Um péssimo exemplo
De repente, os
responsáveis por greves e ameaças de paralisação de algumas categorias
profissionais passaram a se comportar como os jovens anarquistas das
manifestações de junho do ano passado
Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
Há algo de estranho ocorrendo no movimento sindical brasileiro. De
repente, os responsáveis por greves e ameaças de paralisação de algumas
categorias profissionais passaram a se comportar como os jovens anarquistas das
manifestações de junho do ano passado. Não bastassem os prejuízos que a
suspensão de determinados serviços provoca, os ativistas concluíram que também
é preciso chamar a atenção de toda a população, com os métodos de fazer inveja
aos black blocs. Trata-se de uma nova estratégia que vai muito além dos
tradicionais piquetes. Se as negociações com os empresários ou com o Estado não
avançam, adota-se a arma mais radical do momento, que é a de infernizar a vida
da maioria da população.
É possível entender que comunidades desassistidas, na periferia de São
Paulo ou nos morros do Rio de Janeiro, fechem vias públicas e queimem pneus
para chamar a atenção da opinião pública sobre seus problemas ou sobre a
violência da polícia. Mas nada justifica que motoristas de ônibus, durante
greves de 24 horas, depredem mais de 700 veículos e ameacem com igual violência
os que insistem em trabalhar. Mais grave ainda é o abandono de ônibus sem as
chaves na ignição em cruzamentos vitais das cidades, com o objetivo de impedir
a circulação de automóveis. Fica evidente que esse tipo de ação vai muito além
da justa reivindicação por reajustes salariais ou melhores condições de
trabalho. Longe de buscar o apoio da sociedade, a intenção é provocar a revolta
dos usuários. Acredita-se que do caos nascerá o acordo.
No caso dos ônibus, o radicalismo foi atribuído a grupos de oposição que
não concordaram com acordos coletivos fechados pela direção dos sindicatos.
Apesar de minoritários nas assembleias, eles têm o domínio de garagem
importantes e partiram para o confronto com agressividade incomum. Se as ações
dos motoristas espanta, o que dizer, então, das iniciativas do Sindicato
Estadual dos Profissionais da Educação, do Rio de Janeiro, o Sepe? Na
quinta-feira passada, os professores que protestavam em frente ao Palácio
Guanabara, não satisfeitos em fechar o trânsito local, decidiram bloquear a
entrada do Túnel Santa Barbara, que liga a Zona Sul ao Centro, em pleno horário
do rush. O resultado foi um colossal engarrafamento.
Na segunda-feira, o mesmo Sepe reuniu cerca de 300 manifestantes na
portas do hotel no Galeão onde os jogadores da seleção brasileira se
apresentaram. Em meio às palavras de ordem, o ônibus da delegação foi atacado.
“A nossa manifestação não é contra seleção, mas estamos aqui para chamar a
atenção pelas nossas péssimas condições de trabalho e a falta de diálogo do
governador Luiz Fernando Pezão e do prefeito Eduardo Paes com a categoria”,
explicou a coordenadora Suzana Gutierrez. Pelo mesmo motivo, houve protesto dos
professores em frente à concentração da Granja Comary, em Teresópolis.
Quando cruzam os braços, os profissionais de educação da rede pública
acionam um poderoso mecanismo de pressão: deixam sem aula milhares de alunos,
para desespero de pais e mães. Por que motivo o Sepe agora resolveu se
comportar como as alas mais radicais do sindicalismo e partir para a agitação
gratuita? Pelo andar da carruagem, daqui a pouco vamos ver professores
quebrando vidraças e virando automóveis. A greve é um direito legítimo, as manifestações
são garantidas pela Constituição, mas a estratégia do caos não leva a nada. É
um péssimo exemplo.