Momento ruim da economia
está chegando ao fim, diz o economista Álvaro Bandeira
O sócio e
economista-chefe da gestora de recursos Órama diz que, na carona de um cenário
internacional mais positivo, as perspectivas para o país serão melhores,
independentemente de políticas adotadas pelo governo
Fábio Nascimentofabio.nascimento@brasileconomico.com.br
Quatro décadas de mercado financeiro, 63 anos de vida e cases
bem-sucedidos na sua trajetória profissional, como o da Agora Corretora, dão a
Álvaro Bandeira maturidade e serenidade para dizer que o momento ruim da economia,
iniciado no último biênio, está chegando ao fim e que amanhã vai ser outro dia.
E, como no samba de Chico Buarque, o sócio e economista-chefe da gestora de
recursos Órama diz que, apesar do Governo Federal, o novo dia chega este ano e
em 2015, na carona de um cenário internacional mais positivo, repetindo o
ocorrido há pouco mais de dez anos. Para o especialista, o volume diário
negociado na Bolsa brasileira (R$ 6 bilhões) é coisa do passado e deveria ser o
dobro, para que o mercado cumpra seu papel de capitalizar empresas e viabilizar
os investimentos tão necessários ao país.
O mercado financeiro não vive um bom
momento. O senhor vê melhora no horizonte?
Eu até comparo este momento com um momento muito semelhante, para o meu
gosto, que é o período de 2001, 2002, quando as economias estavam meio mal
paradas, o mercado de capitais aqui estava muito mal parado. Não tinha liquidez
nenhuma. E veio a grande expansão de PIB Global a partir de 2002 e 2003 e que
durou até meados de 2007, quando começa o burburinho do subprime americano (a
bolha imobiliária norte-americana). Mas a gente passou quatro, cinco anos de
economia global velas ao vento.
Então, o senhor enxerga luz no fim do
túnel. Quando e como isso se dará?
Eu vejo a economia global melhorando em 2014 e 2015. Então, um cenário
global mais positivo, o que vai fazer com que nossos números não se deteriorem
na velocidade que se deterioraram a partir de 2012 e 2013. Pelo contrário, pois
até podem melhorar um pouco, porque a gente vai exportar mais. Os Estados
Unidos vão crescer 3%, a China vai crescer seus 7,5%, o Japão vai crescer. Na
Europa, alguns países já estão saindo da recessão para um crescimento um pouco
mais à frente. Então, a gente vai pegar carona nisso.
Mais uma vez, a saída será pegar uma
carona?
Nossos números melhoram não por políticas de governo e sim por uma
conjuntura, um cenário global mais benigno. O Brasil precisa se adaptar a isso
tudo para ganhar mais. Precisa dar um choque de confiança no empresariado local
para investir, dar um choque de confiança para atrair investidores
estrangeiros. O estrangeiro tem opção de investir no México, na Coreia, na
China, na Turquia ou qualquer lugar no mundo. E só vai atrair esse cara se
mostrar coisa legal, como infraestrutura. Tem que fazer políticas longevas. Se
estou investindo em infraestrutura, em energia elétrica, temos que pensar em 30
anos.
Isso significa que o momento do país
está distante do ideal?
Eu vejo a economia hoje meio desequilibrada. Os números brasileiros
estão muito fracos ou em deterioração. Nada que seja grave. A gente não tem a
inflação que vai fugir do controle. Nesse ponto, a presidente Dilma Roussef e o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão certos. Não estamos falando em
inflação de 6%, 6,5%, para, daqui a dois meses, estar falando de 10%, 12%. Não
vai haver esse movimento. Mas inflação de 6,5% é muito alta.
Bem diferente da realidade de outros
países.
Principalmente porque a gente está na contramão do resto do mundo. A
preocupação do mundo hoje não é com a inflação; é com a inflação baixa, com a
desinflação ou com a deflação. A inflação do Brasil não vai fugir ao controle.
Provavelmente, os outros indicadores também não. O saldo da balança comercial,
que foi o pior desde que é coletada a série, US$ 5,5 bilhões de déficit no
quadrimestre, vai acabar melhorando. A gente não tem números tão ruins. A meta
de superávit primário, de 1,9% do PIB, não agrada muito, mas também não é tão
ruim. Deveria estar fazendo mais, a gente já fez mais de 3%. A questão é que
tem que fazer melhor.
E qual o efeito disso?
Isso está desequilibrando a economia toda. Tem o marco regulatório do
setor elétrico, as empresas estatais fazendo política pública, Petrobras
segurando inflação, Eletrobras segurando energia, Banco do Brasil funcionando
como autoridade monetária junto com Caixa Econômica para prover crédito de
curto prazo. Está tudo meio torto com objetivo de se manter no poder.
Tudo isso tem custo e prazo.
Qualquer que seja o resultado da eleição, a gente não escapa de 2015. O
país vai ter que voltar a fazer políticas públicas mais consistentes. Vai ter
que mexer em política fiscal, vai ter que mexer em política tributária, vai ter
que mexer no reordenamento político do país.
E haverá espaço para isso numa
eventual reeleição da presidenta Dilma?
É mais difícil isso acontecer com a reeleição da presidente Dilma? Sem
dúvida, porque é aquela história de que o hábito do cachimbo deixa a boca
torta. Mas ela certamente tem que mudar muita coisa e vai mudar se for
reeleita. Qualquer governo que entre, inclusive o dela, vai ter apoio para
fazer as coisas corretamente. Tem tudo para fazer, mas, se vai fazer, é outra
coisa. E na hipótese de entrar outro governo, pode tomar decisões com mais
rapidez. Acho que 2014, 2015, 2016 podem ser anos melhores, independentemente
de políticas de governo, porque a gente vai pegar carona no cenário benigno
internacional.
O senhor fala na necessidade de
investimento, mas o país está sem fôlego para investir. Qual é o papel do
mercado financeiro nisso?
O país precisa de investidor estrangeiro para investir, porque a
poupança interna não suporta o tamanho. Então, como é que eu atraio esse cara?
Temos que mostrar infraestrutura, temos que mostrar que também estamos
investindo corretamente. O mercado financeiro pode ajudar muito. O papel do
mercado financeiro é capitalizar empresas para que elas invistam.
Mas a nossa Bolsa tem porte para
assumir esse papel?
Não há de ser com a bolsa negociando R$ 5 bilhões, R$ 6 bilhões por dia
que você vai conseguir capitalizar muita gente. Não há de ser com uma
tributação de ganhos de capital de 15%, independentemente do prazo, que você
vai atrair gente para o mercado de capitais.
E qual seria a alternativa?
Hoje, se eu compro uma ação e fico com ela por dez anos, sentado em
cima, quando eu vender, eu vou pagar 15%. Se eu ficar um dia, eu pago 15% de
imposto. Você não tem nenhuma regressividade no longo prazo como tem em renda
fixa, por exemplo. Eu penso que alguém que compra uma ação e passa dez anos com
ela não merece ser tributado, merece uma estátua em praça pública. Daí, eu
passo dez anos com a ação, a inflação média de 6%. Então, tem quase 100% de
inflação em cima desse meu preço e, se eu vendo por 100%, pago 15% sobre esse
ganho. Isso é absolutamente cruel. Não estou querendo que reduza, não. Pode
manter em 15% para quem ficar um ano, seis meses. Mas se estou querendo atrair
gente, então, por que não fazer isso (taxação regressiva)?
E qual seria o tamanho desejável para
a Bolsa hoje?
Esse volume de R$ 5 bilhões a R$ 7 bilhões já foi praticado há quatro,
cinco anos. Então, a gente já deveria estar trabalhando com patamar de R$ 12
bilhões. E fazendo IPO, que tem muito a ver com a tendência dos próprios
mercados. Se pegarmos 2001, 2002, quando começa a alavancagem, os IPOs começam
em 2004, com a abertura de capital da Natura. De 2004 a 2007, a gente teve um
boom de IPOs neste país, de as estruturas de underwriting dos grandes bancos
não suportarem o volume de operações. O que acontece agora? Muita gente fazendo
oferta de fechamento de capital, porque a gente tem uma fase de mercado muito
ruim em 2012, 2013. Como você melhora? Quando você tem fluxo, expectativa e
preço conveniente para abrir capital.
E o custo de abrir capital e mantê-lo
aberto não é entrave?
Eu não acho que seja um custo muito alto para quem pretende ficar nesse
mercado , para quem pretende usar esse mercado para se capitalizar, investir,
se desenvolver, crescer. Você tem custo alto, mas se estender no longo prazo
não é tão alto. A questão é a expectativa, colocar um dinheiro agora sem saber
quando terá o retorno.
E as disputas entre minoritários e
majoritários, empresas quebrando ou fechando capital. Isso não assusta o
investidor?
Você está vendo empresa recém-lançada querendo fechar o capital
novamente, porque perdeu liquidez. Primeiro, não entregaram os resultados
prometidos. É fundamental que entreguem. Em muitos casos, investidores que
perderam dinheiro também têm culpa. Tinha muita gente dizendo (sobre o Grupo
X): olha, vamos acompanhar, não é bem assim, leia isso, leia aquilo. Mas a
percepção do ganho fácil mobiliza as pessoas.