quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Ponto Final - Caracas não é Kiev
26/02/14 10:45 | Octávio Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)
Enquanto a Ucrânia é peça estratégica no xadrez internacional, a Venezuela sofre os efeitos da forte divisão política interna
Em entrevista na abertura do VII Encontro Empresarial Brasil União Europeia, em Bruxelas, a presidente Dilma Rousseff foi pressionada a se manifestar sobre a crise política na Venezuela. Sua simpatia pelo regime chavista é notória, mas a situação no país vizinho fugiu da normalidade e o governo brasileiro, por enquanto, vinha adotando um distanciamento conveniente. Nessas circunstâncias, até que Dilma foi bem objetiva. "Não cabe ao Brasil discutir a história da Venezuela, nem o que a Venezuela deve fazer, porque isso seria contra o que nós defendemos em termos de política externa". Ela também fez questão de ressaltar que "a Venezuela não tem uma situação igual à que aconteceu na Ucrânia". E ficou por aí.
A Venezuela, obviamente, não é a Ucrânia. E vive um conflito que nada tem de semelhante com o da nação do Leste Europeu. O que se vê em Caracas e nas outras grandes cidades é o descontentamento crescente da classe média em relação ao governo Nicolás Maduro. Após ser eleito com uma margem muito pequena para quem se apresentava como herdeiro de Hugo Chávez, o ex-motorista de ônibus não tem mostrado competência para administrar os problemas de seu país. Falta-lhe de tudo. Não tem a inteligência de Chávez e muito menos o carisma. Maduro imita a fanfarronice, mas nem aí tem êxito. Seus discursos são teatrais e ridículos.
Qual um Macbeth enlouquecido, Maduro vê inimigos por toda parte. Com a inflação em alta e o desabastecimento na porta, ele adota medidas delirantes como a criação do ministério da Felicidade Suprema. Atira na oposição e tenta calar os meios de comunicação. Em sua última investida, expulsou a CNN, como se os repórteres da emissora, todos venezuelanos, fossem responsáveis pelos protestos nas ruas. Seu discurso pode funcionar entre os próprios aliados, mas não passa disso. Triste é pensar que a Venezuela já foi o país mais democrático da América do Sul. Resistiu até mesmo à onda autoritária que se abateu sobre o Cone Sul nos anos 60 e 70.
O problema da Venezuela tem nome e sobrenome: Nicolás Maduro. Bem diferente é a situação da Ucrânia. A exemplo do que aconteceu com a Polônia no pós-guerra, a Ucrânia está no centro de uma intrincada disputa geopolítica. De um lado atuam os Estados Unidos e a União Europeia, interessados em que o país se volte de vez para o Ocidente. De outro, age o todo poderoso Vladimir Putin, disposto a manter Kiev na órbita de influência da Rússia. Ele tenta restaurar o status quo dos tempos dos tzares. O leste da Ucrânia é ocupado há séculos por descendentes russos. O país integrou a União Soviética e sofreu horrores nas mãos do ditador Josef Stálin (com seu programa de coletivização, o georgiano teria sido responsável pela morte de milhões de pessoas na Ucrânia). Nos tempos da Revolução Russa, muitos judeus ucranianos partiram para o exílio e alguns deles vieram parar no Brasil, como os pais de Clarice Lispector e a família Bloch.
Enquanto a Ucrânia é peça estratégica no xadrez internacional, a Venezuela sofre os efeitos da forte divisão política interna. Kiev depende da energia fornecida pela Rússia e também das encomendas russas para manter o nível de suas exportações. Não será tão fácil se afastar de Moscou. Já a Venezuela é rica em petróleo e só depende de suas próprias forças. Tem tudo para sair da crise. Mas corre o risco de cair de Maduro.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O QUE FOI 31 DE MARÇO DE 1964

O QUE FOI 31 DE MARÇO DE 1964
Por Alexandre Garcia
 
Gostaria de dizer algumas coisas sobre o que aconteceu no dia 31/03/1964 e nos anos que se seguiram. Porque concluo, diante do que ouço de pessoas em quem confio intelectualmente, que há algo muito errado na forma como a história é contada. Nada tão absurdo, considerando as balelas que ouvimos... sobre o "descobrimento" do Brasil ou a forma como as pessoas fazem vistas grossas para as mortes e as torturas perpetradas pela Igreja Católica durante séculos. Mas, ainda assim, simplesmente não entendo como é possível que esse assunto seja tão parcial e levianamente abordado pelos que viveram aqueles tempos e, o que é pior, pelos que não viveram. Nenhuma pessoa dotada de mediano senso crítico vai negar que houve excessos por parte do Governo Militar. Nesta seara, os fatos falam por si e por mais que se tente vislumbrar certos aspectos sob um prisma eufemístico, tortura e morte são realidades que emergem de maneira inegável. 
Ocorre que é preciso contextualizar as coisas. Porque analisar fatos extirpados do substrato histórico-cultural em meio ao qual eles foram forjados é um equívoco dialético (para os ignorantes) e uma desonestidade intelectual (para os que conhecem os ditames do raciocínio lógico). E o que se faz com relação aos Governos Militares do Brasil é justamente ignorar o contexto histórico e analisar seus atos conforme o contexto que melhor serve ao propósito de denegri-los.
Poucos lembram da Guerra Fria, por exemplo. De como o mundo era polarizado e de quão real era a possibilidade de uma investida comunista em território nacional. Basta lembrar de Jango e Jânio; da visita à China; da condecoração de Guevara, este, um assassino cuja empatia pessoal abafa sua natureza implacável diante dos inimigos.
Nada contra o Comunismo, diga-se de passagem, como filosofia. Mas creio que seja desnecessário tecer maiores comentários sobre o grau de autoritarismo e repressão vivido por aqueles que vivem sob este sistema. Porque algumas pessoas adoram Cuba, idolatram Guevara e celebram Chavez, até. Mas esquecem do rastro de sangue deixado por todos eles; esquecem as mazelas que afligem a todos os que ousam insurgir-se contra esse sistema tão "justo e igualitário". Tão belo e perfeito que milhares de retirantes aventuram-se todos os anos em balsas em meio a tempestades e tubarões na tentativa de conseguirem uma vida melhor.
A grande verdade é que o golpe ou revolução de 1964, chame como queira, talvez tenha livrado seus pais, avós, tios e até você mesmo e sua família de viver essa realidade. E digo talvez, porque jamais saberemos se isso, de fato, iria acontecer. Porém, na dúvida, respeito a todos os que não esperaram sentados para ver o Brasil virar uma Cuba.
Respeito, da mesma forma, quem pegou em armas para lutar contra o Governo Militar. Tendo a ver nobreza nos que renunciam ao conforto pessoal em nome de um ideal. Respeito, honestamente.Mas não respeito a forma como esses "guerreiros" tratam o conflito. E respeito menos ainda quem os trata como heróis e os militares como vilões. É uma simplificação que as pessoas costumam fazer. Fruto da forma dual como somos educados a raciocinar desde pequenos. Ainda assim, equivocada e preconceituosa.
Numa guerra não há heróis. Menos ainda quando ela é travada entre irmãos. E uma coisa que se aprende na caserna é respeitar o inimigo. Respeitar o inimigo não é deixar, por vezes, de puxar o gatilho. Respeitar o inimigo é separar o guerreiro do homem. É tratar com nobreza e fidalguia os que tentam te matar, tão logo a luta esteja acabada. É saber que as ações tomadas em um contexto de guerra não obedecem à ética do dia-a-dia. Elas obedecem a uma lógica excepcional; do estado de necessidade, da missão acima do indivíduo, do evitar o mal maior.
Os grandes chefes militares não permanecem inimigos a vida inteira. Mesmo os que se enfrentam em sangrentas batalhas. E normalmente se encontram após o conflito, trocando suas espadas como sinal de respeito. São vários os exemplos nesse sentido ao longo da história. Aconteceu na Guerra de Secessão, na Segunda Guerra Mundial, no Vietnã, para pegar exemplos mais conhecidos. A verdade é que existe entre os grandes Generais uma relação de admiração.
A esquerda brasileira, por outro lado, adora tratar os seus guerrilheiros como heróis. Guerreiros que pegaram em armas contra a opressão; que sequestraram, explodiram e mataram em nome do seu ideal.E aí eu pergunto: os crimes deles são menos importantes que os praticados pelos militares? O sangue dos soldados que tombaram é menos vermelho do que o dos guerrilheiros? Ações equivocadas de um lado desnaturam o caráter nebuloso das ações praticadas pelo outro? Penso que não. E vou além.A lei de Anistia é um perfeito exemplo da nobreza que me referi anteriormente. Porque o lado vencedor (sim, quem fica 20 anos no poder e sai porque quer, definitivamente é o lado vencedor) concedeu perdão amplo e irrestrito a todos os que participaram da luta armada. De lado a lado. Sem restrições. Como deve ser entre cavalheiros. E por pressão de Figueiredo, ressalto, desde já. Porque havia correntes pressionando por uma anistia mitigada.
Esse respeito, entretanto. Só existiu de um lado. Porque a esquerda, amargurada pela derrota e pela pequenez moral de seus líderes nada mais fez nos anos que se seguiram, do que pisar na memória de suas Forças Armadas. E assim seguem fazendo. Jogando na lama a honra dos que tombaram por este país nos campos de batalha. E contaminando a maneira de pensar daqueles que cresceram ouvindo as tolices ditas pelos nossos comunistas. Comunistas que amam Cuba e Fidel, mas que moram nas suas coberturas e dirigem seus carrões. Bem diferente dos nossos militares, diga-se de passagem.
Graças a eles, nossa juventude sente repulsa pela autoridade. Acha bonito jogar pedras na Polícia e acha que qualquer ato de disciplina encerra um viés repressivo e antilibertário. É uma total inversão de valores. O que explica, de qualquer forma, a maneira como tratamos os professores e os idosos no Brasil.Então, neste dia31 de março, celebrarei aqueles que se levantaram contra o mal iminente. Celebrarei os que serviram à Pátria com honra e abnegação. Celebrarei os que honraram suas estrelas e divisas e não deixaram nosso país cair nas mãos da escória moral que, anos depois, o povo brasileiro resolveu por bem colocar no Poder.
Bem feito. Cada povo tem os políticos que merece.
Se você não gosta das Forças Armadas porque elas torturaram e mataram, então, seja, pelo menos, coerente. E passe a nutrir o mesmo dissabor pela corja que explodiu sequestrou e justiçou, do outro lado. Mas tenha certeza que, se um dia for necessário sacrificar a vida para defender nosso território e nossas instituições, você só verá um desses lados ter honradez para fazê-lo.
======
Parabéns, Alexandre Garcia!
 

100 ANOS DA ESCOLA DE GUERRA NAVAL - EGN

Amorim destaca a modernização dos equipamentos das Forças Armadas em palestra pelos 100 anos da Escola de Guerra Naval
Rio de Janeiro, 25/02/2014 – O ministro da Defesa, Celso Amorim, proferiu palestra durante o evento comemorativo pelos 100 anos da Escola de Guerra Naval nesta segunda-feira (24/02), no Rio de Janeiro. Em seu pronunciamento, Amorim tratou de temas como a diplomacia marítima, cooperação com países africanos, projetos estratégicos das Forças Armadas e a cobiçada riqueza petrolífera do Brasil – o que, na sua visão, pode motivar a cobiça de terceiros.



O processo de reaparelhamento das Forças Armadas foi destacado pelo ministro em sua palestra. Para ele, o avanço no programa de submarinos da Marinha (Prosub), a criação do Centro de Defesa Cibernética do Exército (CDCiber) e a aquisição das novas aeronaves de combate da Aeronáutica (Projeto F-X2) “são marcos históricos” da modernização da Defesa brasileira.
“O objetivo dessas e de muitas outras medidas é garantir ao Brasil a posse, com domínio tecnológico, das capacidades necessárias para dissuadir no mar, em terra e no ar ameaças e agressões que o país possa vir a sofrer a qualquer tempo e originadas em qualquer quadrante”, afirmou.
Amorim ressaltou que as áreas marítimas brasileiras, dotadas de riquezas ainda desconhecidas, “não estão livres de pretensões de controle hegemônico, em detrimento de direitos de Estados costeiros ou da exploração segundo regras multilaterais de conduta”.
Além disso, o ministro enfatizou a necessidade de o Brasil ter adequada capacidade de dissuasão com vistas à proteção das enormes reservas de petróleo que o país detém na camada do pré-sal no Atlântico Sul.
Líbano

Em sua exposição, o ministro da Defesa lembrou o atentado à bomba que tirou a vida da brasileira Malak Zahwe, ocorrido em Beirute, no Líbano, em janeiro deste ano. Para ele, “a presença de uma fragata da Marinha do Brasil na componente marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano, a Unifil, é boa ilustração de como o emprego de instrumentos militares pode reforçar a ação diplomática na busca da paz”. E acrescentou: “Nossa participação no Líbano sublinha a importância de refletirmos sobre nossos desafios e de definirmos nossos interesses”.
Cooperação com a África
A relação do Brasil com as nações africanas também foi destaque na fala de Celso Amorim. Segundo ele, a Marinha é parte premente nesse esforço de cooperação. O ministro elogiou o apoio prestado pela Força Naval a nações africanas como o Cabo Verde, a Namíbia e a Guiné, além da assessoria que a Marinha tem dado à União Africana na questão marítima.
De acordo com o ministro, a importância da parceria Brasil-África, em assuntos de cunho militar e diplomático, se deve à responsabilidade conjunta pelo Atlântico Sul. “Por meio da Zopacas (Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul), unimos esforços para que nosso oceano seja uma zona de paz e cooperação, livre de armas nucleares e de todo tipo de rivalidades estranhas ao nosso entorno”, afirmou.
A Escola de Guerra Naval
Criada pelo Decreto 10.787, de 25 de fevereiro de 1914, com o nome de “Escola Naval de Guerra”, a instituição recebeu sua denominação atual em 1930. A EGN tem como missão contribuir para a capacitação dos oficiais da Marinha para funções de Estado-Maior, aperfeiçoando-os para o exercício de cargos de comando, chefia, direção e altos escalões da Força.
Na solenidade que marcou os 100 anos do centro de ensino, o diretor da Escola de Guerra Naval, almirante Almir Garnier Santos, reiterou que anualmente são formados 1 mil oficiais da Marinha “na casa destinada, principalmente, à pesquisa”.
Além do ministro Celso Amorim, a cerimônia contou com a presença do comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto; do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Carlos Augusto de Sousa; do secretário-geral do Ministério da Defesa, Ari Matos Cardoso; e do coordenador de Negócios dos Correios, Orlando Costa.
Durante o evento, foram lançados o livro, a revista e o selo dos Correios comemorativos pelos 100 anos da EGN.

Fotos: Felipe Barra
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa

Relatório D.C. - Relatórios: beba com moderação
25/02/14 11:00 | Rogerio Studart (rogerio.studart@brasileconomico.com.br)
Há duas semanas, o documento do BC norte-americano “Monetary Policy Report”, de 11/2, foi muito comentado na nossa imprensa — especialmente no capítulo intitulado “Estresse financeira e vulnerabilidade das economias emergentes”, em que apresenta um ranking no qual o Brasil aparece como uma das economias mais vulneráveis do planeta
O mandato do Fed é estritamente voltado a controlar a inflação e apoiar um crescimento sustentado nos Estados Unidos. Portanto, não surpreende que a proposição daquele capítulo fosse basicamente demonstrar que o estresse não foi consequência das políticas monetárias norte-americanas. Essa proposição facilita aos EUA, um membro do G20, seguir com uma politica monetária não convencional pelo tempo que lhe parecer necessário, sem maiores considerações com os seus impactos sobre a estabilidade econômica global. Não surpreende, tampouco, que, como demonstrou o ex-ministro Delfim Netto em artigo recente, o ranking tenha problemas metodológicos graves que colocam em dúvida suas qualidade técnica e isenção.
Na última semana, foi a vez de um documento do FMI apresentado no G-20 - "Global Prospects and Policy Challenges" ("Perspectivas Globais e Mudanças Políticas", GPPC), encontrado no site da instituição (www.imf.org/external/np/g20/021914.htm). O documento tem sido citado na imprensa brasileira como comprovação do diagnóstico do Fed e como guia para políticas no Brasil, sem muitas considerações sobre as particularidades que moldam a abordagem dessas instituições. Isto é no mínimo um erro. Vejamos.
O GPPC não apresenta uma análise muito diferente das que vem apresentando a instituição, e também o Banco Mundial, desde o fim do ano passado. A análise começa evidenciando três aspectos recentes da conturbada trajetória da economia global. Primeiramente, comemora a recuperação da economia mundial, capitaneada pela expansão da demanda agregada em economias avançadas. Segundo, chama a atenção para a perda de dinamismo das economias emergentes (EMs), da pequena melhoria da demanda externa que supostamente as teria beneficiado. E, por fim, indica que essa perda de dinamismo das EMs se deve a "condições financeiras mais restritas", influenciadas por três fatores:
(1) uma revisão por parte dos mercados sobre a solidez dos seus fundamentos;
(2) um aumento da aversão ao risco; e
(3) a sinalização por parte das autoridades norte-americanas de uma possível revisão da sua política monetária "não-convencional".
O documento informa que é "de difícil identificação" a relação causal entre os três fatores acima. Entretanto, se vamos para a página 4 do mesmo, encontramos dois gráficos: um indicando o desemprenho dos mercados de capitais e outro dos mercados de títulos públicos. Em ambos, se nota claramente que a reversão das "condições financeiras" para as EMs foi determinada pelo início dos anúncios do o Fed, sobre a possibilidade do tapering ainda no primeiro semestre de 2013.
Ou seja, parece não haver dúvida sobre a causalidade do processo: o prenúncio do tapering foi o "gatilho" que fez com que os investidores internacionais começassem a revisar os seus portfolios, antecipando os efeitos que tal política teria sobre os futuros fluxos de capitais para economias emergentes.
A partir daí, poderíamos descrever um fluxo causal: esse gatilho iniciou um processo em cadeia para um grupo de EMs, incluindo o Brasil, em que primeiramente gera uma pressão pela reversão dos fluxos de capital (de saída das EMs e retorno a economias industriais) e subsequente pressão por desvalorização cambial. Em segundo lugar, gera uma reposta de política das autoridades das EMs que, temendo uma desvalorização cambial abrupta que levasse a uma aceleração da inflação, se sentem obrigadas a implementar políticas monetária e fiscal mais restritivas.
Essa resposta não só adia a desvalorização cambial (que, se realizada com controle e paulatinamente, poderia ajudar a reequilibrar o desequilíbrio de balanço de pagamentos), como também termina por deprimir a atividade doméstica e provocar de fato um enfraquecimento do crescimento.
E, por fim, um menor crescimento, dada a estrutura tributária, tende a criar uma deterioração fiscal, especialmente pela queda de receitas e uma maior dificuldade em manter superávits fiscais necessários para uma saudável trajetória da queda da dívida pública. Ou seja, os vaivéns da política do Fed geram uma cadeia de respostas que podem terminar provocando, no médio prazo, uma "profecia auto-realizável" sobre a fraqueza dos fundamentos.
É evidente, portanto, que a ordem dos fatores altera o produto, no caso de um diagnóstico - mas também nas soluções propostas. Isto se confirma nas recomendações que surgem ao longo do texto. A primeira recomendação para os membros do G-20 é que as economias avançadas deveriam evitar abortar a incipiente e frágil recuperação com reversões abruptas de suas políticas monetárias expansionistas e buscar um processo suave, sem pressa e bem medido de consolidação fiscal.
A figura muda em relação às EMs, a quem o Fundo envia uma mensagem bem mais dura: necessitam de "políticas e regimes macroeconômicos críveis, além de políticas cambiais flexíveis, críticas para enfrentar as turbulências". Por fim, ao falar em horizontes mais longos, a receita para a prosperidade do FMI inclui implementar políticas voltadas a melhorar a competividade, investimentos em infraestrutura, reformas trabalhistas e, por fim evitar o "ressurgimento de desequilíbrios globais".
A tradição destas instituições é que a deterioração dos fundamentos de um país é causada primordialmente por políticas domésticas inconsistentes; e que, portanto, o problema do ajuste deve recair em quem a produziu. Muito recentemente, como um reconhecimento da crescente interconectividade das economias nacionais, o mundo multilateral começou a reconhecer que, no caso de "economias sistemicamente relevantes", o problema é de todos nós.
Tendo em vista que tanto os chamados desequilíbrios globais que levaram à crise, quanto os problemas recentes das EMs (que são economias sistemicamente importantes) têm como principal origem as políticas das economias industrias, poder-se-ia esperar que as recomendações advindas de documentos dessas instituições reforçassem a necessidade de responsabilidade coletiva. Mas, ao que tudo indica, estamos recaindo em erros antigos.
O problema não é evidentemente a capacidade técnica dos autores - mas reside ainda na assimetria da governança econômica global, na qual economias industriais continuam a dominar as instituições multilaterais. Por essa razão, suas perspectivas continuam a dar o tom de como determinadas mensagens são enviadas: por exemplo, explicitar no momento a principal origem dos problemas atuais em um documento oficial da instituição seria interpretado como uma agressão aos seus principais quotistas e acionistas. Aí reside, a meu ver, a razão porque são tão evidentes as assimetrias, tanto no diagnóstico quanto nas recomendações e no tratamento dos desafios enfrentados por economias industriais e emergentes.
À vista dessas assimetrias, talvez o ideal seja que essas publicações viessem com algum manual de leitura, ou pelo menos com um alerta ao leitor: "Leia com moderação".

ENTREVISTA COM BRASILEIRO NO SUDÃO DO SUL



Informe New York - Bombeiros ou incendiários

24/02/14 11:30 | Heloísa Villela (heloisa.vilela@brasileconomico.com.br)

Visivelmente irritado, eu diria até revoltado, o professor emérito de estudos russos da Universidade de Nova York e de Princeton, Stephen Cohen analisou, na última semana, o desenrolar da crise na Ucrânia

A falta de contexto com que a crise é apresentada na mídia norte-americana faz o sangue do professor ferver. No programa matinal de rádio DemocracyNow!, ele chamou de incendiário quem hoje posa de bombeiro: - As autoridades ocidentais, que têm responsabilidade sobre o que está acontecendo e por isso mesmo têm sangue nas mãos, não estão assumindo essa responsabilidade.

É bom lembrar que a Ucrânia não vive sob uma ditadura. Um regime de exceção. O país tem, ou tinha, um governo democrático, eleito nas urnas. Em novembro passado, diante de uma situação econômica difícil, o governo foi encurralado pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Para receber ajuda financeira do ocidente, o presidente Viktor Yanukovych recebeu um ultimato da União Europeia: escolher entre a Europa e a Rússia. E quem propôs um meio termo? Os diplomatas de Washington? Os negociadores de Bruxelas? Não. Foi o vilão, o demoníaco, o ex-KGB Vladimir Putin (George Bush pai não era constantemente tratado como o ex-chefão da CIA). Putin ofereceu um pacote tripartite de ajuda financeira, com a participação da Rússia, dos Estados Unidos e da Europa.

Bruxelas e Washington descartaram a proposta e mantiveram a ameaça. Com a faca no pescoço, de olho na Grécia de joelhos com as medidas impostas pela ajuda financeira do Ocidente, Yanukovych tomou partido. Decidiu ficar com o suporte da Rússia.

A Ucrânia é um país dividido. Sempre foi. Parte da população tem o russo como primeiro idioma, tem laços culturais e até religiosos mais fortes com Moscou. Sente-se mais à vontade na parceria com a Rússia. Outra parte do país tem os olhos voltados para a Europa. O ocidente decidiu apostar nessa divisão para levar adiante um processo que começou os anos 90. Desde o governo Bill Clinton, a política da Casa Branca para a região tem sido atrair as ex-repúblicas soviéticas o mais rapidamente possível para a área de influência econômica de Washington. A Ucrânia, encravada entre a Polônia e a Rússia, é uma joia valiosa para a coroa norte-americana.

Por isso a conversa telefônica entre o embaixador dos Estados Unidos em Kiev e a mais alta funcionária do departamento de estado americano para região, vazada para a imprensa, tem tanto significado. Claro que por aqui o grande destaque foi para o palavrão que Victoria Nuland usou. Aquele famoso "a União Europeia que se f---". A imprensa norte-americana passou direto pelo real conteúdo da conversa. Nela, Nuland e o embaixador discutiram os detalhes da política ucraniana. Decidiram quem deveria fazer parte de um governo de coalização a ser formado para substituir o presidente eleito. Em português claro, como disse o professor Cohen, eles tramavam um golpe de estado. Um golpe vitorioso. Na sexta-feira, o presidente Yanukovych assinou o acordo para antecipar as eleições (estavam marcadas para o ano que vem) e formar a tal coalizão bolada em Washington.

No nosso quintal, nos anos 60, os métodos eram outros. Golpe de estado, ditadura no porrete, tortura com requintes de crueldade assimilados na famosa Escola das Américas e por aí vai. Agora, são outros os meios. Promover a divisão interna, desestabilizar o país, denunciar a violência como insustentável, defender a "volta" da ordem e do respeito aos direitos humanos sob a égide de algum nome escolhido e sancionado em Washington.

O e-mail que me chega do Departamento de Estado é apenas mais um exemplo da farsa. Assinado pelo Secretário de Estado John Kerry, ele tem aquele tom arrogante e inconfundível de quem dita as regras: "É com raiva e angústia que vemos a renovação da violência nas ruas de Kiev", dizia ele na quinta-feira passada. "O Presidente Yanukovich tem que negociar seriamente com os líderes da oposição imediatamente para estabelecer um governo interino que tenha amplo apoio. Essa é a única maneira de dar início às difíceis porém essenciais reformas constitucionais e econômicas de que a Ucrânia necessita".

O tempo todo, Washington condena o governo da Ucrânia, a polícia, a tentativa de conter os protestos. Nunca diz nada a respeito do uso de armas contra os policiais, a destruição de prédios públicos, a tentativa de ocupação do parlamento. Assunto espinhoso. Mas se um grupo de manifestantes do Occupy tivesse desistido de simplesmente ficar acampado em praça pública e tivesse marchado para a Casa Branca com pedras e paus, tivesse ameaçado ocupar qualquer prédio do governo norte-americano, o que teria feito o governo Obama? Permitido a livre manifestação dos descontentes?

Pior. Washington inflama e incentiva a discórdia e a violência. Ao condenar, constantemente, o governo e a tentativa de conter os protestos, a Casa Branca oferece um ombro amigo à oposição. Legitima e oferece apoio. Anunciou sanções e prometeu para breve um embargo à venda de armas. Estabeleceu quem está certo e quem está errado. E na miopia costumeira que acomete a diplomacia norte-americana, já que não enxerga dois anos adiante, Washington segue em frente criando instabilidade, incerteza e conflitos sem ter a menor ideia a respeito das consequências.

Washington tem pressa. Melhor um golpe agora, orquestrado com a aparência de solução para as insatisfações da população. Melhor botar logo as mãos em mais uma joia para a coleção. A Ucrânia mergulha no caos, as consequências são imprevisíveis. E a possibilidade de solução democrática, de respeito ao calendário eleitoral, de permitir que a população discuta seus problemas e decida seu destino... Isso tudo é bem bonito no papel. Mas fica para uma próxima oportunidade.

 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


Coronel brasileiro Amadeu Marto é observador militar na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul. Foto: Arquivo pessoal

Entrevista: Coronel brasileiro em missão da ONU fala da situação de segurança no Sudão do Sul

22 de fevereiro de 2014 · Destaque

 

Coronel brasileiro Amadeu Marto é observador militar na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul. Foto: Arquivo pessoal

A crise iniciada em meados de dezembro já deslocou mais de 715 mil sul-sudaneses e levou mais de 160 mil ao refúgio em países vizinhos. Os números são atualizados pela ONU a cada três dias aproximadamente e não param de crescer. Numa operação sem precedentes, a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) abriu suas dez bases no país para proteger civis da violência. No total, mais de 85 mil pessoas se abrigaram nas instalações da missão de paz.

É sobre essa situação que o coronel brasileiro Amadeu Marto, líder dos observadores militares da ONU no estado de Northern Bahr el Ghazal, noroeste do país, conversou por telefone com a equipe do Centro de Informação da ONU para o Brasil (UNIC Rio).

No estado onde o coronel Marto coordena uma equipe multinacional de dez pessoas, a situação de segurança é mais estável. De acordo com o boina-azul, isso se deve ao fato de a maioria da população pertencer a apenas uma etnia. “A crise não é só étnica. Ela é muito mais política e econômica do que étnica, mas o lado étnico também puxa bastante. E como aqui 90% da população é Dinka, então a situação é bem tranquila”, explicou.

Dinka é a etnia do presidente, Salva Kiir, que em 15 de dezembro afirmou que soldados leais ao ex-vice-presidente Riek Machar, destituído do cargo em julho, tentaram aplicar um golpe de Estado. O opositor é da etnia Lou Nuer, o que serviu de estopim para que os conflitos exacerbassem as questões políticas.

A situação, afirma Marto, é mais grave nos estados de Jonglei, Unity e Alto Nilo. A base da ONU na capital do país, Juba, recebe mais da metade dos deslocados internos. A ONU presta todo o auxílio possível, mas as condições são precárias e a quantidade de necessitados é muito superior à capacidade de resposta humanitária.

Os 13 brasileiros que trabalham na missão – oito militares do Exército e da Aeronáutica e cinco policiais militares de diferentes estados – desempenham papeis importantes na busca pela estabilidade do país mais novo do mundo (tornou-se independente em julho de 2011) e na proteção dos direitos humanos.

No caso de Marto, a tarefa é manter contato com o Exército do Sudão do Sul, emitir alertas antecipados sobre possíveis ameaças à segurança de civis e humanizar a atuação das forças locais.

A entrevista foi feita pela jornalista Damaris Giuliana, com produção técnica de Felipe Siston e Ivone Alves.

 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014


Ministros integrantes da Unasul aprovam criação da Escola Sul-Americana de Defesa

Brasília, 21/02/2014 – O Conselho de Defesa da União de Nações Sul-Americanas (CDS/Unasul) deu ontem uma contribuição decisiva para a formação de uma identidade regional em matéria de defesa. Reunidos em Paramaribo, capital do Suriname, os ministros da defesa dos países que compõem o fórum aprovaram a criação da Escola Sul-Americana de Defesa (Esude).

Iniciativa que há tempos contava com apoio brasileiro, a Escola será um centro de altos estudos responsável pela articulação das diversas iniciativas dos países-membros do CDS de capacitação de civis e militares na área de defesa e segurança regional. “Essa é uma instituição que vai nos permitir formar, dentro da pluralidade e diversidade que nos caracteriza, uma visão conjunta da nossa região e das nossas necessidades”, comemorou o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, presente ao encontro.

A Esude terá formato descentralizado. Ela reunirá cursos e outras iniciativas oferecidas pelos países-membro do CDS. A proposta aprovada pelo Conselho prevê a possibilidade de intercâmbio entre especialistas das nações sul-americanas e convênios com universidades e outras instituições de ensino.

A proposta levada à apreciação do CDS foi definida numa reunião de trabalho, em outubro passado, em Buenos Aires, Argentina. Ela estabelece que todos os países-membro poderão ofertar cursos nas modalidades presencial, semipresencial e à distância. O projeto anual de cursos será elaborado e pelo conselho acadêmico, órgão de assessoramento composto por representantes de todos os países.

Os representantes do CDS discutem agora a constituição de uma sede administrativa para a Escola. A ideia preliminar é que ela fique sediada em Quito, capital do Equador, país que também abriga a sede da Unasul.

O Brasil já possui iniciativas que deverão fazer parte do projeto anual de cursos da Esude. Uma delas é o Curso Avançado de Defesa Sul-Americano (CAD-SUL), que este ano será realizado pelo terceiro ano consecutivo na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro.

Plano de Ação e Haiti

A decisão de criação da Esude ocorreu ontem, durante a V Reunião Ordinária do CDS, em Paramaribo. O Conselho é presidido atualmente pelo Suriname e pela Colômbia. A reunião teve como principal item de pauta a aprovação do Plano de Ação do fórum para 2014. Os ministros dos 12 países-membro aprovaram as iniciativas propostas pela instância executiva do Conselho
Durante a reunião, o ministro Celso Amorim felicitou o Conselho pelo consenso em torno da criação da Esude. “Não somos uma organização defensiva no sentido clássico Mas isso não deve nos impedir de refletirmos em conjunto sobre aqueles temas que podem, num mundo ainda cheio de incertezas, significar alguma ameaça à nossa região”, disse.

Em sua intervenção, Amorim destacou a importância do CDS no contexto da Unasul, pontuando que a missão central do Conselho é fazer com que a América do Sul seja uma “comunidade de paz e segurança em que a guerra não seja concebível como forma de solucionar conflitos”.

O ministro brasileiro defendeu a ideia de que a criação de confiança entre os países sul-americanos deve ir além da troca de informações, por meio de uma progressiva cooperação em treinamento, formação, capacitação e desenvolvimento de uma base industrial comum de defesa. Sobre este último tema, Amorim chamou atenção de seus pares para a necessidade de envolvimento do setor industrial das nações para dar concretude às ações de desenvolvimento e produção de equipamentos militares.

A defesa cibernética também foi citada pelo representante brasileiro. Amorim mencionou os recentes episódios de espionagem e ressaltou a importância do desenvolvimento de iniciativas conjuntas com os países vizinhos para proteção de redes informatizadas. “Temos que garantir que tecnologias importadas limitem ou eliminem totalmente a existência de backdoors e outras facilidades para espionagem”, afirmou.

Ainda em sua intervenção, Amorim sugeriu a criação de um comitê permanente para assuntos defesa na Unasul. Nos moldes propostos por ele, órgão teria caráter de assessoramento e funcionaria junto à sede Unasul, em Quito. A ideia foi bem recebida pelos membros do Conselho, que decidiram criar um grupo de trabalho para estudar o assunto.

No final de sua intervenção, o ministro brasileiro mencionou a participação das tropas dos países sul-americanos na Missão de Paz da ONU do Haiti (Minustah), que este ano completa dez anos. Após ressaltar a importante contribuição da América do Sul no processo de pacificação da nação caribenha, Amorim ponderou que uma eventual saída das tropas da região deve ser feita de maneira “planejada, cuidadosa e responsável”.

Ele sugeriu a coordenação entre os países do CDS para tratativa do assunto, respeitada a soberania de todos e os parâmetros definidos pela ONU. “Essa maneira responsável de devolver ao Haiti a tarefa de manter a sua segurança é o que nos dá também força moral para cobrar dos outros membros da comunidade internacional apoio mais decidido ao desenvolvimento social e econômico do Haiti”, afirmou.

Fotos: Divulgação
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)

Ministério da Defesa

 31 DE MARÇO DE 1964

UMA DATA A SER LEMBRADA

 

 

         Completa no próximo mês o seu Jubileu de Ouro o Monumento Cívico-Militar ou a Revolução Democrática Brasileira, na realidade uma contra-revolução que salvou o País do caos para o qual estava sendo conduzido e que postergou, por vários anos, o êxito de nova tentativa de tomada do poder por uma minoria comunista, então encastelada nos sindicatos e outras instituições, bem como em diversas esferas do Governo.

         Nossos detratores, os vencidos de então, que anistiamos na esperança de paz e de concórdia nacionais, incansáveis, obliterados e empedernidos que são, e outros que não viveram aqueles tempos sombrios mas que procedem como “o papagaio de casa de tolerância do interior”, rotulam-no de “Golpe Militar” que implantou a “ditadura” no Brasil. Este meio século, para eles, significa “anos de chumbo”, ou “anos de escuridão”.

         A técnica da propaganda aconselha que os slogans, os chavões, as idéias-força, as palavras-chave, devem ser repetidas à larga, até tomarem foros de realidade. E não faltam “marqueteiros” milionários, vendedores de ilusão, para ajudar nesse mister, que conta com a ampla difusão de certa mídia, comprada ou comprometida ideologicamente, e que não respeita ética e nem tem compromisso com a verdade.

         Se perguntarmos a um desses que engrossam tal corrente, até bacharéis, se sabem o que caracteriza uma ditadura e quais são os parâmetros de uma democracia, terão dificuldade em responder. Ignoram que todos os Presidentes Militares foram eleitos pelo Congresso e que a maioria dos países democráticos utiliza uma forma indireta de escolha de seus mandatários. Nunca se deram conta – ou esqueceram-se, ou jamais lhes disseram – por exemplo, que José Maria Alkmin, ex- Ministro da Fazenda de JK, foi o Vice-Presidente de Castelo Branco, e que Aureliano Chaves, ex-Governador de Minas Gerais, o foi de João Figueiredo. Não lhes interessa lembrar que o MDB era o partido de oposição e que, por duas vezes, chegou a lançar candidato à Presidência da República, derrotado no voto. E que havia, circulando, jornais contra o governo, como, no Rio de Janeiro, o Correio da Manhã....Ditadura?

         Mas, por quê ocorreu, há meio século, o movimento de que estamos falando? A situação nacional deteriora-se a tal ponto que se temia um iminente golpe comunista, tal como o tentado em Novembro de 1935, para a tomada do Poder. Eram greves em atividades essenciais, desabastecimento, inflação galopante, comícios ameaçadores, serviços públicos em crise, as intimidações da CGT. E a Nação, cuja voz era a voz de Deus, aflita, temerosa, apelou para suas Forças Armadas – povo fardado que sempre, ao longo dos tempos, estiveram a seu lado, pois nunca foram intrusas na História Pátria. Como bem escreveu o lendário Osório, “a farda não abafa o cidadão no peito do soldado”. Sempre é bom lembrar a extraordinária “Marcha com Deus e a Família pela Liberdade”, que congregou, em passeata cívica e ordeira, um número incontável e inimaginável de bons brasileiros, de iniciativa e coordenação de Senhoras da sociedade.

         No âmago das Forças Armadas, a disciplina e a hierarquia, suas bases constitucionais e verdadeiras cláusulas pétreas, eram violentadas às escâncaras. Inspirados na velha tática napoleônica, tentaram dividir-nos, para nos bater por partes. Falava-se, abertamente, em “classe dos sargentos” e “classe dos oficiais”, como se não houvesse uma classe militar única e indivisível, organizada em círculos hierárquicos, sob uma disciplina comum. Teciam-se freqüentes loas aos chamados “Generais e Almirantes do povo” – os “legalistas”, afinados com o Governo e que colocavam a lealdade à figura do Presidente acima de seu compromisso para com a Nação, pois só esta é eterna – e os “Gorilas”, os que manifestavam preocupação com o estado das coisas e, por várias vezes, haviam alertado o Governo para a situação preocupante, na esperança de uma mudança sensata de postura. Mas o Comandante Supremo só ouvia os “pelegos” que tinham livre acesso a ele.

         Muitos não querem lembrar da revolta dos sargentos em Brasília; da “Associação de Marinheiros e Fuzileiros”, que pregava abertamente a insubordinação e cujos dirigentes, seguidos por outros, acabaram refugiando-se no Sindicado dos Metalúrgicos, que lhes deu apoio e de onde foram retirados, presos; da reunião no Automóvel Clube do Brasil, no Passeio Público do RJ, com o incentivo e a presença de João Goulart, e do espetáculo deprimente de praças carregando nos ombros um Almirante, seu adepto – todos fardados -, demonstração inequívoca de quebra de disciplina e de hierarquia. Não interessa mencionar os comícios comunistas, a ação das Ligas Camponesas, dos “Grupos dos 11”... Era a própria revolução marxista em marcha!

         Vitorioso o movimento democrático, tão solicitado e aplaudido pela maioria esmagadora da Nação e sem derramamento de sangue – diferente, pois, do que ocorreu em outros países onde foi implantado, pela força, o regime comunista – o Brasil ainda viveu anos difíceis, com o surgimento da luta armada, nas cidades e no campo: assaltos, seqüestros, roubos, atentados, guerrilhas. Foram os comunistas novamente derrotados e, outra vez, não contaram com o apoio da população.

         Mas, como resultado ou vingança, nossos detratores rotularam todos os que, cumprindo ordens superiores, empenharam-se na defesa da democracia, como “torturadores”, tal como dão, genericamente, a todo profissional da área de Inteligência – essencial a qualquer Estado democrático – o epíteto de “Araponga”.

         Derrotados naquela luta, apresentam-se hoje como “heróis da democracia”, cada qual fingindo ser um idealista que só queria o bem do Brasil... No fundo, há um interesse por indenizações, bolsas e cargos. E um exemplo dessa desigualdade e injustiça é patente: Mario Kozel Filho, um jovem soldado que durante a prestação do Serviço Militar inicial, estava de serviço de sentinela no Quartel-General do então II Exército, em S. Paulo, foi vítima de um atentado terrorista e morreu; sua beneficiária recebe pensão normal de 3º Sargento, graduação à qual foi promovido post mortem, enquanto que o assassino que o matou, anistiado, recebeu polpuda indenização e tem um salário mensal vitalício, isento de Imposto de Renda...

         Guerrilheiros de ontem, condenados hoje por outros crimes recentes de corrupção e afins, têm a desfaçatez de se declararem “presos políticos”. De seus companheiros de aventura, hoje no Poder?

         As obras destes cinqüentas anos aí estão, Brasil afora. É impossível alinhá-las todas nestas poucas linhas. Bem feitas, porque construídas com competência, honestidade e fiscalização. Ninguém foi acusado de corrupção. Não houve majoração indecorosa de preços, nem “mensaleiros”, tampouco dinheiro na meia ou na cueca, nem lavagem e depósitos em contas em paraísos fiscais. Aqueles que as edificaram morreram pobres. Mas, para os detratores sempre ativos, é imperioso desvinculá-las daqueles que as idealizaram e tornaram-nas realidade. Daí até o nome de algumas tentam agora mudar.  Na modesta placa de bronze colocada na Ponte Costa e Silva, lê-se: “...É um exemplo da determinação do Povo Brasileiro em caminhar firmemente para o futuro.” Este era o espírito nacional àquela época! Os jovens cantavam: “Pra frente, Brasil!” Hoje, uma entidade que parece não ter nada mais para fazer, quer mudar-lhe o nome. Está olhando pelo retrovisor da História! Será que pretende retirar o nome de Getúlio Vargas, ou Presidente Vargas, que exerceu, verdadeiramente, o governo ditatorial, do Estado Novo, dado a inúmeras cidades, usinas, escolas, hospitais e tantos outros logradouros públicos, no País, de Norte a Sul? E a propósito, não reconhecem que tal ditadura de quinze anos só teve fim, na realidade, quando do regresso vitorioso dos nossos pracinhas que lutaram contra o nazi-fascismo no Teatro de Operações da Itália.

        Agora, usando a mesma tática do grande general francês antes mencionado, procuram separar o “Exército de hoje” do “Exército de ontem”, fosso este que tentam cavar também nas outras Forças Singulares. Como se iludem! As infiltrações sensíveis de antes de 1964 nelas não se repetiram. Somos todos, da Ativa, da Reserva e Reformados, uma classe que pensa igual, que está alerta e vigilante, que troca idéias e que quer o progresso do País e o bem-estar do povo.

         O Brasil, que nasceu sob a sombra da cruz e que, como diz o cancioneiro popular, “é bonito por natureza e abençoado por Deus”, será sempre uma nação cristã, fraterna e acolhedora, amante da paz, livre e democrata. Jamais será dominada pelos comunistas, mesmo que isto custe a vida de muitos. É o nosso compromisso!

 

 

                                                             General de Exército Pedro Luis de Araújo Braga

Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Militar 

 

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Am. Latina
Venezuela repudia declarações de Obama sobre as manifestações
Brasil Econômico   - As informações são da Agência Brasil 20/02/14 14:42

O governo de Nicolás Maduro denunciou, após os protestos, a suspeita de envolvimento de
Nas declarações de ontem, Obama disse que a violência durante as manifestações era "inaceitável" e exigiu a liberação dos manifestantes detidos
Bogotá - A Chancelaria venezuelana divulgou nesta quinta-feira uma nota de repúdio às declarações do presidente americano, Barack Obama, sobre as manifestações na Venezuela. "Repudiamos a ingerência grosseira do presidente dos Estados Unidos, nos assuntos internos da Nação [Venezuela]", diz o comunicado.
O texto pede que o governo dos Estados Unidos explique "por que financia, alenta e defende os dirigentes opositores que promovem a violência". A chancelaria venezuelana disse que o governo americano continua "atacando um país livre e soberano da América Latina, cujas políticas, orientações e decisões são resultado da vontade popular, expressa democraticamente".
O governo de Nicolás Maduro denunciou, após os protestos, a suspeita de envolvimento de diplomatas americanos no financiamento e apoio aos atos violentos realizados durante as manifestações estudantis no país. Por isso, três diplomatas foram expulsos do país no começo dessa semana.
O governo venezuelano afirmou que continuará monitorando e tomando as providências necessárias para "impedir que agentes americanos implantem a violência e a desestabilização no país"
Nas declarações de ontem, Obama disse que a violência durante as manifestações era "inaceitável" e exigiu a liberação dos manifestantes detidos.