Eleições
e o efeito Copa
A derrota de 1950 foi uma tragédia nacional.
Meses depois, o brigadeiro Eduardo Gomes, da situação, perdeu a eleição
presidencial para Getúlio Vargas
ocosta@brasileconomico.com.br
Houve comemoração no Palácio do Planalto na sexta-feira diante dos resultados
da pesquisa do Datafolha. A queda em parafuso das intenções de voto na
presidente Dilma Rousseff, que se desenhava desde fevereiro, foi finalmente
interrompida. Após cair de 44% para 38%, a pré-candidata à reeleição apareceu
com 37%, com perda de apenas um ponto percentual. O senador Aécio Neves
firmou-se como principal opositor, ao subir de 16% para 20% na preferência dos
eleitores. Mas o ex-governador Eduardo Campos continuou a patinar e não passou
de 11%. O dado mais positivo para os candidatos da oposição é a possibilidade
de um segundo turno. Mesmo assim, pelas simulações atuais, a presidente
ganharia dos dois adversários: 47% a 36% contra Aécio e 49% a 32% no caso de
Campos.
Esse quadro dificilmente mudará nas próximas semanas. Depois das
denúncias envolvendo a Petrobras e dos programas na TV de Campos e Aécio e o da
própria Dilma no 1º de Maio, não há fatos novos à vista, nada capaz de alterar
de forma mais aguda o sentimento da opinião pública. Nos 30 dias que antecedem
a Copa do Mundo, certamente haverá manifestações de rua, mas são eventos
previsíveis que põem em xeque a classe política como um todo. É desgaste para
todos, sem beneficiar este ou aquele candidato. Em compensação, Dilma Rousseff
mantém uma enorme zona de conforto no Norte/Nordeste, graças ao programa Bolsa
Família e outros programas sociais. Ela vê Aécio Neves se aproximar no Sudeste,
mas se conserva à frente. Os responsáveis por sua candidatura acreditam que, a
partir da campanha eleitoral, a diferença vai aumentar e talvez seja possível a
vitória ainda no primeiro turno.
Há um fator, porém, imponderável: trata-se do impacto da Copa do
Mundo nas intenções de voto. Há quem diga que, historicamente, o efeito é nulo.
Por exemplo, o Brasil perdeu a Copa da França em 1998, mas o presidente
Fernando Henrique Cardoso foi reeleito com facilidade no primeiro turno. Em
2002, veio o pentacampeonato com a família Felipão e, no entanto, a oposição
ganhou com Lula. Nessa mesma direção, embora a seleção tenha se saído mal em
2006 e 2010, Lula se reelegeu e conseguiu fazer de sua ministra da Casa Civil a
primeira mulher presidente do Brasil. Portanto, seria incorreto falar de uma
relação direta do futebol com as urnas. O eleitor não mistura as coisas e sabe
separar as duas realidades. Mesmo decepcionado com derrotas prematuras na Copa,
não daria resposta com o voto.
Será mesmo? O que dizer, então, do Maracanazo, em 16 de julho de
1950, quando o Brasil perdeu a final por 2 a 1 para o Uruguai? Foi uma tragédia
nacional e meses depois, em 3 de outubro, o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN),
candidato da situação, foi derrotado pelo ex-ditador Getúlio Vargas (PTB). Como
dizia a marchinha carnavalesca, o retrato do velho voltou para a parede outra
vez. Que não haja dúvida: a Copa do Mundo realizada no Brasil terá um impacto
maior do que se imagina. A derrota da seleção brasileira pode aumentar o mau
humor de quem está indeciso — e não são poucos, como mostrou o Datafolha. Mas a
conquista do hexa pode gerar uma onda de otimismo.
Além de ter inaugurado todos os estádios, Dilma Rousseff estará
presente a jogos importantes durante o Mundial. Ficará exposta ao sol e à
chuva. Se o Brasil for bem, vai colar a imagem ao sucesso de Neymar e Cia. Se a
seleção fracassar, pode pagar o pato.