Rússia,
Belarus e Cazaquistão criam União Econômica Eurasiática
União econômica pretende restaurar influência
de Moscou nas ex-repúblicas soviéticas, sem a Ucrânia. Armênia e Quirguistão
anunciaram a intenção de aderir ao bloco até o fim do ano
AFPredação@brasileconomico.com.br
Os presidentes da
Rússia, Vladimir Putin, Belarus, Alexander Lukashenko e Cazaquistão, Nursultan
Nazarbayev assinam acordo de união econômica
Foto:
MICHAEL KLIMENTYEV /AFP
A Rússia assinou nesta quinta-feira com Belarus e Cazaquistão um
acordo para criar uma União Econômica Eurasiática, que pretende restaurar a
influência de Moscou nas ex-repúblicas soviéticas, mas sem contar com a
Ucrânia.
O documento foi assinado pelo presidente russo, Vladimir Putin,
e por seus colegas Alexander Lukashenko (Belarus) e Nursultan Nazarbayev
(Cazaquistão) em Astana, a capital cazaque.
"Esta união é econômica e não afeta a soberania dos Estados
participantes", afirmou Nazarbayev após a assinatura.
A união, que será implementada em 1º de janeiro 2015, favorecerá
uma integração ainda mais estreita dos países, já vinculados desde 2010 por uma
união alfandegária.
"Os três Estados se comprometem a garantir a livre
circulação de produtos, serviços, capitais e trabalhadores, a implementar uma
política coordenada em temas chave da economia: energia, indústria,
agricultura, transportes", afirma um comunicado do Kremlin.
"Hoje vamos criar juntos um poderoso e atrativo centro de
desenvolvimento econômico, um importante mercado regional que unirá 170 milhões
de pessoas", afirmou Putin, antes de recordar que os três países têm
"enormes recursos naturais" e possuem 20% dos recursos mundiais de
gás, assim como 15% do petróleo.
Armênia e Quirguistão, outras duas ex-repúblicas soviéticas,
anunciaram a intenção de aderir ao bloco até o fim do ano.
O projeto tem uma importância capital para o presidente russo,
que em 2005 considerou a dissolução da URSS a "maior catástrofe
geopolítica" do século XX.
Putin foi obrigado a aceitar a ausência da Ucrânia, um país de
46 milhões de habitantes e com um grande potencial industrial, mas atualmente
em plena crise política e com a ameaça de uma guerra civil entre separatistas
pró-Rússia e ativistas pró-Ocidente.
O novo presidente ucraniano, o bilionário pró-Ocidente Petro
Poroshenko, eleito no domingo, já anunciou que o objetivo do país seria entrar
no futuro na União Europeia, o que contraria os desejos de Moscou de atrair
Kiev para sua zona de influência econômica e política.
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou que a
Ucrânia deverá aderir "cedo ou tarde" à União Econômica
Eurasiática. "Perdemos participantes no caminho, penso na
Ucrânia", disse.
"Tenho certeza de que, cedo ou tarde, os dirigentes
ucranianos compreenderão onde está o seu destino", completou, antes de
destacar que o direito entrar para a união "cabe ao povo ucraniano".
Para Alexei Makarkin, do Centro de Tecnologias Políticas de
Moscou, a União está "incompleta" com a ausência da Ucrânia, assim
como com as reticências de Cazaquistão e Belarus de incluir um componente
político no bloco.
"Cazaquistão e Belarus contemplam com enorme prudência uma
integração política, não querem uma moeda, uma cidadania e um presidente
únicos, o que desejam é acesso ao mercado russo para seus produtos", disse
à AFP.
Para a Rússia a nova união é "um projeto geopolítico",
apesar de Putin ter declarado na semana passada que não desejava ressuscitar a
URSS.
"A Rússia nunca deixou de considerar-se a herdeira do
império e da URSS", destaca Makarkin.