses países? Nós bem sabemos que movimentos desse caráter só prosperam e têm sucesso se tiverem apoio financeiro e político externo. Como exemplo, cito a questão da ex-Iugoslávia, do Kosovo e dos demais países do Leste Europeu (desintegração ex-URSS).
        
Existem rumores de que esses movimentos poderiam se espalhar até por outros continentes, como é o caso da Venezuela e até da China.
        
 Assim, estamos diante de um enigma e de uma situação instigante para os profissionais das áreas de Inteligência, de relações internacionais e de geopolítica. Se os prezados amigos tiverem alguma idéia, sugestão ou desejarem cooperar sobre esse tema, por favor, me enviem suas idéias e análises.