A
ameaça do ‘Maio vermelho’
Se, no passado, a ascendência do PT e da CUT
sobre os sindicatos e movimentos sociais era garantia de soluções negociadas, o
quadro agora é bem diferente
ocosta@brasileconomico.com.br
Há quase duas décadas, o Movimento Trabalhadores dos Sem Terra escolheu abril
como o mês ideal para realizar protestos em Brasília e ocupar área propriedades
improdutivas pelo interior do país. Não foi uma escolha aleatória. A jornada
lembra os camponeses mortos no massacre de Eldorado de Carajás em 1996.
Batizada de “Abril Vermelho”, a mobilização ocorre todo ano e tem como
principal reivindicação a reforma agrária. Vigora, porém, um acordo tácito com
PT, desde o primeiro mandado de Lula: em ano de eleições gerais, o MST mantém a
agenda, mas de uma forma moderada para não prejudicar o partido que sempre
esteve a seu lado. A fórmula funcionou no mês passado e o intermediário no
Planalto, como de hábito, foi secretário-geral da Presidência da República, Gilberto
Carvalho.
O governo, porém, não está conseguindo evitar outras ações e greves, que começam a pipocar no eixo Rio-São Paulo. Se, no passado, a ascendência do PT e da CUT sobre os sindicatos e movimentos sociais era garantia de soluções negociadas, o quadro agora é bem diferente. Há outros atores em cena e o atrelamento automático ficou para trás. Isso já havia sido demonstrado, de forma nua e crua, nas passeatas de junho de 2013. Foram manifestações espontâneas, sem comando centralizado, e totalmente à margem de partidos e organizações sindicais. O que provocou surpresa geral. Parlamentares e partidos que tentaram instrumentalizar os protestos foram escorraçados e tiveram as bandeiras arrancadas pela multidão. O PT sentiu o golpe e a classe política também.
O governo, porém, não está conseguindo evitar outras ações e greves, que começam a pipocar no eixo Rio-São Paulo. Se, no passado, a ascendência do PT e da CUT sobre os sindicatos e movimentos sociais era garantia de soluções negociadas, o quadro agora é bem diferente. Há outros atores em cena e o atrelamento automático ficou para trás. Isso já havia sido demonstrado, de forma nua e crua, nas passeatas de junho de 2013. Foram manifestações espontâneas, sem comando centralizado, e totalmente à margem de partidos e organizações sindicais. O que provocou surpresa geral. Parlamentares e partidos que tentaram instrumentalizar os protestos foram escorraçados e tiveram as bandeiras arrancadas pela multidão. O PT sentiu o golpe e a classe política também.
Na ocasião, Gilberto Carvalho entrou em campo, reuniu-se com
dirigentes do Movimento Passe Livre, mas o refluxo das manifestações aconteceu
naturalmente, por motivos alheios aos ditames do poder. Neste mês de maio, a
autonomia dos movimentos sociais em relação ao PT e ao governo voltou a mostrar
a cara. Por enquanto, trata-se de ações isoladas e pontuais, mas começam a
preocupar. Ontem, em São Paulo, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto (MTST) ocuparam sedes de empreiteiras. Eles consideram excessivos os
gastos públicos com a Copa do Mundo e veem nas construtoras o símbolo do
desperdício. Atacaram a Odebrecht, a AOS, e a Andrade Gutierrez. Segundo a
coordenação nacional do MTST, os ataques fazem parte da campanha “Copa sem
povo, tô na rua de novo”. Sob pressão, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se
com representantes do MTST que ocupam um terreno próximo ao Itaquerão, estádio
do jogo de abertura da Copa. E prometeu atendê-los com a inclusão no projeto
“Minha Casa, Minha Vida”.
No Rio de Janeiro, o início do mês é marcado por greves e
ameaças de greve. Mais de 300 ônibus foram danificados ontem na paralisação
comandada pela ala que se opõe ao acordo fechado pelo sindicato dos motoristas
e cobradores do município. Apenas 30% da frota circulou e muita gente não
conseguiu chegar ao trabalho. Na véspera, enquanto Felipão convocava a seleção,
50 servidores da Polícia Federal anunciaram estado de greve. “Vamos entrar em
greve. O Rio vai virar um caos”, ameaçaram. Também professores estaduais, em
assembleia, decidiram entrar em greve por tempo determinado na próxima
segunda-feira. Ficarão sem aulas 1,6 milhão de alunos. Ou é muita coincidência
ou está em marcha uma espécie de “Maio Vermelho”. O ministro Gilberto Carvalho
terá muito trabalho pela frente.