terça-feira, 28 de abril de 2015


O general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz durante missão próximo a Goma, cidade retomada pela ONU na República Democrática do Congo (RDC). Foto MONUSCO/Sylvain Liechti

Conselho de Segurança da ONU reduz força de paz na República Democrática do Congo

Órgão da ONU ressalta progressos na luta contra grupos rebeldes que cometem diversas violações dos direitos humanos, mas destaca que saída das tropas se dará gradualmente, à medida que metas específicas do governo e da MONUSCO sejam atendidas.

 

O Conselho de Segurança da ONU prorrogou até o final de março de 2016 o mandato da Missão da ONU na República Democrática do Congo (MONUSCO), bem como sua Brigada de Intervenção, reduzindo seus efetivos para 2 mil soldados.

Na resolução, aprovada por unanimidade, o Conselho de Segurança manifestou a sua intenção de tornar esta redução “permanente”, após o progresso considerável que foi alcançado em relação às prioridades do mandato da missão, em especial o de lutar contra os rebeldes das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR). As tropas da MONUSCO são comandadas por um brasileiro, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

O Conselho de Segurança reafirmou condenar veementemente todos os grupos armados que operam na região e as violações do direito humanitário internacional e outras normas aplicáveis do direito internacional, assim como as violações dos direitos humanos cometidas por estes grupos. O órgão exigiu que a FDLR, as Forças Democráticas Aliadas (ADF), o Exército de Resistência do Senhor (LRA) e outros grupos armados cessem imediatamente todas as formas de violência e outras atividades desestabilizadoras.

Observando o compromisso do governo da RDC para conduzir operações militares contra a FDLR, o Conselho de Segurança incentivou a cooperação, no âmbito destas operações, entre o governo e a MONUSCO, que é responsável por fazer todo o possível para neutralizar a FDLR. O Conselho também exortou o governo da RDC a prender e responsabilizar todos os que tenham cometido violações do direito humano humanitário e internacional.

A retirada de MONUSCO no futuro, diz a resolução, deverá ocorrer em etapas e de maneira progressiva, à medida que metas específicas do governo e da MONUSCO sejam atendidas, em consulta com a equipe das Nações Unidas no país e com outras partes interessadas.

O Conselho destacou a necessidade de “definir claramente a estratégia de saída da Brigada de Intervenção”, trabalhando “incansavelmente” para lutar contra a ameaça de grupos armados e pela implementação da reforma do setor segurança que seja sustentável e que, eventualmente, preveja a criação de uma força de reação rápida congolesa.

No texto aprovado, o Conselho fez vários pedidos ao governo da RDC, pedindo em particular que seja garantida a transparência e a credibilidade do processo eleitoral. A este respeito, o Conselho autorizou a MONUSCO, sob certas condições, a fornecer apoio logístico para facilitar a realização de eleições.

 

Marinha do Brasil inaugura Centro de Defesa Nuclear Biológica Química e Radiológica

Publicado em Segunda, 27 Abril 2015 18:25 | Última atualização em Segunda, 27 Abril 2015 18:27

Rio de Janeiro, 27/04/2015 - A Marinha do Brasil (MB) realiza nesta terça-feira (28), às 15h, a cerimônia de ativação de seu Centro de Defesa Nuclear Biológica Química e Radiológica (CDefNBQR-MB), que estará subordinado ao Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais. A nova Organização Militar está localizada na Avenida Brasil, na altura de Parada de Lucas, na mesma região onde está situado o Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN).

Foto: Felipe Barra

 

Companhia de Defesa de NBQR funcionará na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro

O objetivo do CDefNBQR, que será comandado pelo capitão-de-mar-e-guerra Carlos Jorge de Andrade Chaib, é coordenar e integrar as atividades de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (DefNBQR) no âmbito da MB, estabelecendo um canal técnico com as demais forças singulares, e ficando em condições de coordenar e integrar essas mesmas atividades no âmbito do Ministério da Defesa.

Durante a inauguração, será realizada uma demonstração em tempo real da Companhia de Defesa NBQR, do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais, sobre o funcionamento da atividade de DefNBQR.


Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

 

No meio do tiroteio

Nestes dias de confronto radical entre tucanos e petistas, um “Festival de Besteiras Assola a Internet” e os colunistas pagam o pato

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Mexi num vespeiro com meu artigo de ontem. Bastou comentar as articulações em torno da candidatura do ex-presidente Lula à reeleição em 2018 para virar um saco de pancadas na internet. Nestes dias de confronto radical entre tucanos e petistas, a análise dos fatos políticos tornou-se profissão de alto risco. Se um colunista fala sobre o desgaste do PT, é imediatamente identificado como simpatizante do PSDB e das forças de direita contrárias às conquistas sociais. Se aborda a eterna disputa de egos no PSDB (que não chega a consenso sequer em torno do impeachment), é acusado de estar praticando jornalismo chapa branca ou coisa parecida. Logo, é muito difícil a tarefa de quem tenta manter uma opinião equilibrada e imparcial sobre a cena nacional. No momento, como diria Stanislaw Ponte Preta, um “Festival de Besteiras Assola a Internet”.

Diante de minha avaliação sobre as chances de Lula em 2018, leitores ponderados (não vale a pena perder tempo com gente que não mede as palavras) perguntaram, por exemplo, se não li a reportagem de capa da revista “Veja” desta semana, que traz a ameaça de um diretor da OAS de contar o que sabe sobre o petrolão. Caso faça o acordo de delação premiada, suas denúncias envolveriam o ex-presidente. Trabalhei em “Veja” durante oito anos — de 1973 a 1981 — e nunca deixei de ler o carro-chefe da Editora Abril. Respeito o trabalho de seus profissionais. Alguns deles, que se dedicam a reportagens investigativas, trabalharam comigo na “IstoÉ” e no “Jornal do Brasil”, em Brasília. Hoje, eles estão encarregados de ir atrás de denúncias que desgastem a imagem do PT, de Dilma Rousseff e de Lula. “Veja” assumiu esta linha editorial. Em termos de política, a revista tornou-se conservadora, pró-tucanos e antipetista.

Não me sinto, portanto, obrigado a concordar com as reportagens de meus ex-colegas de redação. Em outros tempos, quando agia com isenção, “Veja” ajudou a desvendar casos importantes (um exemplo histórico foi sua contribuição para o impeachment de Collor) . Hoje, no afã de buscar escândalos a qualquer preço, não tem tido o mesmo êxito. Lança acusações semanais, mas a maioria delas está caindo no vazio. Já fez vários ataques a Lula, na tentativa de envolvê-lo, primeiro com o mensalão e, agora, com o escândalo da Petrobras. Mas não atingiu o alvo. Sei, porém, que a equipe da sucursal de Brasília não vai descansar. Certa vez, a Abril comparou seus jornalistas aos “intocáveis” de Eliot Ness. Cabe a eles não dar trégua ao PT.

Não menosprezo o poder de fogo de premiados repórteres. Pode ser que, um dia desses, consigam levantar provas contundentes contra Lula. Enquanto isso, o ex-presidente leva em frente a estratégia para voltar ao Planalto em 2018. Reafirmo o que disse em meu artigo. Se o governo Dilma Rousseff restaurar os bons fundamentos da economia a partir de 2016, as chances de Lula ser reeleito daqui a três anos e meio vão crescer. Não é segredo que ele está pavimentando o terreno. Como disse o experiente Ricardo Noblat no “Globo”, “Lula derrotou Serra em 2002 e Alckmin em 2006. Calcula que poderia derrotá-los outra vez. Quanto a Aécio... Acha que ele dará um jeito de não atravessar o seu caminho”. Portanto, falar sobre os passos de Lula não significa adesão ao PT: é obrigação de quem interpreta a realidade. Contra os fatos, não adianta distribuir impropérios na internet.

 

segunda-feira, 27 de abril de 2015


Lula está tinindo para 2018

Se Dilma Rousseff conseguir sair da arapuca em que se meteu, o desafio de Lula será mais fácil. Mas ele disputará a corrida ao Planalto de qualquer jeito

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Quem assistiu ao vídeo divulgado na internet pelo Instituto Lula ficou impressionado, tanto assim que uma das imagens ganhou o alto da primeira página do DIA no sábado. Na gravação de dois minutos aparece o ex-presidente praticando uma série de exercícios, desde caminhada na esteira até levantamento de peso, com a ajuda de personal trainers. Além de se mostrar em excelente forma para seus 69 anos, Lula dá conselhos ao pessoal da terceira idade. “O que você pensa que é sacrifício é benefício. Tenha coragem. Levante às 5h, 6h, 7h, 8h, quando puder. ” Suado e sorridente, ele brinca com o próprio esforço: “Parece pouco, mas, para um velhinho como eu, está de bom tamanho”. Seu recado vai muito além dos cuidados com a saúde. O que fica claro (e, sem dúvida, deu origem ao vídeo) é que Luiz Inácio Lula da Silva está pronto para o que der e vier.

Faltam três anos para a pré-campanha à sucessão de Dilma Rousseff, mas até as pedras de São Bernardo do Campos sabem que o ex-metalúrgico está polindo os músculos para tentar a volta ao Palácio do Planalto nas eleições de 2018. Seus homens de confiança já entraram em campo, numa espécie de missão precursora. Paulo Okamoto, Franklin Martins, Luis Dulci e Gilberto Carvalho cuidam da agenda do chefe e traçam cuidadosamente a estratégia da campanha. Há quem diga, como a senadora Marta Suplicy, que Lula deveria ter buscado o terceiro mandato já nas eleições de 2014, mas foi impedido por Dilma, que não admitiu abrir mão da prerrogativa constitucional. Em outra linha de intriga, comenta-se que o ex-presidente estaria apostando no fiasco para se descolar do atual governo e engrossar o coro dos críticos. Ganharia tempo suficiente para enxugar os respingos do fracasso de sua protegida.

Nestes dias de incerteza, pululam as teorias conspirativas. Mas aqueles que acompanham de perto as relações entre Lula e Dilma sabem que, mesmo que os ânimos esquentem de vez em quando, os dois são amigos e nada os afastará. Pela maior experiência política (e também pela notória intuição), é natural que o ex-presidente se intrometa na gestão, principalmente em momentos de crise. Ele dá sugestões, enfrenta resistência inicial, mas em geral acaba sendo atendido. Esse foi o caso, por exemplo, das mudanças na articulação política. Dilma fez o possível para manter nas mãos do PT a coordenação das relações entre o Executivo e o Legislativo. Mais realista, Lula defendia a divisão da tarefa com o PMDB, e, se necessário, a inclusão do vice Michel Temer nas discussões. Custou, mas sua fórmula prevaleceu.

Que ninguém duvide: apesar de todos os problemas, o criador continua a apostar no êxito de sua criatura. Se Dilma conseguir sair da arapuca em que se meteu e recuperar a economia a partir do segundo semestre de 2016, o desafio de Lula em 2018 será mais fácil. Mas o ex-presidente disputará a corrida ao Planalto de qualquer jeito. O filho de Dona Lindu costuma passar incólume pelos escândalos que desgastam o PT. Falam mais alto sua trajetória de vida, seu forte carisma e os avanços sociais obtidos em seus dois mandatos. Ele é protegido pelo que os políticos chamam de efeito teflon. Alguém, em sã consciência, acredita que Lula pode ser derrotado pelo tucano Aécio Neves ou pelo prefeito Eduardo Paes, a nova aposta do PMDB? O velhinho vem aí e está em plena forma.

 

'Articulação política é tarefa de todo o governo'

Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, diz ser apenas um braço auxiliar na interlocução com o Parlamento

Deco Bancillondeco.bancillon@brasileconomico.com.br e Edla Lulaelula@brasileconomico.com.br

Com quatro meses do segundo mandato presidencial, a impressão que se tem é de que o governo está parado, esperando a nuvem negra passar...

O governo está trabalhando intensamente, preparando aquilo que foi discutido no ano passado, e que foi anunciado em linhas gerais no início do governo. E, principalmente, fazendo a compatibilização daquilo que se deseja fazer, com aquilo que o Orçamento vai permitir. Não há nenhuma paralisia. O que há, evidentemente, é um momento em que não se pode dizer publicamente algo, sem ter fechado todas as contas.

Em sua área, como está o plano de expansão da internet, o Banda Larga para Todos?

Está bem avançado e tudo o que a gente pode dizer, por ora, é que os objetivos são ambiciosos. A lógica é da inclusão. O ideal é alcançar 100% da população, mas atingir isso é sempre muito difícil. Nossa meta é o máximo possível de pessoas recebendo educação, informações e cultura pela internet em banda larga, com velocidade muito acima do que temos hoje no país.

Como será a participação das empresas no programa?

Elas têm uma demanda, que é a demanda de mercado. Elas vão atrás dessa demanda, independentemente do governo. Existe uma demanda social, em que o governo interpreta o sentimento das pessoas e tenta atender. As empresas querem condições para que não se imponha a elas grandes restrições, do ponto de vista do resultado. Em algumas localidades, será preciso um subsídio grande, porque precisaremos de algo que atraia as empresas. A banda larga no futuro vai representar um misto de sinal de TV, de rádio, com acesso a tudo o que existe de possibilidade de consumo, de serviços e de serviços governamentais. Para quem usa a internet intensamente, já é assim. A demanda é por internet móvel. Internet fixa continua sendo importante, mas as pessoas querem smartphone, tablet e notebook conectado. Smartphone é um fenômeno irreversível. As pessoas querem.

A política de desoneração vai permanecer?

A política de desoneração do smartphone continua. A obrigação que nós impusemos para as empresas é que tenham conteúdo nacional.

As metas para implantação da TV digital serão cumpridas?

Acredito que sim. Temos a meta de migrar em todo o Brasil até 2018. Até 2016 desligaremos as TVs analógicas em Brasília, Rio e São Paulo. Até 2018 atingiremos as regiões Norte e Nordeste. O desafio é saber onde estão as pessoas sem conversor. Os cadastrados no Bolsa Família terão conversor de graça, mas nem todo mundo está no Bolsa Família. Teremos que criar meios para chegar também a essas pessoas.

Em relação ao contingenciamento, como está seu ministério?

Fizemos um diagnóstico e a presidenta tende a concordar que o contingenciamento não pode ser linear. Há áreas estratégicas que devem ser, senão poupadas, no mínimo menos contingenciadas.

Nas comunicações, o que é estratégico?

Sem querer puxar a tensão para o lado do Ministério, nas comunicações tudo é estratégico. Não existe mais Ministério das Comunicações: agora, é Ministério das Comunicações em Tudo. A vida caminha para dentro de um smartphone. Em qualquer empresa, média ou grande, tem alguém pensando uma estratégia para vender pela internet e para reduzir custos usando TI.

Há uma discussão sobre o uso do Fundo de Universalização do Setor de Telecomunicações (Fust) para fechar as contas públicas. O Fust vai ser usado para o plano de banda larga, ou vai para a Fazenda, para fazer superávit?

Não existe isso de os recursos do Fust irem para a Fazenda para fazer superávit. A contabilidade é única do governo. O que existe é o seguinte: como o Fust é um fundo contábil, historicamente sempre foi usado em grande parte para a contabilidade geral da União, do resultado geral. Temos outros fundos, Fistel, Funtel, que têm características específicas. Sabemos que este ano há um aperto maior, mas nossa meta é ao longo dos anos ir liberando recursos para ampliar sua utilização em telecomunicação.

De que maneira o Ministério está envolvido na investigação do fundo Postalis?

O Fundo é patrocinado por uma empresa chamada Correios. A responsabilidade do ponto de vista do patrocinador é dos Correios, e não do Ministério das Comunicações. Sou um militante da causa dos participantes dos fundos de pensão desde os tempos do sindicato. Passando pela minha atuação como ministro da Previdência e como parlamentar, sempre defendi que o dinheiro do trabalhador é sagrado e qualquer má utilização tem que ser investigada e, se apurada irregularidade ou imperícia, deve haver a consequência para quem praticou os atos. Não há qualquer razão para o ministério achar que vai posar de xerife nessa questão do Postalis. Xerife é a Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), é o Ministério Público e a Polícia Federal.

Existe um pedido de CPI dos Fundos de Pensão na Câmara. No âmbito da Lava Jato, diz-se que os recursos dos fundos, controlados por PT e PMDB, teriam sido usados incorretamente.

Não conheço nenhum fundo de pensão controlado por partido. São controlados por pessoas físicas, que têm responsabilidades. Nos anos 90 já vimos, por exemplo, no Ministério das Comunicações, a atuação de dirigentes operando para incluir o fundo de pensão A, ou fundo de pensão B. Ligações foram grampeadas e as fitas vazaram (escândalo conhecido como grampo do BNDES). Eu sou contra isso. Fundo de pensão é para ser usado estritamente nos interesses dos associados, e se houver qualquer pessoa que tenha tido atuação irregular, não se culpe o partido A, B, C ou D.

As nomeações políticas atrapalham a boa gestão dos fundos de pensão?

O fato de uma pessoa ser filiada a um partido não quer dizer que seja uma nomeação política. O ex-presidente da Previ, Sérgio Rosa, fez, em minha opinião, a melhor gestão da história na Previ e era filiado a um partido político, exatamente o mesmo que eu.

A oposição prega abertamente a extinção do PT. O sr. vê essa CPI como mais uma estratégia para destruir o partido? Como fazer para soerguer?

Em 2005, um então senador da República do PFL (Jorge Bornhausen) disse que tinha o objetivo de “acabar com essa raça” — a raça eram os petistas. O partido dele não existe mais. Teve que trocar de nome para sobreviver. Pessoalmente, acho que isso faz parte da disputa política. O Brasil já viveu isso com Getúlio Vargas, com JK, depois com Jango. Vivemos isso com Lula. Em 2007, foi levada à OAB uma proposta para que a Ordem encabeçasse o pedido de impeachment do Lula. Acho um exagero e um oportunismo daqueles que são golpistas e querem sempre a ruptura como a solução para sua própria incapacidade política.

Mas como um dos articuladores políticos do governo, como o sr. vê e que estratégias tem para conter essa ira anti-PT?

Em primeiro lugar, sou um humilde auxiliar nos assuntos de articulação política. Auxiliar mesmo. Não estou sendo modesto. Acho que o papel de articulação cabe agora ao vice-presidente Michel Temer e o que ele precisar que eu ajude, vou ajudar, porque gosto muito do Michel.

Então o PT é só um braço auxiliar na articulação?

E por que não pode ser? O PT não pode achar que a articulação política é uma tarefa sua. É uma tarefa de todo o governo, e o ministro pode ser de qualquer partido, ou até sem partido, desde que tenha conhecimento e competência para isso.

O sr. disse recentemente que não dá pra jogar bem só em gramado bom. Com Temer o gramado ficou mais verde?

Não. O jogador é melhor. Temer é um jogador que tem a responsabilidade de ser vice-presidente, ou seja, entra em campo com uma responsabilidade superior à que eu tinha na SRI, à que Pepe (Vargas) ou Ideli (Salvati) tinham. E tem a nossa solidariedade. O PT não se sente nem um pouco diminuído por isso. Desde o primeiro momento eu fui um dos articuladores para Michel ser o vice-presidente. Temer joga no time do governo. Na presidência da Câmara e do Senado, cada um desempenha seu papel institucional. Quando a pessoa assume a mesa da casa, não deixa de ser do partido, mas tem outras responsabilidades que o partido não comanda. O partido não pode dizer ao Renan (Calheiros, presidente do Senado) ou ao Eduardo Cunha (presidente da Câmara) o que fazer.

O PMDB ficou mais calmo com a entrada de Michel Temer em campo?

Não quero tratar esse assunto como uma questão do PMDB. Se fosse só o PMDB, seria fácil. O partido tem 65 deputados, seria possível construir uma maioria sem o PMDB. O problema é que houve um esgarçamento em alguns momentos da relação da base parlamentar. Entre 2012 e 2014, por razões programáticas, houve vários momentos em que os partidos da base não se entenderam no Congresso. Não foi um problema só da relação com o governo. Em temas como o projeto da terceirização, a PEC 215 das terras indígenas, a homofobia, houve uma fratura na base. É hora de reconstruir e reorganizar essa relação.

Mas como virar esse jogo?

A oposição está no papel dela, de se aproveitar disso para ter uma vitória. A realidade existe. Não podemos fingir que não existe. O que fazer? A presidenta tem um programa para executar, temos é que priorizar quais são os pontos mais consensuais desse programa na base, e evitar os pontos que são divergentes.

Foi um erro do PT não ter afastado do partido o tesoureiro João Vaccari preventivamente, para evitar respingos da Operação Lava Jato no governo?

Afastar Vaccari do partido não adiantaria muita coisa. O tesoureiro do partido não é necessariamente colado no governo. Até agora, não vi nada de concreto em relação à denúncia contra Vaccari. E achei a prisão dele estranha. Foi logo depois que ele foi à CPI e mostrou que todos os grandes partidos receberam contribuições de campanha das empresas que estão sendo investigadas na Lava Jato, em valores semelhantes e inclusive maiores. A questão geral é se discutir por que existe corrupção no Brasil e no mundo. Estamos diante da dúvida do ovo da galinha. Onde começa a corrupção: no político corrupto, ou no empresário corruptor? O financiamento privado de campanha induz os políticos e os partidos a se aproximarem de maneira perigosa das empresas. Todos os partidos grandes assumiram esse risco. Não conheço partido grande que não se utilize de financiamento privado de campanha. Cabe à polícia apurar quais os que atravessaram a linha da corrupção.

Por que sr. achou estranha a prisão de Vaccari?

Um cidadão que comparece voluntariamente a todas as demandas para esclarecer questões precisa ser preso preventivamente? Não sei se havia qualquer elemento que justificasse a prisão do Vaccari. Várias detenções desse processo da Lava Jato me parecem estranhas. Inclusive a duração de determinadas prisões, que se estendem por meses, muitos meses. Quando o constituinte criou alguns pressupostos como garantias fundamentais do Estado democrático de direito, o fez por compreender aquilo que todos os que têm compromissos com a democracia temem: o uso de expedientes investigatórios para influenciar a vida política do país.

Esse expediente está sendo usado? Como o sr. vê esse movimento que existe hoje no Congresso e nas ruas, que analistas apontam como um processo de conservadorização da sociedade brasileira, acusando o PT de bolivarianismo?

Estaríamos diante do Tea Party brasileiro? Tem uma franja brasileira muito conservadora, do ponto de vista de comportamento e da economia, e tem outra parte que de fato verbaliza um comportamento de intolerância — não gosto da palavra ódio. Nas democracias mais avançadas do mundo existem partidos de direita, de esquerda, de centro-esquerda, de centro-direita. O Brasil tem que aprender a ser tolerante e se expressar através da participação, da manifestação e do voto, mas sem mentira. Quem conhece o programa do PT, sabe que o PT jamais teve qualquer tipo de radicalismo nas grandes questões que interessam ao povo brasileiro. Tem gente que insiste em dizer que o PT flerta com a censura, mas é um compromisso nosso, com a nossa história, defender a liberdade de expressão.

Há, inclusive, a argumentação de que o sr. iria patrocinar a censura na proposta de regulamentação da mídia...

Não há na sociedade brasileira hoje um pensamento homogêneo sobre este assunto. Não havendo, seria uma precipitação o governo apresentar uma proposta para regulamentação da mídia. O governo não tem uma proposta pronta; é uma discussão que tem que ser feita. Muitos fazem críticas a uma proposta que ainda nem discutimos. Mas se eu assinasse a lei atual, as pessoas diriam que ela é bolivariana. As regras atuais não tratam de aspectos fundamentais julgados importantes em outros países. Não falo de Venezuela, Bolívia ou Argentina. Falo de Inglaterra, com a lei assinada por sua majestade, a Rainha Elizabeth. Não sou bolivariano, sou elizabethiano. O governo brasileiro tem um compromisso inarredável com a liberdade de expressão. E mesmo que não tivesse, o princípio da liberdade de expressão é uma clausula pétrea da Constituição.

A oposição busca fundamentações para sustentar o pedido de impeachment, como o relatório do TCU condenando as pedaladas fiscais do governo. Acha que irão concretizar o pedido?

A oposição tem obsessão pelo impeachment. Tem até pessoas da oposição mais cautelosas, mas, aparentemente, aqueles que dirigem os partidos têm essa obsessão. Talvez eles vejam isso como a única forma de desalojar a presidenta Dilma Rousseff da direção do país, já que disputaram a eleição recentemente e perderam.

Qual a diferença entre o “fora Collor”, o “fora FHC” e o “fora Dilma”?

Em primeiro lugar, nunca foi pedido o impeachment do presidente Fernando Henrique. Algumas pessoas no PT usaram a expressão “fora FHC” como uma bandeira política para dizer “fora” à política que estava lá. Mas nunca chegou a ser proposto o impeachment. Nem quando Fernando Henrique operou abertamente, segundo a própria imprensa noticiou, para impedir a CPI da corrupção. Nem quando houve o escândalo das fitas da Telebrás. Nós, do PT, sempre achamos que, tendo alguém sido eleito, tem que cumprir o mandato, fazemos oposição e na época da eleição tentamos ganhar. No caso do Collor, foi diferente. Houve alguns elementos que motivaram a própria ABI, a OAB e a CNBB a propor o impeachment. Para ser justo, o PT até defendeu o impeachment de Collor, mas não pediu.

A postura da oposição encontra eco nos movimentos que, agora, com o relatório do TCU, dispõem de um fato concreto para voltar às ruas. Acha que o movimento seguirá diminuindo em volume, como aconteceu no 12 de abril, ou pode ganhar força?

O fato de ter havido mais ou menos manifestantes em 12 de abril, do que em 15 de março, não me impressiona. Pode ter sido motivado por vários fatores. Não é a contabilidade de pessoas nas manifestações que vai determinar o rumo da história. Manifestações são democráticas. No Chile, por exemplo, os estudantes colocam 100 mil pessoas na rua, com uma população muito menor que a nossa, para protestar contra a privatização da educação. Posso dizer que a maior parte das pessoas que foram às ruas era composta por aquelas que votaram no candidato da oposição, e uma boa parte tem um grau de intolerância política brutal; são pessoas sem compromisso com a democracia. Mas acho positivo o fato de irem se manifestar, mesmo quando empunham bandeiras não democráticas.

Representantes desses movimentos levaram ao Congresso a proposta de criação da CPI das urnas eletrônicas, sob a acusação de que a empresa que forneceu o serviço teria relações com o PT e teria fraudado a eleição de Dilma. Como vê essa possibilidade?

Acho ótimo que se monte a CPI das urnas eletrônicas. Interessante é que, durante a eleição, militantes do PT me procuraram para dizer que a empresa tinha vínculos com o PSDB e eu disse: “Gente, mesmo se tiver, o sistema é todo auditado, nós temos direito de indicar auditor para fazer auditagem do software”. Fraude por fraude, a urna de papel é muito mais sujeita a fraude. Elegemos quatro mandatos do PT num país onde o establishment sempre foi reticente ao PT. Jaques Wagner ganhou duas eleições e elegeu um governador em um estado onde sempre foi minoria do ponto de vista do establishment. Não vejo razão para ter desconfiança em relação à urna eletrônica.

Como vê a proposta de fusão entre os partidos Democratas e PTB, e ainda a ameaça do PDT de deixar a base do governo?

Não creio que ocorra a fusão entre o DEM e o PTB. Até agora, 23 deputados já assinaram contra. No caso do PDT, é outra coisa. O PDT tem um vínculo histórico com nosso projeto e com a presidenta Dilma. Ela foi filiada ao PDT e foi o primeiro partido que apoiou a presidenta.

Mas cinco dos seis senadores assinaram a carta sugerindo a ruptura...

Faz parte do jogo. Depois de 30 anos de vida política, eu não tenho direito de me impressionar com os momentos que são lances da vida política. Vamos dialogar. Carlos Lupi (presidente do PDT) é um grande companheiro, Manoel Dias é um grande companheiro. Tenho dialogado com muitos deputados da bancada do PDT que são muito atuantes e pessoas muito corretas.

A discussão em torno das eleições de 2018 se antecipou. As pesquisas já apontam queda na popularidade do ex-presidente Lula. O sr. concorda com analistas que dizem que o impeachment agora ajudaria a candidatura de Lula em 2018?

Essa observação traz muito de especulação. Não tem nem como comentar. Eu acompanho todas as pesquisas desde os anos 80 e tenho coleções de pesquisas arquivadas. As pesquisas flutuam do jeito que você quiser. Depois de julho de 2013, nove em cada dez pessoas avaliavam que a presidenta Dilma não seria reeleita. E ela foi, apesar da capa da “Veja”...

Quais as chances de Lula ganhar em 2018?

Para ganhar o campeonato, tem que jogar um jogo de cada vez. Quem pensar em 2018 agora, vai deixar de fazer as tarefas que tem que fazer agora, para pensar em 2018. Faz errado quem fica especulando se Lula vai ser candidato, ou não. Não passaram nem as eleições municipais.

 

domingo, 26 de abril de 2015


Há uma nova zona cocaleira na fronteira’, diz ex-superintendente da Polícia Federal no AM

Há mais de três décadas, Mauro Spósito acompanha o crescimento do tráfico de drogas no Estado, principalmente o da cocaína pura, exportado pelos países vizinhos

Manaus (AM), 26 de Abril de 2015

JOANA QUEIROZ

 

"Essa região da Amazônia sempre foi uma 'porta de entrada'. Só que, ao longo dos últimos dez anos, tivemos uma mudança significativa nesse cenário", explica Spósito (Reprodução)

O avanço do narcotráfico na fronteira do Amazonas com a Colômbia e o Peru vem ganhando dimensões preocupantes e tem levando as autoridades, principalmente as da área de segurança pública, a discutirem soluções para conter o avanço do tráfico na região, assim como sua “rede de consequências”, que vão de crimes de homicídio, roubo e sequestro a evasão de divisas e ainda lavagem de dinheiro.

Com mais de 30 anos de experiência trabalhando em ações policiais para reprimir a ação de traficantes e a entrada de drogas em território brasileiro, o ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas Mauro Spósito revela que uma grande ação conjunta deve ser realizada este ano com um objetivo, no mínimo, ousado.

Ele pretende reprimir em 80% a entrada de drogas no Amazonas pela tríplice fronteira – Brasil, Peru e Colômbia. Nesta entrevista, Espósito fala sobre o avanço do tráfico no Amazonas, relata ações das quais participou e relembra narcotraficantes que prendeu ao longo das três últimas décadas.

 

O que mudou nas ações de combate e repressão às organizações criminosas ligadas ao tráfico nos últimos 30 anos?

Essa região da Amazônia sempre foi uma “porta de entrada”, no Brasil, da cocaína produzida na Colômbia e no Peru. A fonte de ingresso sempre foi a tríplice fronteira. Só que, ao longo dos últimos dez anos, tivemos uma mudança significativa nesse cenário. Até o ano de 2005, tínhamos a certeza de que a cocaína só era produzida na banda oriental da Cordilheira dos Andes, em um processo em que as folhas eram secadas e transformada em cloridrato de cocaína. E, só depois desse processo, a droga era transportada. De 2005 para cá começamos a notar que os narcotraficantes começaram a plantar coca em áreas de selva úmida. Descobrimos que haviam descoberto uma nova tecnologia para a extração do alcalóide da folha de coca verde. A realidade que temos hoje é que, na margem esquerda do rio Javari, no Peru, foi instalada uma nova zona cocaleira, que não existia há dez anos. A produção está a cada ano mais perto do mercado consumidor brasileiro.

 

Quais são as implicações que essa nova forma de produção trouxeram para a segurança na área de fronteira?

O campesino, que era quem cultivava a coca e vendia a folha para os laboratórios de refino, deixou de ser o mero cultivador e passou a ser o narcotraficante. Ele planta, processa e vende a droga. As plantações, que no passado eram concentradas na região do alto Tupumayo e no Alfayaga, distantes mais de 400 quilômetros das nossas fronteiras, hoje estão a pouco mais de 30 metros do Brasil, na margem do rio Javari. Há cultivo tanto na Colômbia como no Peru.

 

Quantas toneladas de cocaína entram no Brasil pela nossa fronteira?

A avaliação que eu tenho é que mais de 300 toneladas de cocaína entram no Brasil por ano, a maior parte por aqui. Para produzir a cocaína, eles usam gasolina, cimento e ácido sulfúrico, e esse material eles compram lá por um preço bem inferior ao que é comercializado aqui.

 

Da quantidade que entra no País, quanto fica em Manaus?

Não posso dizer. O que eu posso dizer é que, pelos nossos cálculos, o que temos é uma situação totalmente esdrúxula aqui no Amazonas, com uma evasão de divisas anual de U$ 300 milhões. Isso implica que nós colocamos esses U$ 300 milhões para comprar a droga e, quando ela ingressa em território amazônico, ela fornece ao mercado de U$ 1,2 bilhões de economia subterrânea, porque não é taxada. O que eu posso dizer é que nós temos um consumo absurdo de pasta base de cocaína.

 

Quais os caminhos que a droga segue no Amazonas?

Só temos um caminho: os rios. O transporte por aeronave implica em abastecimento e nós controlamos o abastecimento de aeronave há muito tempo. Portanto, a grande estrada é o rio. O Solimões é o principal.

 

A que o senhor atribui essas grandes apreensões de droga que vêm acontecendo nos últimos meses?

Posso dizer que pode ser a chegada do Sérgio Fontes na Secretaria de Segurança (ex-superintendente da Polícia Federal, Sérgio Fontes assumiu a SSP-AM no início desde ano). Ele é um especialista nessa área, teve a vida profissional toda voltada para isso. As grandes apreensões podem trazer consequências. Eu tenho um posicionamento muito claro. No crime não existe hierarquia, quem tem hierarquia é quem tem dinheiro e quem tem dinheiro contrata pistoleiro.

 

Além da cocaína, a polícia tem apreendido nos últimos meses grandes quantidades de skunk. Quem está produzindo essa maconha?

É uma maconha praticamente hidropônica e, pela facilidade de cultivo, está em declínio e precisa de um grande volume para abastecer os fornecedores. Um exemplo, um quilo de maconha custa R$ 1 mil na Colômbia, mas um quilo de maconha no Paraguai custa U$ 30. A Colômbia sempre foi produtora da maconha, eles aproveitaram os caminhos do tráfico da maconha para traficar cocaína, que é bem mais rentável. No ano passado apreendemos, no Mato Grosso, uma carreta com 14 toneladas de maconha produzida no Paraguai.

 

A Polícia já identificou os grandes traficantes que atuam no Amazonas?

Nós temos centenas de traficante. Eles atuam da forma mais simples que você possa pensar. Eles têm representantes junto à fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, que intermediam a compra da droga e a trazem para Manaus. Alguns grupos têm ponto de distribuição em Manaus e até em outros Estados. Não precisa de muita coisa. Só de dinheiro. O que faz o crime é o dinheiro. Tendo dinheiro ele contrata o pistoleiro, que é quem garante a segurança. No crime não existe cartório de protesto. As dívidas do narcotráfico são pagas com a vida.

 

Ao longo desses 30 anos de atuação na repressão ao narcotráfico no Amazonas, quais os principais nomes que passaram pela prisão?

Foram centenas de nomes, não dá para destacar um ou outro. Foram muitos, mas lembro do Leonardo Dias Mendonça, do Antonio Mota Graça, o “Curica”, que está foragido. São de famílias que se envolveram com o crime. Javier Ardela Michue o “Javier”, era o grande fornecedor desses que hoje dizem ser membros da Família do Norte “FDN”, como José Roberto Fernandes, Ronairon, Gelson Carnaúba e João Branco.

 

O que pode ser feito para reprimir a ação dos narcotraficantes aqui?

Enquanto nós não cortarmos a linha de suprimento nós vamos ter problema. A única forma que existe é cortar essa linha de suprimento direto em território brasileiro. Não tem outra forma. Toda guerra se ganha assim. Enquanto o inimigo tiver suprimento ele tem munição para dar tiro. Traficante perde 200 quilos de droga, mas ainda tem dinheiro para recuperar o prejuízo que teve. Ações pontuais são boas, mas enquanto não se adotarem ações permanentes de repressão, não vamos conseguir nada.

 

O que o senhor chama de ações permanentes?

São ações para impedir a entrada das drogas em território brasileiro. Nos próximos dois meses, por exemplo, estaremos montando um trabalho que tem 11 instituições envolvidas e em que, 24 horas por dia e 365 dias por ano, serão fiscalizadas todas as embarcações que adentram o rio Solimões, uma média de 150 por dia. É disso que estou falando.

 

Perfil

Nome: Mauro Spósito
Idade: 64 anos
Estudos: Formado em Direito e especializado em Sociologia Criminal pela Faculdade de Guarulhos
Experiência: Delegado de Polícia Federal, ex-superintendente da PF no Amazonas (1993-2000).

 

 

"... Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, ..."

Prezados Colegas e Amigos

Com alto grau de constrangimento, ora enviamos este e-mail com seu anexo contendo o Ensaio “A HISTÓRIA SE REPETE” há muito disseminado e que continua bem atual.

Neste momento histórico que vivenciamos, a Escola Superior de Guerra – ESG está sob intenso fogo inimigo, como os militares dizem no seu jargão.

Pertencemos e atuamos no grande sistema ESG/ADESG há cerca de 49 anos (desde 1966) e, em muitos períodos, com grande intensidade.

Presenciamos, em seu âmago, momentos de todos os tipos. Mas, nunca uma situação tão preocupante como a que ora vivemos.

Preocupação agravada pela inércia e silêncio dos que conhecem e guardam a verdade para si, por comodidade, interesse pessoal ou falta de elã.

Acreditamos conhecer uma possível resposta à indagação que ora impera em seu âmago: “Por que há uma tenaz e contínua investida contra a ESG?”.

Estamos convictos de que esta resposta está contida no citado Ensaio anexo que encerra a gênese do ambiente que os últimos governos têm proporcionado contra o sistema ESG/ADESG e que já foi amplamente difundido por cópia neste sistema e no âmbito do Ministério da Defesa, além da publicação no periódico ADESGUIANO.

É triste e difícil assistir, impotente, a esse desenrolar dos acontecimentos!

Está sendo veiculada na televisão uma gravação com entrevista do Exº Sr. Ministro da Defesa afirmando, entre outras notícias, que estava em andamento a troca do nome da Escola Superior de Guerra para Escola Superior de Defesa. Seguiu-se uma tentativa de justificar a medida, completamente fora de propósito.

Caso tivesse feito qualquer curso da tradicional ESG, S.Exª saberia:

1. que Guerra é um fenômeno sociológico que todos os povos já sofreram com ele e, inevitavelmente, poderão vir a experimentar no futuro em seus processos histórico-culturais;

2. que Guerra não tem sua escalada e eclosão por decisão militar;

3. que declaração de Guerra ou acordo de Paz, formal ou não, são atos políticos e não militares (vide Art. 137 de nossa Carta Magna);

4. que não há lógica falar de Defesa sem considerar Hipóteses de Guerra;

5. que, como sendo o fenômeno sociológico mais importante para qualquer nação, muitas vezes surgindo por vontade exógena, a Guerra não deve ser improvisada e deve ser sempre prevista em termos de Hipóteses; e

6. que, sem esgotar o assunto, a Guerra pode se manifestar de variadas maneiras como, por exemplo, Guerra Econômica, Guerra Psicológica, Guerra Fria, Guerra Religiosa, Guerra Diplomática, Guerra Subversiva, Guerra Cultural, etc, etc, etc.

Infelizmente, S. Exª não atinou para o fato de que Guerra não pressupõe, por si só, um conflito armado que eclode por atos volitivos dos conflitantes. Muitas vezes surgem de escaladas incontroláveis pelas partes que passam a ser beligerantes.

Nunca é demais relembrar que, completamente contra a vontade nacional, a Nação Brasileira foi levada a participar de inúmeros conflitos historicamente nominados como Guerra do Paraguai, Grande Guerra, II Guerra Mundial e, mais recentemente, Guerra da Lagosta, entre outras. Em todas, dentro de nossas possibilidades, nos defendemos com sucesso. Qualquer leigo conclui que Defesa é ação e que Guerra é fenômeno sociológico.

Em termos de técnica de Administração, quando departamentalizamos uma estrutura organizacional os nomes de seus órgãos devem retratar o “problema” de responsabilidade direta de cada um e não a “solução” que cada um deve adotar.

Considerando tudo isto, mesmo para qualquer medíocre analista, evidencia-se a aproximação do fim da ESG como concebida em julho de 1949 – por um eminente grupo de verdadeiros brasileiros – e, concomitantemente, o inevitável desvanecimento da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG.

É desalentador!

Gilbert Keith Chesterton (crítico inglês: 1874-1936) em sua época já enfatizava: Quem muito me preocupa não são aqueles que não veem soluções e sim os que não querem ou não conseguem sentir e entender os problemas.

Entretanto, devemos sim, como brasileiros - e como fazemos -, aproveitar todas as oportunidades para defender o grande sistema ESG/ADESG, mantendo sempre em mente que "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever.

Cordialmente,

AD

Dr Amaury Dabul