segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Centésima unidade do blindado Guarani é entregue ao Exército Brasileiro

Publicado em Segunda, 29 Setembro 2014 10:41 | Última atualização em Segunda, 29 Setembro 2014 15:46
Sete Lagoas (MG), 29/09/2014 – Em cerimônia ocorrida na última sexta-feira (26), foi realizada a entrega simbólica da centésima unidade do Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP-MR) Guarani ao Exército Brasileiro. O evento aconteceu na fábrica da multinacional italiana Iveco, em Sete Lagoas (MG), parceira da Força Terrestre no desenvolvimento do projeto. Além do ministro da Defesa, Celso Amorim, estiveram presentes o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), general José Carlos De Nardi, e o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri.


Projetado pelo Centro de Tecnologia do Exército (CTEx), o Guarani foi desenvolvido para substituir os antigos blindados Urutu e Cascavel. O moderno equipamento, cuja propriedade intelectual pertence à Força Terrestre, pode ser empregado em operações militares de ataque, defesa, patrulhamento e missões de paz. A centésima unidade será entregue, junto de outras três, ao 3º Regimento de Cavalaria Mecanizada de Bagé, no Rio Grande do Sul
Para o ministro Celso Amorim, o sucesso do projeto do blindado Guarani demonstra a “capacidade de desenvolvimento conjunto do Estado brasileiro e de uma multinacional”. Para o dirigente, o Brasil não pode ser dependente de equipamentos estrangeiros em sua estratégia de Defesa nacional - cerca de 90% dos componentes utilizados na fabricação do Guarani são de origem nacional.


“Um país como o Brasil não pode prescindir de uma Defesa adequada, que deve estar preparada para dissuadir qualquer ameaça. É fundamental que a sociedade civil compreenda a importância do equipamento de defesa para um país das nossas dimensões e com as nossas riquezas”, ressaltou o ministro.
A parceria com a multinacional Iveco, que construiu um módulo industrial de 35 mil m² para fabricação do Guarani, foi destacada por Amorim como modelo de cooperação internacional na área de Defesa. “Não estamos fechados”, destacou.
O ministro, juntamente do presidente da CNH Industrial, holding à qual pertence a Iveco, Wilmar Fistarol, colocou o selo de 100º Guarani entregue ao Exército na blindagem da unidade disposta junto à cerimônia em Sete Lagoas.
Em operação
Desde que teve seu primeiro lote entregue, em março último, ao 33º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIM) em Cascavel (PR), outras três unidades militares receberam o blindado Guarani: 34º BIM, em Foz do Iguaçu (PR); 30º BIM, em Apucarana (PR); e o Centro de Instrução de Blindados em Santa Maria (RS).

Exemplares do Guarani já foram empregados na Operação Ágata 8, realizada em maio último, na fronteira com o Paraguai, e também na operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que acontece no complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro.
Além dos quatro blindados que seguirão para Bagé, outras seis unidades militares já tem previsão de receber exemplares do Guarani: 16º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, em Francisco Beltrão (PR); 11º Regimento de Cavalaria Mecanizada (RCM), em Ponta Porã (MS); 17º RCM, em Amambai (MS); 57º Batalhão de Infantaria Motorizada (BIM), no Rio de Janeiro; e no 1º BIM, também no Rio de Janeiro
No total, 56 Guaranis já foram entregues ao Exército e outras 72 unidades estão em processo de recebimento por parte da Força Terrestre. A previsão é que, em 20 anos, 2044 blindados sejam incorporados às Forças Armadas.


Modernidade
Com capacidade para 11 homens – sendo nove combatentes, um atirador e um condutor –, o blindado Guarani contém, além de ar condicionado, uma série de inovações tecnológicas: baixa assinatura térmica e radar – o que dificulta sua localização pelos inimigos; proteção blindada para munição perfurante incendiária e minas anticarro; navegação por GPS; freios ABS; visão noturna; motor de 383 cv, com velocidade máxima de 100 km/h; sistema de gerenciamento de campo de batalha; e sistema de consciência situacional.


O Guarani também é preparado para navegação, com hélices traseiras que lhe dão capacidade anfíbia. Suas torres podem ser equipadas com canhões de munição de 30mm, além de metralhadoras .50 e 7,62mm. É projetado para atingir alvos aéreos e terrestres. Desde 2013, os militares dos batalhões de infantaria mecanizado das regiões Sul e Centro-Oeste estão recebendo adestramento específico para operar o novo blindado.
Cada unidade do Guarani leva até 3,2 mil horas para ser fabricada. São 350 funcionários na linha de montagem, inaugurada em 2013 especificamente para o projeto e que tem capacidade de produzir entre 120 e 200 blindados ao ano.
“Unimos a experiência da Iveco às necessidades das Forças Armadas de modernização de seus equipamentos. É uma tarefa altamente complexa, mas que resulta num produto genuinamente brasileiro, adequado à nossa realidade. É uma parceria promissora que ajudará a impulsionar o desenvolvimento tecnológico do país e a consolidar a Base Industrial de Defesa (BID)”, ressaltou Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial.
Perspectivas
A plataforma do blindado será usada como base para a produção de uma família de até 10 diferentes versões do Guarani, entre elas viaturas de reconhecimento, socorro, posto de comando e controle, porta morteiro e ambulância.

Entrega da 100ª unidade do blindado Guarani
Data: 26/09/2014
Local: Sete Lagoas (MG)
A modernidade, versatilidade e eficácia do Guarani tem atraído a atenção de países em processo de renovação e atualização de seus equipamentos militares. De acordo com o chefe de Assuntos Estratégicos do Ministério da Defesa, general Menandro Garcia de Freitas, já existem manifestações de países interessados pelo equipamento desenvolvido no Brasil. “Existe uma demanda mundial por blindados como o da família Guarani”, disse.
Entre as diversas autoridades civis e militares na cerimônia de entrega do 100º Guarani, estavam presentes o chefe do Estado Maior do Exército, general Adhemar da Costa Machado; o chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, general Sinclair Mayer; e o comandante Militar do Leste, general Francisco Modesto.


Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

O PT não fez a batalha por corações e mentes'
Professor-titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro prevê tempos difíceis para o próximo presidente e acredita que PSDB e PT terão de se renovar
Leonardo Fuhrmann lfuhrmann@brasileconomico.com.br e Patrycia Monteiro Rizzotto pmonteiro@brasileconomico.com.br
Professor-titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro prevê tempos difíceis para o próximo presidente, qualquer que seja o vencedor da eleição de domingo. Ele critica a despolitização do debate político e é duro na análise dos principais candidatos: “As propostas de Marina têm um problema de falta de consistência; as do PSDB estão bastante superadas em termos de finalidade; e as do PT, envelhecidas”. E acredita que PSDB e PT terão de se renovar. “O PSDB ficou tão atrasado que eu fico espantado como ainda tem tanta gente disposta a votar nele”, alfineta. Sobre Dilma Rousseff, critica o autoritarismo e o ministério fraco, problemas que podem se agravar em novo mandato. Janine diz que o acesso das classes populares a produtos tem reforçado o pensamento conservador — “A inserção pelo consumo cria uma mentalidade consumista, que é de direita”. E cobra um passo à frente dos programas sociais: “Será necessário um plano mais estruturante”.
Como o sr. viu a ascensão de Marina Silva na campanha?

Foi o fenômeno mais interessante desta eleição, que estava muito morna, porque Eduardo Campos não conseguia desenvolver uma imagem diferente da de Aécio Neves. E, bem antes, o tom da campanha era dado por um certo sentimento de desencanto com a política tradicional e com os dois partidos que têm se alternado no poder. Por isso que o grande número de votos que Marina agregou nas primeiras pesquisas de intenção de votos foram de pessoas que pretendiam votar branco ou nulo, ou que estavam indecisas. Eu não sei mencionar quanto desse desencanto tem a ver com o conteúdo da política tradicional, e quanto tem a ver com a forma. Porque há uma agressividade nas campanhas. O tempo todo a mídia bate no PT. E, na hora da campanha, o PT também está batendo pesado, sobretudo na Marina, o que gera descontentamento em parte dos eleitores. Há duas grandes questões debatidas pela população: os programas sociais — que fazem as coisas tenderem a favor do PT — e a questão da corrupção, que muitas pessoas pensam que é exclusividade do PT, que não existe em outros partidos. Isso se tornou uma bandeira contra o PT.
Por que se associa a corrupção à imagem do PT? 
Numa sociedade de pouca cultura democrática, é difícil as pessoas se acostumarem à ideia de que há dois, três partidos políticos concorrendo, igualmente honestos, ou desonestos, mas que a diferença deles seja dada pela plataforma, e não pela honestidade. Aqui se projeta uma característica da moral sobre a política. Na moral, se tem mais forte a ideia de que há condutas erradas e que, em certas condições, há apenas uma conduta correta. Então, quando se projeta a moral sobre a política, se você discorda de alguém, acaba acreditando que esse alguém é do mal, que está fazendo uma coisa errada, não só politicamente, mas moralmente. Isso o PT fazia quando estava na oposição, denunciava o governo Fernando Henrique e aqueles a quem combatia, não por opções políticas equivocadas ou divergentes, mas por afirmar que eles eram desonestos.
Por que o tema da corrupção ganhou importância eleitoral?
O PT não só levantou esse tema de maneira mais intensa, como aparecia, até 2002, como um partido ético por excelência. E ele não se preocupou muito em manter essa imagem. No Brasil, há duas questões éticas muitos fortes: uma que é a ética da corrupção no exercício do poder de Estado; e outra que é a questão ética da miséria. A existência de milhões de pessoas que ainda não foram incluídas socialmente, apesar do esforço do governo petista, é um problema sério. Mas, ao invés de o PT bater na tecla de que seu projeto é intensamente ético, porque resgatou dezenas de milhões de pessoas da miséria, preferiu calar-se sobre a ética. Então, a única questão ética que surge hoje é sobre a corrupção. Se o PT tivesse batido na tecla de que faz um governo ético porque é antiético ter gente morrendo de fome no Brasil, ter pobre sem oportunidades, ele estaria melhor.
Foi uma falha de comunicação?
Considero uma falha de concepção, que repercutiu na comunicação. O PT certamente se preocupou mais em conseguir o voto das pessoas beneficiadas, o que é legítimo, mas não gerou um pensamento disso como sendo ético. O pensamento do PT, quando discute ética, ficou pobre. Ficou a impressão geral de que não há prática política sem sujar as mãos. Em vez desse discurso, poderia questionar: “Vocês não se escandalizam com o fenômeno da fome?”. O jornal espanhol “El País” publicou um artigo sobre a busca do governo pelos chamados “brasileiros invisíveis”. Pessoas extremamente difíceis de localizar, que muitas vezes não têm documentos, e que poderiam ser incluídas no Bolsa Família, mas que não têm acesso porque estão muito, muito invisíveis para o Estado. Isso é um empreendimento ético de primeira grandeza. E olha que “El País” é um jornal simpático ao tucanato, não gosta do PT. Quando li esse artigo, me perguntei: “Como é que o PT não usa esse tema na campanha?”. O PT priorizou a inclusão pelo consumo, o que tem inúmeras vantagens. Uma delas é a de que havia uma demanda reprimida de gente que queria comprar, e não podia. E esse consumo represado era de coisas essenciais, como comida, geladeira... Depois veio, por extensão, o consumo de itens menos essenciais — maquiagem, roupas melhores. Mas o PT não politizou essa inclusão pelo consumo e isso levou boa parte dos beneficiários a acreditar que eles não devem nada às políticas públicas. Uma parte até vai votar em outros candidatos porque não sente que deve ao PT esse acesso ao consumo — pensa que é graças ao esforço individual deles. Os beneficiários nem cogitam que, se a economia estivesse em recessão prolongada, eles ainda estariam na miséria.
Mas a que se deve essa falta de debate ideológico do PT? 
Incluir pelo consumo é a linha de menor resistência, porque não se enfrenta o capital. Ao contrário, o capital é beneficiado. Tanto que a indústria e o comércio foram beneficiados pelo volume de negócios. O governo petista não adotou uma política de redistribuição de renda, não tirou de uns para dar a outros. Ele realizou uma política que beneficiou os mais pobres, sem lançar mão de algum elemento de redistribuição de renda — o que causaria muito mais conflito. Se o PT, que não prejudicou as classes altas e médias, enfrenta conflitos, imagine se tivesse causado algum prejuízo para essas classes...
O PT evitou um conflito com o conservadorismo das elites?
Há um conservadorismo embutido nesse conflito. Uma parte da classe média, mais do que da classe rica, fica escandalizada de ver os pobres tendo melhoria nas condições de vida. E, numa certa medida, a classe média tem alguma razão. A mão de obra mais simples não melhorou, está ruim. Então, quando se contrata hoje os serviços de um marceneiro, por exemplo, a classe média acaba pagando muito mais por um trabalho pouco profissional. Aí, essas pessoas culpam a conjuntura de pleno emprego por essa realidade, já que ela permite que o trabalhador negocie um valor alto pelo seu trabalho, sem eventualmente cumprir a parte dele. Se o governo do PT tivesse politizado essa inclusão social que realizou, dando mais força nos elementos da educação, talvez as coisas tivessem outro rumo.
Mas como o PT poderia ter politizado essa inclusão?
Sempre que se falasse sobre melhoria de renda, o partido lembraria que há uma chaga ética no Brasil que é a miséria, dizendo “Sociedade rica é sociedade sem pobreza”. Esse tema é bom e deveria ser trabalhado para valer. E mostraria que há políticas públicas que reduzem a pobreza e tornam a vida melhor. Quando alguém se queixasse de que o Brasil é inferior aos EUA ou à Europa, o partido lembraria de que lá fora as coisas são melhores porque não há pobreza e, ao mesmo tempo, procuraria oferecer uma educação melhor. No Brasil há uma convicção muito forte do gozo, do prazer. É uma sociedade que reage muito pelo prazer. Quando as pessoas têm uma melhora de renda, logo pensam em como vão se divertir com esse excedente, pensam em consumir, por isso as vendas no crédito têm tanto importância no Brasil. A inserção pelo consumo cria uma mentalidade consumista que é uma mentalidade de direita, não de esquerda. O PT realizou uma série de políticas inclusivas que geraram uma mentalidade de direita.
Marina tem dito que pretende governar com os bons...
Quando Marina se refere aos bons, ela não se refere aos mais honestos, ela quer dizer os mais competentes. Ela considera que é um desperdício ter um Eduardo Suplicy, que só iria para o governo se o PT estiver no poder — e o PT jamais o chamou para exercer cargo executivo — ou ter um José Serra, que só iria para o governo no caso de vitória do PSDB. Isso não tem a ver com honestidade, ela quer os melhores em termos de competência.
Se o PT não prejudicou os mais ricos, de onde vem esse sentimento anti-PT tão forte?
Tem um ponto que é minimizado sobre a classe média que odeia a nova classe média, que está relacionado ao pagamento de impostos e à qualidade dos serviços públicos. As pessoas de classe média pagam uma série de impostos e se beneficiam muito pouco dos serviços públicos. Costumo dizer que a agenda democrática impõe exigências sobre quatro serviços públicos básicos: educação, saúde, segurança e transporte. E, tradicionalmente, esses quatro serviços são muito ruins no país. Eu defino classe média a partir do acesso a pelo menos dois desses serviços oferecidos pela iniciativa privada. Mas a tendência é: quanto maior a renda, maior é o acesso a esses quatros serviços privados. Ou seja, se você é de classe média, paga imposto e ainda paga por fora um plano de saúde; a escola particular para os filhos; compra um carro; e ainda tem despesas com o segurança da rua ou funcionários dos condomínios. E é claro que isso gera uma indignação muito grande na classe média. Some a isso a percepção de que o custo de vida na Europa e nos EUA ficou muito barato para os brasileiros, o que nunca foi. Quando fui à França pela primeira vez nos anos 70, qualquer coisa custava quatro vezes mais do que aqui. Hoje, muitos preços são iguais e, considerando a qualidade, são até mais baixos. Com R$ 100 em Paris, é possível comer bem melhor que em São Paulo. Com essa base real de insatisfação, logo vem a interpretação de fatos pela via mais fácil, e logo se conclui: “É porque o PT rouba que eu não consigo uma saúde e uma educação de qualidade”. Ou seja, entra uma interpretação permeada pelo preconceito. As pessoas que denunciam a classe média só pela ideologia esquecem que, para Marx, a ideologia tem uma base real e um interesse. Curiosamente quem ataca a classe média, não ataca a classe rica. Há todo um discurso petista que ataca a classe média e poupa os que têm excedentes.
É possível o PT fazer as pazes com a classe média melhorando os serviços?
Não basta, porque o assunto está profundamente engessado. O Estado brasileiro, nos três níveis, dificilmente terá mais dinheiro para aplicar nos serviços públicos. As grandes políticas do PT — Bolsa Família, sistema de cotas, ProUni e Mais Médicos — são emergenciais. Eu apoio todos esses programas, mas defendo a definição de programas mais estruturantes, e para fazer isso é preciso mudar tudo.
O que aconteceu com toda a insatisfação coletiva das manifestações de 2013? 
Elas surgiram de movimentos pequenos, mais de esquerda, que reivindicavam melhorias no transporte coletivo. Quando a coisa cresceu, ante o ataque violento da mídia de direita, e a reticência petista, a direita foi capaz de sequestrar o assunto. Então, as manifestações continuaram falando sobre transporte coletivo, havia muitos cartazes contra a Rede Globo que não apareciam na Globo, mas a direita conseguiu dizer que as manifestações eram contra a corrupção — e não eram. Eram, sobretudo, sobre transporte coletivo e, depois, sobre educação e saúde públicas, e contra o monopólio privado das comunicações. Mas a mídia conseguiu dar uma conotação fortemente antipetista ao movimento. O governo perdeu, não foi capaz de rebater e esse foi um ponto crucial. Nesses últimos 12 anos, o PT não fez a batalha pelos corações e mentes, perdeu a hegemonia política. Quando se elegeu em 2002, era o partido dos sonhos. Tinha convencido as pessoas de que, tirando o programa econômico dele — que muitos tinham medo que fosse maluco, e por isso Lula fez a Carta aos Brasileiros —, os valores do PT eram nacionais, e isso o partido jogou fora, não tomou o menor cuidado para preservar. Foi fazer acordos políticos, mas deixou de lutar no verbo... Em minha opinião, o PT falhou. Nunca fez um bom uso da internet, nunca trabalhou a construção de uma mídia alternativa de esquerda.
Por outro lado, a gente também percebe um declínio do PSDB...
Declínio? Cada voto que o PSDB conquista é um lucro. O partido ficou tão atrasado, que eu fico espantado como ainda tem tanta gente disposta a votar nele. O PSDB tem bons quadros. Se olharmos a equipe que o Aécio teria no governo, há quatro nomes de peso: Armínio Fraga, para a Fazenda; Antonio Anastasia, para a administração; Rubens Barbosa, Relações Exteriores; e Maria Helena de Castro, Educação. Não há quadros à altura nem na Rede, nem no PSB e nem mesmo no governo Dilma. Aliás, o problema do governo Dilma é que os ministros têm pouca autonomia. E o resultado disso é que o governo anda devagar. Feita a ressalva de que o PSDB tem uma equipe competente, e que de fato o partido está preocupado com a economia, as propostas dele para a sociedade estão totalmente defasadas. O Aécio defende o Bolsa Família, que está consolidado, mas ataca o Mais Médicos adotando o mesmo discurso das entidades representativas dos médicos. O Mais Médicos tem muitos problemas, mas é bem concebido. Como candidato, ele teria de apresentar uma alternativa melhor, mas não apresenta. O que ele propõe no lugar do Mais Médicos exigiria muito mais dinheiro. Em relação aos programas sociais, o PSDB é fraco. Quando eles falam de programa de governo, quase tudo é economia, o partido não pensa que a economia é caminho para outro fim. Sob esse ponto de vista, o PSDB não tem mais condição de disputar a hegemonia política do Brasil.
Se Dilma vencer, é fácil imaginar o dilema que o PT vai enfrentar em 2018. Já tem o movimento “Volta Lula”...
Lula pode até ganhar a eleição de 2018, mas depende muito do desgaste que vai haver nos próximos quatro anos. Se o PT for eleito agora, provavelmente vai enfrentar o mandato mais difícil de sua trajetória no governo. O PSDB vai estar de fato punido, porque perder quatro eleições seguidas é uma humilhação. Mas pode rearticular-se, com gente que apoiou Marina. O PSB, sem Eduardo Campos, não é nada. Não dá para imaginar o rumo do partido. Se Marina se projetar como finalista no segundo turno e perder, existe uma tendência natural de parte do PSDB migrar para ela, que vai decidir quem lhe interessa. Ela não tem obrigação nenhuma de receber a todos. Talvez a melhor coisa de um governo Marina é que ela seria mais rigorosa com a política do que Lula e Dilma. Independentemente de qualquer coisa, se o PT, ao invés de investir em novos líderes, decidir pela volta de seu grande líder histórico, vai passar a mensagem de que foi incapaz de se renovar. Tudo que conseguiriam em sua história é eleger Lula duas vezes e, depois, uma presidente que ele sacou do bolso do colete. O PT não dispõe hoje de um nome para a Presidência em 2018. Como possibilidades, vejo Fernando Pimentel, caso vença em Minas, e Fernando Haddad, caso sobreviva à Prefeitura de São Paulo. Além deles, não há ninguém. O PT vai ter de se arriscar, buscar novos nomes.
A eleição seria mais fácil se, hoje, Lula fosse o candidato?
Seria diferente. Primeiro, porque o Eduardo Campos nem teria sido candidato. Segundo, porque teria mais popularidade que Dilma. O que eu não sei, em termos de governabilidade, é se o Lula seria melhor depois dela. Ele tem capacidade política incrivelmente maior que Dilma — o que seria uma coisa boa — mas me pergunto se não precisamos de uma renovação de projeto político. Sinto falta disso. Quem ganhar a eleição este ano vai ter dupla jornada de trabalho. As propostas da Marina têm um problema de falta de consistência; as do PSDB estão bastante superadas em termos de finalidade; e, as do PT, envelhecidas. Mas não superadas — a pauta da inclusão social continua pertinente.
Como o sr. vê a proposta da política de participação social? 
A democracia representativa não basta. Você tem duas críticas a ela, no decreto da presidente Dilma que criou os conselhos de participação, e outra nesse conceito da Marina de nova política. As duas estão incompletas, com diversas incongruências. Mas o ponto importante é que precisamos ter mais pessoas atuando na coisa pública. Outro aspecto é a forma como a Marina pensa em usar a internet como ferramenta para isso. Era o sonho de Fernando Henrique, que o PSDB não conseguiu entender. Ela é quem mais conseguiu desenvolver isso. Mas quando se pega o começo do projeto da Marina, quando ela fala em participação maior e no conceito de rede e, depois, passa para as propostas concretas, uma não tem nada a ver com a outra.
Há um descolamento hoje das ideias de Fernando Henrique Cardoso com as do PSDB? 
É um problema sério. O PSDB não está à altura do único presidente que deu ao Brasil. Fernando Henrique é muito melhor que o partido. É normal que um líder não seja superado por seu grupo, mas a distância é muito grande. Em 2010, quando a campanha do José Serra usou a questão do aborto, Fernando Henrique discordou. Mas, se a ex-primeira-dama Ruth Cardoso ainda estivesse viva, eles veriam o que é bom pra tosse... Aécio propõe políticas de combate às drogas e de endurecimento com os países vizinhos. Ele precisa de um discurso mais moderno. A descriminalização faz parte de uma nova agenda mundial, mas ainda difusa em alguns partidos brasileiros. Existe o que eu chamo de agenda da vida discutida por pessoas que defendem a liberdade e a maior emancipação possível. Gente que luta pela igualdade de direitos entre os gêneros, visceralmente contrária a qualquer preconceito racial. É uma preocupação presente no mundo todo. Querem mais liberdade e acham a repressão às drogas, principalmente a maconha, algo estúpido do começo ao fim. Quem estaria melhor em relação a isso seria o Eduardo Jorge.
Num exercício de imaginação, o que será de Dilma, Marina e Aécio, caso percam a eleição?
Se Dilma perder, é muito improvável que ela se reapresente em 2018. O próximo mandato será difícil para qualquer um deles. Aécio já prometeu medidas impopulares e Marina terá de formar uma equipe. Se Aécio perder e o candidato do PSDB ao governo mineiro também, vai ter dificuldades sérias para se reerguer. Pode haver uma migração grande de tucanos para o PSB e a Rede, que não devem aceitar todo mundo, pois não terão qualquer interesse em aceitar peso morto. É um cenário de tensa e difícil renovação política. Caso o PT ganhe agora, quem quiser tirá-lo da presidência em 2018 deve apostar em Marina. Ela terá tempo de fazer um programa melhor e absorver quadros. Aconteceu com ela uma coisa curiosa. Marina era total minoria dentro do PSB, mas não havia outro nome. Eles não endossam posições dela, e vice-versa. E o PSB agora não existe mais. Não tem nenhum outro nome presidenciável. Por outro lado, alguns dos nomes mais abertos entre os tucanos já foram para Marina — Walter Feldman, Guilherme Leal e André Lara Resende. Eles perceberam que não havia mais nenhuma perspectiva dentro do PSDB. O PT continua sendo o melhor para prosseguir na inclusão social. Mas Dilma, mesmo ganhando, sai enfraquecida e com desafios grandes. O estilo autoritário dela, por exemplo, não trouxe bons resultados. Marina teria tempo de se reconstruir, e o PSDB, de buscar um novo destino. O Alckmin não pode entrar na Rede pela porta dos fundos. Por outro lado, ele vai apoiar Marina? Ela não gosta da política dele. Marina teve de recuar no apoio a Suplicy, para ficar ao lado do Serra, mas você vê que não era o sonho dela.
Se eleita, quais seriam os desafios de Dilma?
Acho que o modelo emergencial de inclusão social está se esgotando. Por isso, será necessário algo mais consistente. O PT perdeu a batalha da opinião pública e não dá sinais de ter um projeto para mudar isso. A forma de Dilma governar, com pouca autonomia aos ministros e poucos deles inspiradores, enfraquece. O Lula tinha Gilberto Gil, Tarso Genro, Antonio Palocci e José Dirceu. Eram ministros com fôlego, peso. Quem a Dilma tem? O Celso Amorim, que foi importante no governo passado, é alguém de quem mal ouvimos falar na Defesa. Ela conseguiu ter um ministério fraco, e, por isso, só ela aparece. E os ministros têm medo de falar com ela, dar notícias ruins e tomar decisões independentes. Dilma não foi uma escolha política, no sentido de ser uma líder no PT. A decisão foi gerencial e ideológica. Era o nome mais próximo do mundo empresarial. Na Casa Civil, ela sempre teve essa coisa de lidar com o capital, de querer aumentar a produção. É profundamente irônico que ela tenha se indisposto tanto com os empresários. Só não houve a indicação do Palocci porque ele saiu queimado do governo. Ela também não é uma pessoa que representa ideais populares. Enquanto Lula aparece como legítimo representante do povo, Dilma se empenha em ser uma pessoa disposta a servir ao povo.
E a reforma Política? 
É preciso determinar claramente o que é a reforma política. Eu tenho certa simpatia por uma proposta radical, que acaba totalmente com o financiamento de campanha, com a campanha toda feita pela internet, e ponto final. Para a próxima eleição presidencial, o acesso à rede será praticamente universal. Com o coração apertado, prefiro o voto proporcional. Porque o distrital é muito fácil de ser manipulado nas circunscrições. E aí você pode controlar tudo, mesmo tendo minoria. Sobre a lista fechada, tenho sérias dúvidas. Favorece demais a burocracia partidária, o que não é bom. A proposta da Marina é a pior de todas: trata todas as candidaturas como avulsas. Desagrega por completo os partidos. A maioria das propostas piora, como a coincidência de todas as eleições. Se no formato atual já existe uma dificuldade para os eleitores decidirem para cargos menos vistosos, imagine se juntarmos mais disputas simultâneas. É uma loucura. Acho o fim da reeleição uma medida equivocada. Quatro anos com possibilidade de uma reeleição dá um tempo bom para se tocar um projeto.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MAIS RECENTE AMEAÇA DE CRIME DE LESA PÁTRIA , NA AMAZÔNIA/RORAIMA ( DEMARCAÇÃO DA SERRA DA LUA ) “ 




Foro do Brasil denuncia que Príncipe Charles está por trás da demarcação da Serra da Lua, em Roraima


Edição do Alerta Total - www.alertatotal.net
Leia também o Fique Alerta – www.fiquealerta.net (
atualizado nesta quinta)
Por Jorge Serrão


Exclusivo - Roraima corre o risco de perder a soberania sobre mais uma parte de seu território. O mais recente crime de lesa-pátria, em andamento, é a proposta de demarcação da Serra da Lua, no município de Bonfim, para a criação de uma reserva florestal contínua. O projeto conta com o apoio de ONGs financiadas pelo conhecídíssimo Príncipe Charles Philip Arthur George Mountbatten-Windsor. Por mera coincidência, Sua Alteza Real o Príncipe de Gales é dono de terras do outro lado da fronteira, onde mantém uma “reserva florestal”.

Os perigos da demarcação da Serra da Lua serão denunciados por moradores de Bonfim no seminário "O Brasil que desejamos". O encontro acontece no próximo dia 28 de agosto, das 9h às 16h 30min, no Sport Club Corinthians Paulista - Rua São Jorge, 777 – Tatuapé, São Paulo. Haverá palestras debates do General de Exército Augusto Heleno, da Senadora Kátia Abreu, do analista político Heitor de Paola e do Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, Dom Joaquim Justino Carreira. Quem quiser participar deve acessar o site
http://www.forodobrasil.info/. O contactar a Secretaria da ADESG/SP: (11) 3159-2933 - das 13h às 22h.

Vem do Príncipe Charles e de ONGs ligadas a ele a ideia de criar quatro áreas de reserva de conservação contínuas (no Leste do Estado de Roraima, entre a Serra da Lua e o médio rio Tacutu). Ibama,Incra e Instituto Chico Mendes fazem o jogo dos entreguistas apoiando e executando as supostas propostas de “proteção ambiental”. Das ilhas contínuas para o separatismo político é um pequeno passo. Do outro lado da fronteira, na República Cooperativista da Guiana, Charles já mantém uma reserva florestal – só aguardando uma “futura união ambiental” com a “brasileira”.

Desta vez, a meta entreguista é se apossar de uma quantidade de terras equivalente a 155 mil hectares destinados a preservação ambiental de áreas de savanas mais conhecida como Parque do Lavrado, no município de Bonfim. Na região vivem 280 famílias de produtores em pequenas e médias propriedades, que correm o risco de expulsão, igual ao que ocorreu na região da Raposa do Sol. Também em Bonfim, existe a área militar da Serra do Tucano, sob responsabilidade do Exército. Em Roraima já existem três parques nacionais, três estações ecológicas e duas florestas nacionais.

Desde o crime de lesa-pátria que formalizou Terra Indígena Raposa do Sol, reserva contínua mantida com a conivência do Supremo Tribunal Federal (exceto o voto do ministro Marco Aurélio de Mello), o Brasil corre o risco real de perder a soberania sobre grande parte dos 224.298,980 Km2 de Roraima. O estado mais setentrional do país, cortado pela linha do Equador e encravado entre Venezuela e Guiana, é alvo da cobiça internacional (sobretudo inglesa) por causa dos recursos minerais e de sua biodiversidade.

Enquanto a soberania brasileira vai gradualmente para o saco, atendendo a supostos interesses ambientalistas, o Comando Militar da Amazônia, o Comando do Exército, e o Gabinete de Segurança Institucional protelam a decisão se é conveniente ou não abrir um Inquérito Policial Militar para investigar a ação de movimentos separatistas na Reserva Raposa do Sol e operação ilegal de uma milícia indígena autointitulada “Polícia Indígena do Alto Solimões (Piasol), em Umariaçú, no Amazonas.


Camada de ozônio se recupera, mas permanece ameaçada, diz novo relatório da ONU
11 de Setembro de 2014 · Notícias  - ONU



O Protocolo de Montreal ajudou a acabar com 97% da produção de substâncias destruidoras da camada de ozônio desde que foi implementado em 1987. Foto: PNUMA
De acordo o relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado nesta quarta-feira (10), a camada de ozônio segue na direção certa para se recuperar significativamente até 2050.
O documento, intitulado “Avaliação Científica da Diminuição da Camada de Ozônio 2014“, é resultado de uma investigação de dois anos realizada por 300 cientistas de 36 países, incluindo o Brasil. Ele mostra que a recuperação foi atribuída graças à ação coletiva do Protocolo de Montreal, que desde 1987 tem estimulado os países a desenvolver políticas e ações para reduzir e eliminar progressivamente o uso de produtos químicos que destroem o ozônio.
“A ação internacional sobre a camada de ozônio é uma grande história de sucesso ambiental”, disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, em um comunicado à imprensa. Na ocasião, ele pediu uma ação maior e mais unificada para combater as alterações climáticas e reduzir as flutuações contínuas para composição do ozônio na atmosfera.
O relatório também observa que a situação da camada de ozônio em 2050 dependerá do nível de concentração de emissão, nos próximos anos, do CO2, metano e óxido nitroso – os três principais gases causadores do efeito estufa.

Força Aérea realiza missão noturna inédita

Publicado em Quarta, 10 Setembro 2014 18:25 | Última atualização em Quarta, 10 Setembro 2014 18:25
Brasília, 10/09/2014 - Pela primeira vez, a Força Aérea Brasileira realizou um exercício de Busca e Salvamento em Combate (CSAR) com o uso de óculos de visão noturna (NVG). O treinamento aconteceu na noite desta segunda-feira (8/9) no interior do Mato Grosso do Sul e envolveu dois aviões A-29 Super Tucano, um helicóptero H-36 Caracal e uma Aeronave Remotamente Pilotada RQ-900 Hermes.

"É um longo caminho. As aeronaves precisam estar preparadas e os tripulantes precisam estar treinados", explica o Coronel Mauro Pires Cabral da Silveira, Chefe do Estado-Maior da Segunda Força Aérea (II FAE). A missão noturna fez parte do Exercício Operacional CSAR 2014, que simula o resgate de militares em território hostil.
Durante o treinamento, o H-36 pousou e resgatou um militar que simulava estar fugindo de um inimigo. Enquanto isso, os caças A-29 Super Tucano atacavam alvos simulados. As aeronaves voaram com todas as luzes apagadas. O papel do Hermes 900 é, do alto, monitorar toda as ações com o uso da sua câmera termal. 
Todos os participantes da missão, entre tripulantes das aeronaves e tropas de solo, utilizaram NVG durante a missão. "Exige mais treinamento, mas realizar essa missão à noite é muito mais difícil para o inimigo", conta o Coronel Silveira. Nos dias anteriores, as mesmas tripulações realizaram missões semelhantes no período diurno.
O Exercício Operacional CSAR 2014 acontece até hoje (10/9). Mais de 200 militares estão diretamente envolvidos e também participam os helicópteros AH-2 Sabre, H-34 Super Puma, H-60 Black Hawk e H-1H.

Informações e fotos: Agência Força Aérea
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

A ficha ainda não caiu em Brasília
A quatro meses de deixar o cargo, o ministro Guido Mantega continua um inveterado otimista
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Há duas semanas, em entrevista ao Brasil Econômico, a economista Mônica de Bolle afirmou que o país, apesar dos problemas, ainda não vivia situação de crise econômica clássica. Mas advertiu que o quadro está piorando e pode se agravar se as agências de rating decidirem tirar o grau de investimento da economia brasileira. Ela falou de passagem sobre esse risco, mas deve dispor de informações seguras a respeito, pois está em Washington em contato com gente graduada do FMI e do Banco Mundial. A professora da PUC-Rio, que tem doutorado em crises monetárias, certamente não ficou surpresa com o anúncio de mudança na avaliação da Moody's. A agência americana alterou a perspectiva do rating soberano do Brasil de “estável” para “negativa”. E apontou a possibilidade de rebaixar a nota se a tendência de baixo crescimento se intensificar.
No mercado financeiro, comenta-se que a Standard & Poor's, que pertence ao poderoso grupo editorial Mac-Graw Hill, também está decepcionada com os rumos de nossa economia. O motivo é o mesmo: a falta de sinais de recuperação e a deterioração das contas públicas, o que, em última análise, pode prejudicar o perfil de crédito do Brasil. Não há porque confiar integralmente nas agências de rating. Afinal, elas erram mais do que acertam. Mas, no caso atual, é crescente o pessimismo entre economistas de todos os matizes. A ficha só não caiu em Brasília. O Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que a Moody's levou em conta “fatores conjunturais que afetaram o crescimento do país no primeiro semestre deste ano”. E garantiu que a reavaliação “não condiz com a evolução do segundo semestre quando esses problemas estão sendo superados”.
Na visão da Fazenda, o pior já passou e economia deu início a uma trajetória gradual de recuperação. “Indicadores econômicos recentes apontando queda na inflação, aumento da produção industrial, além de um maior número de dias úteis e a perspectiva de recuperação da economia mundial reforçam esta avaliação”, diz a nota oficial. Mas não se sabe exatamente qual é a base do prognóstico positivo. Na segunda-feira, a pesquisa Focus jogou mais para baixo a previsão de crescimento do PIB. O departamento técnico da Confederação Nacional da Indústria também projeta uma queda de 1,7% no PIB do setor. Eis a previsão do gerente-executivo da CNI, Flávio Castelo Branco: “O balanço dos meses até agora, do primeiro semestre, e do mês de julho, apesar de alguns dados positivos, é negativo. Mantido o nível atual, o setor industrial mostrará retração em 2014. A não ser que haja uma recuperação mais expressiva, a tendência é de o setor industrial mostrar queda de produção e de atividade”.
Ontem, levantamento do IBGE mostrou redução de 0,7% no emprego industrial, entre junho e julho. Foi a quarta queda consecutiva. O número de pessoal ocupado na indústria em julho foi 3,6% menor do que no mesmo mês do ano passado. Trata-se da queda mais intensa desde novembro de 2009. Houve retração de postos de trabalho em 15 das 18 atividades pesquisadas. Mas o ministro Guido Mantega não dá o braço a torcer. Para ele, a rotatividade no emprego industrial é normal. “No saldo geral, o emprego continua aumentando e o nosso desemprego continua sendo um dos menores do mundo”. A quatro meses de deixar o cargo, Mantega continua um inveterado otimista. Ele vê o que ninguém vê.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Brasil e Colômbia debatem segurança e inteligência nas fronteiras
Publicado em Terça, 09 Setembro 2014 17:33 | Última atualização em Quarta, 10 Setembro 2014 11:14
Brasília, 09/09/2014 – Integrantes da Comissão Binacional Fronteiriça (Combifron) estiveram reunidos em Bogotá, na Colômbia, para o terceiro encontro do grupo. No evento, o subchefe de Inteligência de Defesa, almirante José Luiz Corrêa da Silva, destacou a importância do organismo bilateral para auxiliar no enfrentamento ao crime transfronteiriço.
Entre os últimos dias 1 e 5 de setembro, os participantes do encontro debateram ideias e procedimentos com o objetivo de renovar a parceria entre Brasil e Colômbia em entendimentos de segurança e inteligência. A próxima reunião será realizada em Brasília (DF), ainda este ano, em data a ser definida.
Combifron
Realizados anualmente, os diálogos do Combifron acontecem de acordo com o Plano Binacional de Segurança Fronteiriça. Também são determinados em carta de compromisso firmada entre os ministérios da Defesa, da Justiça e das Relações Exteriores, além do Ministério da Defesa Nacional da Colômbia.
A finalidade da comissão é fortalecer a cooperação entre os dois países, com foco no desenvolvimento de tarefas a serem conduzidas pelos representantes militares, civis e diplomáticos.
A fronteira entre Brasil e Colômbia tem 1.650 km de extensão – toda ela na região amazônica.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

"Por que o Brics não impõe sanções à compra de armamentos israelenses? Se o Brics não agir, acabará se tornando irrelevante no futuro", diz Prashad

O EI nasceu da guerra ilegal dos EUA no Iraque em 2003', diz historiador
Vijay Prashad, da Universidade de Beirute, diz que o Estado Islâmico nasceu da al-Qaeda do Iraque e cobra de grupos como o Brics contribuição para a resolução de conflitos que atingem o Oriente Médio
Florência Costa florencia.costa@brasileconomico.com.br
Um plano para eliminar o Estado Islâmico (EI) será revelado hoje à noite pelo presidente americano Barack Obama, véspera do aniversário dos 13 anos do maior ataque terrorista da história dos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. Um dos mais argutos especialistas em Oriente Médio, que acompanha com lupa o fortalecimento do EI, o historiador Vijay Prashad é chefe da cadeira Edward Said da Universidade Americana de Beirute, no Líbano, batizada assim em homenagem, a um dos mais importantes intelectuais do mundo, autor do clássico “Orientalismo”, uma das maiores referências na academia para estudos pós-coloniais. Autor de 15 livros _ o último deles lançado em 2013, “The Poorer Nations: A Possible History of the Global South” (“As nações pobres: uma história possível do Sul Global”) _ Prashad alertou em dezembro do ano passado para o perigo do EI. Ele cobra de grupos como o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que saia da inércia e contribua com a resolução de conflitos como os que atingem o Oriente Médio hoje.
Para um estudioso do Oriente Médio como o sr. foi uma surpresa “repentina” a ascensão de um grupo como o Estado Islâmico?
Em 2012 e em 2013 eu acompanhei o Estado Islâmico (EI) do Iraque e sua cria, o Jabhat al-Nusra (Grupo de Apoio) bem de perto, enquanto eles expandiam de seu reduto de ação a partir do Norte do Iraque para a Síria. O EI nasceu da al-Qaeda do Iraque, o grupo criado na sequência da destruição americana do estado do Iraque em 2003. O fundador original da al-Qaeda do Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, tinha duas características. Ele era brutalmente sectário (anti-xiita em primeiro lugar) e muito violento (decapitações e carros bombas eram a sua especialidade). Até Osama bin Laden teve que precavê-lo por ser muito violento e sectário. Mas al-Zarqawi estabeleceu o tom do grupo. A al-Qaeda do Iraque teve um grande papel no caos de 2006-07. A Guerra civil na Síria permitiu ao EI mostrar sua presença lá e tirar vantagem do vácuo existente no Norte daquele país para conquistar a cidade de Raqqa, ameaçar Aleppo e dominar Azaz. O líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, rebatizou seu grupo para incluir a Grande Síria. Ele subordinou todos os guerreiros jihadistas ao EI. Muitos grupos se uniram ao Estado Islâmico , que emergiu como o grupo mais mortal do Norte da Síria. O EI dominou Raqqa, uma grande cidade da Síria, por mais de um ano. Em dezembro de 2013 o grupo conquistou Fallujah e Ramadi, no Iraque. Naquela época, eu já advertia para o desafio que seria o Estado Islâmico. Eles seguiram adiante atacando o Norte do Iraque e atingiram Mosul ( a segunda maior cidade do país) no dia 10 de junho. Em fevereiro, dois diplomatas europeus me disseram em Beirute que meus escritos sobre o EI tinham um tom de exagero. Eu acho que eles queriam acreditar nisso para poderem continuar sua narrativa da Guerra Síria, mostrando que o governo de Bashar al-Assad era autoritário e que os rebeldes significavam a democracia. Mas a verdade era bem diferente dessa narrativa e as coisas ficariam bem piores.
É certo afirmar que os americanos decidiram bombardear o EI apenas depois que o grupo se apresentou como uma ameaça a seus interesses, como o petróleo no Curdistão?

O governo iraquiano vinha pedindo ajuda dos EUA para combater o Estado Islâmico desde dezembro de 2013, quando o grupo sunita tomou as cidades de Ramadi e Fallujah. Mas os EUA estavam azedos com o então primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki. As eleições estavam no horizonte. Eu suspeitei que os americanos não ajudaram os iraquianos na época porque eles não queriam que al-Maliki tivesse um grande sucesso antes das eleições de abril.O exército do Iraque já havia sido destruído em 2003. O país não tem Forças Aéreas. De dezembro de 2013 a junho de 2014, com EI se fortalecendo e ganhando confiança no Iraque, os EUA não fizeram nada.Somente quando eles ameaçaram o território autônomo do Curdistão, os mais próximos aliados americanos na região, é que os EUA decidiram agir. Isso foi por causa dos interesses. Foi o petróleo? Pode ser. Mas também pode ser apenas a necessidade geo-estratégica de proteger Arbil, capital do Curdistão (onde há muitos escritórios de empresas internacionais), de evitar que a cidade fosse tomada.
Há quem argumente que o Estado Islâmico é uma bandeira falsa que está sendo usada pelo Ocidente para dividir o Iraque em três partes e para continuar sua intervenção na região. O sr. concorda com isso?

Não. O EI tem sua própria dinâmica. O grupo cresceu a partir da Guerra do Iraque em 2003 e da dispersão da al-Qaeda depois de 2001. Um analista da CIA certa vez me disse que se você bate no mercúrio com um martelo, espalha para tudo quanto é lado. Isso é o que o ataque de 2001 dos EUA ao Afeganistão fez. Espalhou o mercúrio para o Iraque, principalmente depois de os EUA terem destruído o Estado e o Exército do país. Os americanos entregaram o norte do Iraque para a al-Qaeda, assim como a guerra civil na Síria entregou o norte do país para o EI. Essas são dinâmicas complexas e muito difíceis de controlar.
O que o sr. acha da observação feita por Hillary Clinton de que o EI não teria se tornado uma força se os EUA tivessem ajudado os rebeldes sírios a tempo?
Há uma sabedoria convencional segundo a qual se os EUA tivessem armado o Exercito de Libertação da Síria e atacado Damasco com a aviação, o EI e suas crias não teriam tido tempo de crescer.Esse é um fato difícil de desconsiderar. Pode ter acontecido dessa forma, com certeza.De outro lado, se os EUA tivessem bombardeado a Síria, teria destruído aquele estado também, como fez no Iraque. Então, os ataques e a ajuda dos EUA teriam ajudado a fortalecer o Exército de Libertação da Síria, mas não necessariamente isso teria provocado o enfraquecimento dos jihadistas. O que Hillary Clinton tenta sugerir é que o EI é uma consequência da Guerra Síria. Mas isso não é verdade. O EI é um problema iraquiano, com raízes na Guerra illegal do Iraque que ela apoiou. A força do EI está no Iraque, onde conquistou territórios substanciais desde 2013.
Apenas alguns anos atrás, com a Primavera Árabe no ar, a região estava à beira da mudança. Hoje parece estar afundando em uma crise profunda. O que deu errado?
A Primavera Árabe foi um grande acontecimento na vida da Grande Arábia. Mas sempre teve impulsos contrarevolucionários. A Arábia Saudita sempre pressionou com o seu poder. Foi a pressão da Arábia Saudita com a dos EUA que parou a dinâmica no Egito. Foi a Arábia Saudita, de novo, que estabeleceu os movimento dos piores elementos na Síria.Foi a tensão saudita contra o Irã que evitou a formação de um governo estável no Iraque. O que deu de errado foi que a balança de poder, com a ação do bloco dos contrarevolucionários (Arábia Saudita, EUA e Israel) impedindo a região de se mover e de manter os pilares da estabilidade.
O bombardeio da Faixa de Gaza por Israel evocou condenação no mundo todo ,mas os países árabes parecem ter abandonado os palestinos. Por q ue houve essa indiferença?

Os estados árabes e a liderança palestina encontram-se em uma posição enfraquecida. De quem falamos quando nos referimos a países árabes? A Síria está reduzida a um pequeno Estado que só consegue fazer pronunciamentos. O Iraque sofre do mesmo problema. O governo é fraco e não tem respeito moral. A Líbia mal funciona como Estado, com uma guerra civil que ameaça esfacela-la. O Egito está sob a influência da Arábia Saudita, promovendo sua própria guera contra a Irmandade Muçulmana. O Hamas é o grupo palestino da Irmandade Muçulmana. O enfraquecimento do grupo deixa os sauditas felizes. Essa é a tragédia do mundo árabe hoje. Está totalmente dominado pelas ambições e política sauditas. Ninguém fala pelos países árabes hoje. Antes, a Liga Árabe era dividida entre o bloco saudita e os outros (Síria, Egito, Líbia e Iraque). Mas hoje, o segundo bloco foi destruído. O vencedor é a Arábia Saudita. O rei saudita apenas condenou os bombardeios de palestinos, referindo-se a crimes de guerra. Mas fez isso apenas para não ser amaldiçoado pela população árabe. Ele não deu nenhum passo concreto para punir Israel, nenhuma promessa de boicote, nada.
No meio do caos, guerras, derramamento de sangue e estados falidos, há algum motivo para ter esperança de uma paz duradoura na região?

Há vislumbres de esperança. Na Tunísia, depois de dois anos do diálogo político, o povo faz a sua própria Constituição. Não é perfeita, mas é um documento de compromisso importante. É a primeira constituição escrita por um Estado Árabe através do voto universal. A ascensão das milícias curdas e sua habilidade de atingir o Estado Islâmico é um sinal muito positivo. Espero que isso inspire outros grupos no Iraque a lutar contra o EI. Síria, Egito, Iraque e Líbia estão quebrados. Na Síria e na Líbia, o Ocidente destruiu suas instituições estatais. Na Síria, o Ocidente teve papel parcial em promover a guerra civil. No Egito, o Ocidente colaborou com os sauditas para permitir o retorno ao poder dos militares através do general Abdul Al- Sassi. Tudo isso nos diz que o Ocidente permanece uma autoridade apesar de grupos como o Brics terem se fortalecido. É impressionante como o Brics não teve interesse na região. Por que o Brics não pressionou por uma solução regional na Síria ou agora por uma solução regional com relação ao Estado Islâmico? O Brics, se quiser quebrar a unipolaridade dos EUA, precisa ter uma agenda mais agressiva. Por exemplo, sobre o EI, eles precisam dizer à Turquia para fechar suas fronteiras para os jihadistas que continuam a cruzar por ali para chegar aos EUA. Eles precisam dizer à Arábia Saudita e aos seus aliados do Golfo para parar de financiar o EI e seus grupos associados. O Brics tem poder econômico e poderia fazer isso. Se a União Europeia pode dizer que produtos israelenses feitos em assentamento ilegais estão proibidos de entrar nos países do bloco, por que o Brics não pode se unir a essa sanção? Por que o Brics não impõe sanções à compra de armamentos israelenses? Se o Brics não agir, acabará se tornando irrelevante no futuro.