quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Paraguai militariza área perto do Brasil

Mil homens foram enviados nos últimos dias a duas províncias, uma delas perto da fronteira, para combater guerrilha Estado de exceção para combate ao Exército do Povo Paraguaio vigora há 17 dias em Concepción e San Pedro

LUIS KAWAGUTI

O governo do Paraguai enviou uma força de mil homens (entre militares e policiais) para combater guerrilheiros do EPP (Exército do Povo Paraguaio) em San Pedro e Concepción - departamentos no norte do país há 17 dias em estado de exceção.

"Ao todo nosso efetivo para operações [de combate] chega a mil homens e estamos providenciando mais. É uma prioridade [para o governo de Fernando Lugo] terminar com esse flagelo", disse à Folha o ministro do Interior, Carlos Filizzola.

O EPP voltou a mobilizar as autoridades paraguaias no final de setembro, quando seis guerrilheiros explodiram uma delegacia e mataram dois policiais em Concepción, fronteira com o Brasil.

Na mesma região, um suposto atirador de elite do EPP baleou um oficial no último dia 5. Anteontem, dois policiais foram feridos a tiros em um episódio no qual o governo investiga as possibilidades de ataque guerrilheiro ou "fogo amigo" entre tropas.

De acordo com a senadora opositora Ana Mendoza de Acha (Partido Pátria Querida), após os atentados, o clima é de terror na região.

"Segundo autoridades da região, há localidades que se transformaram em povoados fantasmas. Ninguém vai para lá para fazer nenhum tipo de transação comercial."

Segundo estimativas do governo, o EPP tem hoje menos de 200 integrantes.
O grupo surgiu de um partido que lutava pela reforma agrária e iniciou a luta armada há cerca de dez anos.
DISPUTA POLÍTICA

O estado de exceção, que vigorará por mais 40 dias, foi aprovado pelo Congresso, contra a vontade do governo.

Ele flexibiliza regras para prisões e permite o uso de militares em operações de segurança dentro do país.

Segundo Filizzola, a medida não era necessária, pois a polícia teria condições de combater os guerrilheiros. Ele atribuiu a aprovação a "fatores políticos e eleitoreiros de alguns legisladores".

A senadora Acha disse que o Congresso agiu porque o presidente Lugo não estaria tomando as medidas necessárias contra o EPP.

Segundo ela, os líderes guerrilheiros eram muito próximos a Lugo, quando ele era bispo em San Pedro. Na época, disse ela, Lugo teria ainda ajudado a organizar invasões de movimentos de reforma agrária.

"Hoje eles [EPP] não têm mais associação com Lugo, mas [permanece] um vínculo forte. Por isso Lugo não quer que caia sobre eles o peso da lei", disse.

Filizzola negou qualquer ligação de Lugo com o EPP. "Isso é totalmente falso".