quinta-feira, 31 de julho de 2014

Brasil é tricampeão mundial militar de vôlei masculino

Publicado em Quarta, 30 Julho 2014 16:02 | Última atualização em Quarta, 30 Julho 2014 17:51
Rio de Janeiro, 30/07/2014 – O vôlei masculino militar do Brasil está em festa. A equipe comandada pelo sargento Anderson Rodrigues, campeão olímpico em Atenas 2004, sagrou-se tricampeã mundial em partida contra a Venezuela, realizada na noite da última terça-feira (29). No jogo, disputado no Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEX), no Rio de Janeiro, o Brasil mostrou sua superioridade vencendo o adversário por 3 x 1 (25/14, 25/19, 16/25 e 25/8). 

A conquista marcou o término do 33º Campeonato Mundial Militar de Vôlei Masculino. A equipe brasileira chegou ao título invicta depois de passar por Finlândia, Holanda, China, Catar e Irã.
Promovido pelo Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM), a competição teve duração de uma semana e contou com a participação de 11 países.
A cerimônia de encerramento, que aconteceu ontem, foi presidida pelo secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto da Defesa, general Joaquim Silva e Luna. Na ocasião, a Geração de Prata do vôlei brasileiro foi homenageada pela conquista da histórica medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984. No próximo mês de agosto, a vitória completa 30 anos.
Brasil
A equipe brasileira foi campeã nas três últimas edições do evento: em 2009, 2011 e 2014. Todas foram sediadas no Brasil. O time vencedor é formado por atletas de alto rendimento das Forças Armadas que jogam juntos há cinco anos.
A partir do próximo dia 4 de agosto (segunda-feira), terá início a 11ª edição do Campeonato Mundial Feminino de Vôlei. As partidas acontecem também no CCFEX e têm entrada franca para o público. 
Fotos: Felipe Barra
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

Defesa inicia preparação de contingente que assumirá a Minustah

Publicado em Terça, 29 Julho 2014 17:35 | Última atualização em Terça, 29 Julho 2014 17:37
Brasília, 29/07/2014 – Militares integrantes do 21º contingente do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (Brabat21) que atuarão no Haiti já estão em treinamento para assumir a missão no final do ano. A nova tropa, composta de homens de quartéis de Santa Maria (RS), vai substituir o 20º contingente em dezembro. Na cidade gaúcha, eles passam por preparação até o final de outubro.

O Brabat21 conta com efetivo de 1,2 mil militares das três forças singulares – além de integrantes de outros países que atuarão sob comando brasileiro. O quantitativo maior é do Exército Brasileiro, com 888 homens. Todo esse pessoal ficará subordinado ao coronel Francisco Humberto Montenegro Júnior.
O novo comandante, que já esteve duas vezes em atividades no exterior, explicou que a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) será um desafio diferente. “Temos perfeita noção da responsabilidade e vamos dar prosseguimento ao excelente trabalho que vem sendo realizado no país”, destacou. O coronel disse que pretende manter “o elevado conceito” das Forças Armadas brasileiras na nação caribenha.
Além do Brabat21, haverá troca nos efetivos dos fuzileiros navais e dos militares da engenharia - o rodízio é realizado a cada seis meses. A Companhia de Engenharia de Força de Paz (Braengcoy), com 177 homens da Força Terrestre, ficará sob o comando do tenente-coronel Luís Claudio Brion Cardoso. E os 244 militares do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais serão comandados pelo capitão-de-fragata Luis Manuel de Campos Mello.
Preparatória
Até sexta-feira (1º/8), os comandantes e Estados-Maiores do 21º contingente brasileiro no Haiti participam de reunião preparatória no Ministério da Defesa (MD). A programação traz palestras sobre conjuntura do país caribenho, aspectos sanitários, função do transporte logístico, apoio aéreo, videoconferência com o Brabat20 e estrutura organizacional do MD, por exemplo.
A abertura do evento foi feita pelo chefe de Operações Conjuntas da Defesa, almirante Ademir Sobrinho. Na ocasião, o oficial anunciou que há a previsão de redução em 150 homens no 22º contingente, que deve chegar ao Haiti em junho de 2015. “Só teremos a definição em outubro”, afirmou.
A Minustah encontra-se em fase de consolidação, conforme determinado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – há a expectativa de que a missão seja reduzida a um contingente mínimo em 2016.
Política Externa
O diretor do Departamento de América Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, Ary Norton de Murat Quintella, fez exposição sobre o impacto da Minustah na política externa brasileira.
Ele destacou que, atualmente, o Brasil tem papel fundamental em diferentes setores da sociedade haitiana, como o desenvolvimento da capacidade eleitoral, atendimento de saúde e fortalecimento da Polícia Nacional. Ary Quintella citou ainda o projeto de distribuição de leite que é feito no país caribenho e as tratativas para começar um programa de sementes agrícolas.
“A voz do Brasil na manutenção da paz é respeitada. O Haiti virou demonstração do poder brando brasileiro. O balanço da presença lá é positivo. A população é grata. Mostramos que é possível comandar uma missão de paz”, finalizou.
Fotos: Tereza Sobreira
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Tensão global verga juros
Na véspera da reunião de julho do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed), os juros de 10 anos do Tesouro americano caíram ontem de 2,49% para 2,47%
Luiz Sérgio Guimarães luiz.sergio@brasileconomico.com.br
Nada a ver com a possibilidade de o Fed estender por mais tempo sua política de abundante liquidez. Tudo a ver com a tensão, em espiral crescente, no leste europeu. O cerco à Rússia está impiedoso. Novas sanções são anunciadas quase todos os dias. Os especialistas estimam que cerca de US$ 75 bilhões de aplicações globais já deixaram o país. O rublo está sob pressão e o governo já cancelou nove leilões de títulos por não encontrar condições adequadas. Os dólares em debandada da Rússia encontram abrigo seguro nos EUA. O medo é tanto que até os papéis da Alemanha começam a ser procurados, embora paguem taxas ridículas. O Brasil, que vinha recebendo parte pequena dos recursos em fuga, parece já não oferecer a segurança requerida, apesar de ainda ostentar a maior rentabilidade do mundo.
O rendimento do título de 10 anos emitido pelo governo alemão caiu ontem à sua mínima histórica, a 1,122%. O juro consegue estar mais baixo do que o praticado no auge da crise do euro, entre o segundo semestre de 2012 e o primeiro trimestre de 2013. O agravamento da guerra no Leste da Ucrânia, as cada vez mais pesadas sanções a investidores e empresas russas e o aparente esgotamento da paciência de Moscou se juntam à política ultra-acomodatícia do Banco Central Europeu (BCE) para produzir juros ínfimos não só na Alemanha, como também na França e na Itália. Ontem líderes da União Europeia, em reunião em Bruxelas, aprovaram restrições à Rússia que incluem novos limites mais baixos à compra de equipamentos militares e armas, corte do acesso de instituições russas ao financiamento europeu e desincentivos à compra de equipamentos para a exploração de petróleo. São providências que afundam a Rússia na recessão.
O excesso de liquidez hoje asfixiante nos EUA e na Zona do Euro normalmente vazaria pelos países emergentes. Não é o que acontece agora porque os fundos globais estão nervosos demais para pensar exclusivamente em rentabilidade. O mercado de câmbio brasileiro operou ontem ressabiado. As forças foram desequilibradas pela contração da oferta e o dólar encerrou o dia em alta de 0,34%, cotado a R$ 2,2311. Os eventos de hoje nos EUA podem ajudar a estabelecer uma rota mais precisa. Antes da reunião do Fed, será divulgada a primeira prévia do desempenho do PIB no segundo trimestre do ano. Pode ser um dado mais esclarecedor do que os dois divulgados ontem, cada um apontando numa direção diferente. Enquanto o índice de preços de residências da S&P/Case-Shiller acusou deflação de 0,31% em maio, quando o mercado esperava um avanço de 0,30%, o índice de confiança do consumidor calculado pelo Conference Board subiu de 86,4 em junho para 90,9 em julho, maior patamar desde outubro de 2007.
Será uma grande surpresa se o Fed mudar hoje o tom do seu discurso monetário. Além de manter a taxa básica entre zero e 0,25% e reduzir para US$ 25 bilhões o volume mensal de compras de títulos e hipotecas, a autoridade deverá repisar a mensagem de que a alta do juro deverá ocorrer em algum momento de 2015, talvez depois de encerrado o primeiro semestre, se o mercado de trabalho e a inflação assim o exigirem. Como o Fed não reconhece a existência de bolhas de ativos, a manutenção do juro de 10 anos na faixa de 2,50% não lhe é inconveniente. Essa taxa permite a ele encerrar o “tapering” sem nenhum constrangimento em outubro, conforme já anunciado, ao mesmo tempo em que atua para consolidar a recuperação da economia. Se o Fed agisse para puxar a taxa para um degrau entre 2,80% e 3%, o relançamento da atividade poderia ser solapado.
Os juros subiram ontem no mercado futuro da BM&F como reflexo da indisposição geral ao risco. A taxa para janeiro de 2016 avançou de 11,04% para 11,07%. E o contrato para janeiro de 2017 fechou a 11,34%, de 11,28% no encerramento anterior. O DI não se comove mais com indicadores domésticos.
A nota de crédito do BC referente a junho elucida os motivos que levaram a autoridade a injetar R$ 45 bilhões na economia. O crédito vem perdendo dinamismo, mas as famílias reduzem a inadimplência e a renda parece não sentir a retração da atividade nem os tais dos “efeitos cumulativos e defasados” do aperto monetário de 3,75 pontos concluído em abril. Sim, na ponta do lápis, o arrocho — a elevação da Selic de 7,25% para 11% —, foi brutal, mas ainda não chegou ao bolso do consumidor. Ele se retraiu não porque sua renda encolheu, mas por insegurança em relação ao futuro. Em junho, saldo do crédito total somou R$ 2,83 bilhões, ante R$ 2.804 bilhões em maio, um avanço de 0,93%, quase a mesma alta havida em maio (0,92%). “Os dados de junho não alteram a perspectiva de crescimento do crédito durante este ano: esperamos desaceleração do ritmo de expansão atual, embora já esteja inferior aos 12%”, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Nota-se uma queda sistemática da renegociação de crédito por parte das famílias, o que indica uma melhora no perfil de endividamento e maior capacidade de pagamento das dívidas. “A desaceleração da atividade e do mercado de trabalho não têm afetado o orçamento das famílias de maneira expressiva. Mas não se pode dizer que a situação se mantenha: a piora no mercado de trabalho deve ocorrer ainda este ano”, diz Gonçalves. Segundo o BC, a inadimplência do sistema financeiro recuou para 3,0%, após 3,1% em maio e estabilidade em 3,0% entre dezembro de 2013 e abril de 2014. Em junho do ano passado a inadimplência era de 3,4%. As famílias estão mais solventes. A inadimplência delas caiu de 6,7% para 6,5% em recursos livres e de 1,9% para 1,7% em direcionados. E a inadimplência das empresas cedeu de 3,5% para 3,4% em livres e ficou estável em 0,5% no crédito direcionado.
O problema do crédito é de falta de confiança, não escassez de oferta de recursos. Se este quadro permanecer, boa parte dos R$ 45 bilhões liberados pelo BC retornará ao governo como aplicação em títulos públicos. Para a maior parte dos analistas, a desconfiança só será revertida com a implementação de uma política econômica austera, que imponha sacrifícios de curto prazo e acene com o bem-estar futuro. Se as mudanças forem críveis, a expectativa de que o futuro será melhor já instala no presente um clima de expectativas confiáveis e tranquilizadoras. Não dá para promover essa guinada até outubro. Até lá o governo estará empenhado em ganhar uma eleição.


Comendo grama, irmãs refugiadas sul-sudanesas encontram segurança na Etiópia em campo da ONU
30 de julho de 2014 · Notícias - ONU

As irmãs, de amarelo e vermelho, estão aos cuidados de uma família da mesma cidade. Foto: ACNUR/K.Gebreegziabher
Nyawech Chuol, de 12 anos, não conseguia parar de soluçar ao contar a história da noite em que a guerra civil do Sudão do Sul chegou à sua casa. Ela e a irmã de oito anos, Nyalouk, traumatizada e em silêncio, perderam sua família após um tiroteio. Agora, estão completamente sozinhas em uma terra estrangeira.
Nyawech conta que elas dormiam quando, há algumas semanas, o conflito que varreu o Sudão do Sul nos últimos sete meses atingiu sua aldeia, Matiang, no estado do Alto Nilo.
“Estava muito escuro no meio da noite e estávamos todos dormindo quando ouvimos muitos tiros​​”, diz ela por meio de um intérprete em um lotado centro de recepção no ponto de fronteira conhecido como Pagak, em território etíope.
“Eu só me lembro de colocar o meu vestido, agarrar minha irmã mais nova pela mão e correr para fora da casa, na escuridão”. Sua família correu em direções diferentes, e ela não viu nenhum parente desde então.
“Quando a luz do dia veio e eu vi apenas Nyalouk, percebi que meu pai, minha mãe e minhas duas irmãs mais velhas não estavam comigo e eu chorei muito”, diz ela, enquanto lágrimas caem novamente.
Mesmo tendo apenas 12 anos, Nyawech pegou sua irmã mais nova pela mão – e elas seguiram sozinhas até à Etiópia. Ela não tem certeza de quanto tempo caminharam para chegar até aqui, mas outras pessoas da mesma aldeia andaram semanas para encontrar segurança em solo etíope.
O que ela sabe é que elas chegaram com muita fome e extremamente desidratadas. Tudo o que tinham para comer ao longo do caminho era grama e folhas. Tudo o que eles bebiam era água suja de lagoas que encontravam pela estrada.
As duas meninas estão entre as crianças desacompanhadas que cada vez mais cruzam a fronteira do Sudão do Sul e chegam todos os dias à região de Gambella, no oeste da Etiópia. Algumas têm a sorte de encontrar seus pais e parentes quando chegam a algum dos três campos de refugiados próximos. Mas há no momento mais de 1.500 menores desacompanhados e outras 5.540 crianças separadas de suas famílias que vivem em acampamentos, cuidadas por outros refugiados.
Os 177 mil refugiados do Sudão do Sul nos campos (gerenciados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR – e pelo governo etíope) são predominantemente mulheres e crianças. E os campos alcançaram rapidamente sua capacidade total.
“O Governo da Etiópia nos deu um local adicional que estamos desenvolvendo”, diz Oscar Mundia, coordenador da operação de emergência do ACNUR em Gambella. “Mas, com mais de 12 mil refugiados em dois centros de acolhimento à espera de realocação e 883 novos refugiados chegando todos os dias, o novo local já pode ser considerado cheio antes mesmo de ser aberto”, completa Mundia.
“O ACNUR está especialmente preocupado com as crianças sozinhas, diz o funcionário do ACNUR. “Estamos trabalhando bem de perto com os nossos parceiros para identificar e registrar corretamente menores já na fronteira”, diz ele. Outras prioridades são traçar suas famílias e levar as crianças a locais de cuidado adequado.
Nyawech e Nyalouk tiveram sorte. Logo depois que cruzaram a fronteira, a mãe de quatro filhos, Nyanyik Thot, tomou-as sob suas asas. A nova “mãe adotiva” era da mesma aldeia, mas ainda não conhecia as meninas nem os seus pais.
“Decidi imediatamente cuidar das meninas porque pensei que meus filhos poderiam ter tido o mesmo destino”, diz ela, com simplicidade. A nova família está morando temporariamente em um enorme hangar comum, superlotado, com cerca de 100 outras pessoas. Ao todo, cerca de cinco mil estão vivendo nos hangares em Pagak, esperando para passar para os campos.
“Estamos muito agradecidos por Nyanyik ter se voluntariado para cuidar das duas irmãs, apesar de ter seus próprios filhos pequenos que também precisam de muita atenção”, diz Valerie Laforce, oficial de campo do ACNUR em Pagak.
Entre soluços, os pensamentos de Nyawech voltam para sua antiga vida e os jogos que costumava brincar. “Eu gostaria de voltar para casa”, diz ela em voz baixa. “Gostaria de encontrar a minha família, brincar de amarelinha e pular corda com os meus amigos”.

Comendo grama, irmãs refugiadas sul-sudanesas encontram segurança na Etiópia em campo da ONU
30 de julho de 2014 · Notícias - ONU

As irmãs, de amarelo e vermelho, estão aos cuidados de uma família da mesma cidade. Foto: ACNUR/K.Gebreegziabher
Nyawech Chuol, de 12 anos, não conseguia parar de soluçar ao contar a história da noite em que a guerra civil do Sudão do Sul chegou à sua casa. Ela e a irmã de oito anos, Nyalouk, traumatizada e em silêncio, perderam sua família após um tiroteio. Agora, estão completamente sozinhas em uma terra estrangeira.
Nyawech conta que elas dormiam quando, há algumas semanas, o conflito que varreu o Sudão do Sul nos últimos sete meses atingiu sua aldeia, Matiang, no estado do Alto Nilo.
“Estava muito escuro no meio da noite e estávamos todos dormindo quando ouvimos muitos tiros​​”, diz ela por meio de um intérprete em um lotado centro de recepção no ponto de fronteira conhecido como Pagak, em território etíope.
“Eu só me lembro de colocar o meu vestido, agarrar minha irmã mais nova pela mão e correr para fora da casa, na escuridão”. Sua família correu em direções diferentes, e ela não viu nenhum parente desde então.
“Quando a luz do dia veio e eu vi apenas Nyalouk, percebi que meu pai, minha mãe e minhas duas irmãs mais velhas não estavam comigo e eu chorei muito”, diz ela, enquanto lágrimas caem novamente.
Mesmo tendo apenas 12 anos, Nyawech pegou sua irmã mais nova pela mão – e elas seguiram sozinhas até à Etiópia. Ela não tem certeza de quanto tempo caminharam para chegar até aqui, mas outras pessoas da mesma aldeia andaram semanas para encontrar segurança em solo etíope.
O que ela sabe é que elas chegaram com muita fome e extremamente desidratadas. Tudo o que tinham para comer ao longo do caminho era grama e folhas. Tudo o que eles bebiam era água suja de lagoas que encontravam pela estrada.
As duas meninas estão entre as crianças desacompanhadas que cada vez mais cruzam a fronteira do Sudão do Sul e chegam todos os dias à região de Gambella, no oeste da Etiópia. Algumas têm a sorte de encontrar seus pais e parentes quando chegam a algum dos três campos de refugiados próximos. Mas há no momento mais de 1.500 menores desacompanhados e outras 5.540 crianças separadas de suas famílias que vivem em acampamentos, cuidadas por outros refugiados.
Os 177 mil refugiados do Sudão do Sul nos campos (gerenciados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR – e pelo governo etíope) são predominantemente mulheres e crianças. E os campos alcançaram rapidamente sua capacidade total.
“O Governo da Etiópia nos deu um local adicional que estamos desenvolvendo”, diz Oscar Mundia, coordenador da operação de emergência do ACNUR em Gambella. “Mas, com mais de 12 mil refugiados em dois centros de acolhimento à espera de realocação e 883 novos refugiados chegando todos os dias, o novo local já pode ser considerado cheio antes mesmo de ser aberto”, completa Mundia.
“O ACNUR está especialmente preocupado com as crianças sozinhas, diz o funcionário do ACNUR. “Estamos trabalhando bem de perto com os nossos parceiros para identificar e registrar corretamente menores já na fronteira”, diz ele. Outras prioridades são traçar suas famílias e levar as crianças a locais de cuidado adequado.
Nyawech e Nyalouk tiveram sorte. Logo depois que cruzaram a fronteira, a mãe de quatro filhos, Nyanyik Thot, tomou-as sob suas asas. A nova “mãe adotiva” era da mesma aldeia, mas ainda não conhecia as meninas nem os seus pais.
“Decidi imediatamente cuidar das meninas porque pensei que meus filhos poderiam ter tido o mesmo destino”, diz ela, com simplicidade. A nova família está morando temporariamente em um enorme hangar comum, superlotado, com cerca de 100 outras pessoas. Ao todo, cerca de cinco mil estão vivendo nos hangares em Pagak, esperando para passar para os campos.
“Estamos muito agradecidos por Nyanyik ter se voluntariado para cuidar das duas irmãs, apesar de ter seus próprios filhos pequenos que também precisam de muita atenção”, diz Valerie Laforce, oficial de campo do ACNUR em Pagak.
Entre soluços, os pensamentos de Nyawech voltam para sua antiga vida e os jogos que costumava brincar. “Eu gostaria de voltar para casa”, diz ela em voz baixa. “Gostaria de encontrar a minha família, brincar de amarelinha e pular corda com os meus amigos”.

'Choveu sopa e o Brasil ficou de garfo na mão', diz Renato Baumann do Ipea
Para o Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o conforto dos tempos de superávit na balança comercial, graças a elevados preços das commodities, levou a indústria a perder mais terreno
Sonia Filgueiras sonia.filgueiras@brasileconomico.com.br

"O Brasil participa como fornecedor no início da cadeia produtiva, que não é a parte nobre. Entramos pelos fundos nas cadeias de valor global", diz Baumann do Ipea
Foto:  João Viana/Ascom Ipea
Brasília - O economista Renato Baumann, ex-diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que o resgate da indústria brasileira, cuja participação no Produto Interno Bruto e na balança comercial encolhe a cada dia, passa pela busca de competitividade a partir da sua integração aos mercados globais. Carioca, bem-humorado e com doutorado em Oxford, Baumann dispara: “O Brasil entra pelos fundos nas cadeias de valor global”. Ele e sua equipe no Ipea estudam se a integração com os vizinhos poderia contribuir para nossa competitividade. Para Baumann, o conforto dos tempos de superávit na balança comercial, graças a elevados preços das commodities, levou a indústria a perder mais terreno. “Choveu sopa e o Brasil ficou de garfo na mão”, sentencia.
Por que se diz que o Brasil está fora das cadeias de valor global?
A literatura sobre cadeias de valor enfatiza dois pontos de máximo, ideais. Quem ganha com elas? Quem faz a parte de design, pesquisa e desenvolvimento do produto. É o caso clássico do iPhone, frequentemente embora seja made in China — na cadeia de valor, a China fica com 15% e o grosso fica com a Apple. O ideal é ser Apple na vida. O outro ponto de máximo é a situação em que vários países ofertam partes, peças, componentes, matéria-prima e alguém faz a montagem e fica com o filé mignon. Ou seja, o outro desejo é ser o país que sedia as empresas que fazem a montagem. Hoje, participamos basicamente ofertando matéria-prima. Estamos distantes da montagem, porque, para se ter a montagem, é preciso ter uma estrutura de custos que justifique sediá-la. É preciso ter mão de obra qualificada, infraestrutura para escoar a produção etc. O Brasil, sim, participa, mas de uma forma que não é a ideal, basicamente como fornecedor no início da cadeia produtiva, que não é a parte nobre. Costumo dizer que o Brasil entra pelos fundos nas cadeias de valor global.
Mas há exceções...
Sim. Em petróleo, aviação e perfumaria, mas não sai muito disso. Há empresas globais que vêm realizando investimentos em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, mas eu custo a crer que elas estejam colocando seu núcleo de inteligência aqui.
É uma herança histórica?
O modelo de industrialização brasileiro parte de um mercado interno de grandes proporções. Atraiu-se capital estrangeiro de uma forma bastante ativa, mas as subsidiárias (de multinacionais) que estão aqui vieram para produzir para o mercado interno ou, no máximo, para vender na América Latina. Isso explica em grande medida o fato de o Brasil ter um parque industrial bastante diversificado e a presença de subsidiárias já há muitas décadas que se destacam entre as economias emergentes. Ao longo do tempo, tivemos alguns incentivos importantes que induziram essas empresas a exportar, mas que hoje a OMC (Organização Mundial do Comércio) não permite. Deixadas ao sabor das forças de mercado, salvo algumas honrosas exceções, essas empresas tenderam ao veio natural, que é o do mercado interno, ainda razoavelmente protegido. Quando muito, exportam para a região. E note-se que o valor das exportações das subsidiárias corresponde à metade do valor das exportações de manufaturas do Brasil. É uma participação grande, mas pouco vai para os países de origem, das matrizes. O percentual de transações intrafirma no Brasil, que no mundo está na faixa dos 30% a 40%, é de 17%, 18%. Essas empresas não atrelam a produção feita aqui à sua produção global.
Como mudar isso?
Um dos grandes desafios é definir que tipo de incentivo pode ser dado a essas empresas para que elas possam vender nos mercados que interessam: aqueles mercados que dão estímulos de competitividade, que forçam as empresas a competir. Quando você vende para um país aqui na América Latina, você se acha bom. Agora, vá vender na 5ª Avenida (Nova York, Estados Unidos), em Genebra (Suíça). Não consegue: não tem programa de just in time , de entrega, assistência técnica, requisitos de proteção ao consumidor. É um mercado bem mais sofisticado.
As exportações de manufaturados foram minguando ao longo do tempo. Como isso aconteceu?
Um dos nossos problemas é que a ênfase nas exportações dada lá atrás, nos anos 80, saiu da agenda da política industrial por vários motivos. No início do Plano Real, a percepção era a de que dar incentivo ao setor exportador era transferência de renda real a um grupo de empresas privilegiadas. Com a crise asiática, foi preciso se repensar e voltar a dar incentivos. A partir de 1997, você mudou a política cambial, que ficou mais proativa e passou a incentivar as exportações, mas dentro de certo limite, e dentro das novas normas impostas pela OMC, com menos grau de liberdade do que antes. Depois de 2002, na gestão Lula, a ênfase passou a ser o mercado interno e, ao mesmo tempo, a economia se beneficiou com o cenário externo altamente favorável, por conta do preço das commodities. Com isso, o setor industrial foi se ressentindo por diversos canais: a entrada de divisas, tanto pelo superávit comercial quanto pelos investimentos (estrangeiros), levou a taxa de câmbio lá para baixo.
Por causa do preço das commodities, que subiu, a apreciação cambial não apareceu na balança comercial.
Exatamente. Em algum momento, tivemos um superávit comercial absurdo, da ordem de US$ 46 bilhões, que na verdade era um problema. Não fazia sentido você se preocupar em estimular as exportações naquele momento. Além disso, a ênfase era no consumo interno. O setor de commodities começou a crescer muito e a política interna foi de elevar o poder de compra — o que teve resultados fantásticos, um quinto da população brasileira cruzou a linha de pobreza. Mas, por outro lado, isso trouxe consumo para o setor de serviços. Os salários do setor de serviços se elevaram e puxaram junto os salários do setor industrial. Só que, em serviços, você não compete com ninguém. Já o setor industrial ficou sem capacidade de oferta para atender à demanda externa, com pressões de custos e com a concorrência de produtos importados. E, para complicar, houve aumento de tarifas sobre bens de produção (bens utilizados na produção de outros bens), o que contribuiu ainda mais para encarecer os custos do processo produtivo.
Qual a dimensão disso?
Eu tenho um paper comparando as tarifas nominais (de importação) sobre bens de produção brasileiros com as de alguns países emergentes selecionados — Brics e outros, como México e Indonésia — de 2000 até 2012. No início da série (2000), o Brasil, embora estivesse na faixa mais alta, não estava sozinho, havia outros países. Todos tiveram uma trajetória de queda e o Brasil, de elevação. Isso no caso dos bens de produção, aí incluídos bens de capital, insumos, peças, equipamentos e matérias-primas. Por que aconteceu isso, eu não sei e não entendo.
O Brasil poderia ter se preparado melhor?
Choveu sopa e o Brasil ficou de garfo na mão. Vivemos uma bonança durante dez ou doze anos, até pelo menos 2008. Ficamos felizes da vida de estar exportando ferro e soja, e enquanto isso o setor industrial se debatendo, sem poder contar com uma ação deliberada de política de apoio. A festa vai acabando e vai ficando claro que teria sido menos míope ter mantido na agenda a preocupação com a inserção internacional do setor manufatureiro.
Qual a saída?
Em primeiro lugar, repensar a estrutura tarifária. Pelo menos, essas tarifas sobre bens de produção. Deveria ser uma pedra de toque de qualquer tentativa de redesenho da política comercial. Mas é algo que tem de ser gradual. Há um custo social envolvido e o Brasil tem um parque industrial instalado, uma estrutura que deve ser preservada. A sociedade dá um valor real à existência de um setor industrial. É importante que seja assim em uma economia como a brasileira, porque nós temos um mercado interno que permite ter uma escala produtiva, uma estrutura industrial diversificada e é o setor industrial o canal de transmissão do progresso técnico. Uma vez que o temos, seria uma loucura, um suicídio desmontar isso. A questão é ajustar o sistema produtivo de tal forma que se possa viabilizar a competitividade da produção, seja com relação aos produtos importados, seja nos mercados de exportação. Estamos perdendo participação nos mercados tradicionais — Estados Unidos, México e Argentina. E estamos perdendo para a Ásia, não é só para a China.
Por que integrar as cadeias de valor é tão importante?
Para sermos um produtor de manufaturas que sobreviva de forma competitiva, é preciso exportar, ser competitivo lá fora. E para fazer isso, o nome do jogo hoje é cadeia de valor. A China consegue altos graus de competitividade porque tem a mão de obra do Vietnã, os insumos de outro vizinho. Nós nunca tivemos nada parecido com isso. E temos mais de 60 anos de discurso de integração na América Latina.
O que mais pode ser feito?
Em segundo, minha obsessão mais recente: investigar a possibilidade de interação produtiva com os países vizinhos. É um projeto que estamos conduzindo aqui no Ipea. Buscamos a possibilidade de encontrar ganhos de custo de produção, a exemplo do Leste Asiático.
Seria, por exemplo, tentar fazer o Mercosul funcionar?

Seja o Mercosul, ou a Aliança do Pacífico, seja que formato for, o nome do jogo é ênfase no econômico e busca de complementariedade produtiva em um jogo de soma positiva. Usar o mercado regional, a disponibilidade de fatores disponíveis no mercado regional, para ganhar competitividade.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Israel vai insistir em levar a Palestina à exaustão’, diz professor da FGV

Salem Nasser nega a tese de legítima defesa de Israel e questiona: o que é mais grave, o terrorismo ou o crime de guerra?

Redação Brasil Econômico redacao@brasileconomico.com.br
Salem Nasser, professor de Direito Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), nega a tese de legítima defesa de Israel e reafirma o desequilíbrio de forças no sangrento conflito que assola a Faixa de Gaza e que já deixou mais de mil mortos em 20 dias, a grande maioria palestinos e civis. Especialista em assuntos do Oriente Médio, Nasser questiona a definição de grupo terrorista dada ao Hamas. Com um olho treinado para a região, ele afirma que um cessar-fogo parece muito improvável. Segundo ele, há uma mudança estratégica nos objetivos de Israel. Assim como em 2006 contra o Hezbollah, no Líbano, o que começou como uma resposta pontual a mísseis, estaria se transformando em uma campanha pelo desarmamento dos grupos palestinos. O professor da FGV acredita que o conflito terá longa duração porque há uma pressão clara da opinião pública israelense para que a ofensiva se mantenha até a destruição total dos túneis que ligam as regiões. Segundo ele, Israel começa a temer os ataques do Hamas, mas vai insistir em levar a Palestina à exaustão.
Israel afirma que age em legítima defesa. O que você diz sobre isso?
Em direito internacional, para que se configure a legítima defesa, é preciso estar diante de um ataque militar por parte de outro Estado. Um primeiro problema com essa tese israelense é que o princípio só se aplica se você for atacado primeiro. O governo de Israel sempre fala como se estivesse quieto no seu canto e, de repente, fosse injustamente atacado por foguetes palestinos. Isso não se sustenta. Antes dos primeiros foguetes já havia uma ofensiva contra a Cisjordânia.
Mas desta vez argumentam que palestinos iniciaram os ataques...
Não cabe falar em um ataque inicial palestino quando, de fato, a Faixa de Gaza está sob constante violência israelense, por força de um bloqueio econômico e territorial que impõe todo tipo de sofrimento. Embora Israel não esteja presente de modo contínuo na Faixa, com tropas estacionadas ali, Gaza é, em grande medida, um território controlado por Israel e isto impõe uma outra dificuldade para a configuração da legítima defesa.
Então, qual é o real peso dos foguetes do Hamas nisso tudo?
A melhor maneira de falar sobre isso é imaginar que os foguetes não existem. Imaginemos que os palestinos não tivessem qualquer instrumento de resposta militar. Os israelenses desfariam então o bloqueio? Eles encerrariam a ocupação do território palestino e desfariam os assentamentos? As respostas são todas negativas. O fato é que se não houvesse algum tipo capacidade de resistência militar palestina a esta altura Israel já teria completado seu projeto de incorporação dos territórios remanescentes e retirado dali o essencial da população palestina. É apenas compreensível que, assim como Israel considera necessário continuar a ser uma superpotência militar, também os palestinos, efetivamente ameaçados, tentem desenvolver recursos de força militar.
Como explicar a definição de grupo terrorista dada ao Hamas?
O termo terrorismo é um poderoso instrumento retórico de deslegitimação do inimigo. Se perguntarmos a quem o aplica qual é a definição de terrorismo, a luz do direito internacional ou nacional, que fundamenta a acusação, perceberemos que as pessoas são incapazes de responder. Outra coisa importante a ser lembrada é que, provavelmente, todos os ocupantes coloniais que existiram se referiam aos que ousavam se insurgir como terroristas ou equivalentes. Assim os franceses viam os argelinos, os ingleses viam os indianos e etc. Não é estranho que os israelenses façam isso agora. E, por fim, ainda que pudéssemos admitir que atos palestinos sejam qualificados como terroristas, cabe a pergunta: os atos israelenses não são também atos terroristas? O que é mais grave, o terrorismo ou o crime de guerra, lançar foguetes que ao final de quase vinte dias provocam a morte de duas pessoas ou bombardear massivamente civis?
Israel diz que faz avisos prévios sobre os bombardeios e e acusa o Hamas de utilizar escudos humanos. Como você vê isso?
O aviso prévio é um instrumento de propaganda muito poderoso e até cabeças razoavelmente aptas se deixam convencer. Mas é preciso parar um pouco para refletir. Dizer que você avisou que ia destruir a casa de alguém com uma bomba e que isso é suficiente para justificar a destruição é simplesmente inaceitável e imoral. Quanto mais avisar que vai bombardear hospitais e escolas cheios de feridos e refugiados. Sobre os escudos humanos, isso é outra peça de propaganda inserida em um banho racista evidente “Eles não têm amor à vida como nós temos”, quantas vezes não ouvimos isso nos últimos anos? Os tenentes desse racismo deveriam, antes de falar, olhar uma entre as tantas cenas de sofrimento nas ruas de Gaza. E mesmo que déssemos algum crédito às teses, como explicar que a força desses grupos está justamente no apoio popular de que gozam? 
Apesar das perdas palestinas, o Hamas já recusou propostas de cessar-fogo. Por quê?
Uma coisa que não vem sendo dita sobre as propostas de cessar-fogo e sobre a recusa da primeira delas, quando Israel pareceu disposto a aceitar, tem a ver com o cessar fogo negociado no final dos ataques de 2012 contra Gaza. Os grupos palestinos têm insistido que Israel não cumpriu o combinado na época, o que incluía o fim do bloqueio imposto à Faixa. Dessa vez, os grupos armados não estavam dispostos a simplesmente aceitar uma proposta sem garantias de fim do bloqueio, necessidade mais urgente dos palestinos.
Apesar da trégua, dizem que um cessar-fogo não está próximo. Qual é a sua avaliação?

Quando há um consenso de que não há condições para um cessar-fogo consistente, surgem propostas de trégua humanitária na esperança de que se prolonguem sem que as condições sejam atendidas. Essa trégua do último final de semana só aconteceu porque ambas as partes precisaram. Os palestinos para o resgate dos corpos e Israel porque subestimou a intensidade dos ataques do Hamas. Mas algo duradouro é realmente improvável. Os palestinos só param com o fim do bloqueio e os israelenses conseguiram que os norte-americanos assinassem embaixo do discurso de desarmamento dos grupos palestinos, assim como em 2006 contra o Hezbollah, no Líbano, mesmo sabendo que este é um objetivo impossível. Além disso, há uma pressão clara da opinião pública israelense para que a ofensiva se mantenha até a destruição total dos túneis que ligam as regiões. Na minha leitura, ambos vivem um impasse. Israel começa a temer os ataques do Hamas, mas vai insistir em levar a Palestina à exaustão, e os palestinos serão pressionados pelo número de vítimas que só aumentam.
Já é possível avaliar o saldo desse conflito para a região?
Apesar do sofrimento enorme e das perdas impostas aos palestinos pela ação militar israelense, o fato é que os resultados desta campanha podem vir a se somar ao que aconteceu em 2006 no Líbano, 2008, 2009 e agora 2012 em Gaza, e serem colocados na conta de derrotas relativas de Israel. Estão sendo reveladas falhas nos serviços de inteligência israelense, que não souberam julgar a capacidades dos grupos palestinos. A capacidade de dissuasão dos grupos armados aumentou nos últimos anos na medida em que eles hoje podem alcançar qualquer parte de Israel com seus foguetes e, inclusive, lhe impor algum tipo de paralisia, como o que aconteceu com o seu aeroporto principal. Essa campanha revela que, quando forçados ao combate direto, no terreno, os soldados israelenses se saem menos bem e que os grupos armados palestinos desenvolveram meios e estão dispostos a levar a batalha ao território israelense, não só por ar, com os foguetes, mas também por terra. Isso tudo é cheio de implicações fundamentais para o futuro da região.

I Guerra Mundial acelerou modernização das Forças Armadas no Brasil

Publicado em Segunda, 28 Julho 2014 01:53 | Última atualização em Terça, 29 Julho 2014 11:41
Brasília, 28/07/2014 – Há exatos 100 anos, teve início um conflito militar global sem precedentes, com um nível de destruição e mortandade desconhecido até então. A declaração de guerra do Império Austro-Húngaro à Sérvia, por suposta colaboração do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono, deflagrou um dos conflitos mais sangrentos e dramáticos da história: a I Guerra Mundial. O embate transformou o mundo e acelerou, por efeitos inesperados, o processo de modernização e profissionalização das Forças Armadas do Brasil.


Antes mesmo de a “Grande Guerra” eclodir, o Brasil já estava atento às inovações que surgiam nos países europeus, buscando formas de expandir seus meios de defesa para assegurar a soberania nacional. Prova disso foi o envio de turmas de oficiais brasileiros à Alemanha, em meados de 1910 (quatro anos antes da Guerra), para ações de treinamento e intercâmbio militar.
Após o início do conflito, o Brasil foi o único país da América do Sul a ingressar na guerra, em 1917, o que impulsionou o protagonismo internacional brasileiro e rendeu ao país participação de grande relevância nas tratativas que levaram à criação da Liga das Nações – instância que, anos depois, daria lugar à Organização das Nações Unidas (ONU).
No pós-guerra, o Brasil passou a investir de forma cada vez mais estratégica na composição de suas Forças Armadas e na criação de escolas preparatórias.
 “A história do Exército começou a mudar com na virada do século XX, quando começamos a mandar oficiais para fazerem cursos na Alemanha. Foi um resultado muito interessante para a organização, especialmente na formação”, afirma o diretor de Patrimônio Histórico do Exército, general Marcio Roland Heise.
Missão Francesa
O Brasil contratou uma Missão Militar Francesa, o que permitiu a modernização das Forças e a incorporação da aviação militar na Marinha e no Exército. No período, começaram a ser utilizados no país os veículos blindados. Ocorreu também a reformulação do ensino do Exército, além da introdução do emprego de armas químicas, entre outros avanços.
“A missão francesa nos auxiliou nessa modernização. Com ela, fomos alçados à condição de um Exército moderno e mais profissional”, explica o general Heise.
Apesar de sua postura não beligerante e neutra em relação à I Guerra, o governo brasileiro se viu sem opções quando, no fim de 1917, navios brasileiros sofreram ataques de submarinos das forças alemãs sob a alegação de que as embarcações nacionais navegavam em áreas restritas.
Após o afundamento de três navios mercantes, sendo o último deles o vapor Macau, que transportava café para a França, o então presidente do Brasil, Wenceslau Brás, decidiu decretar estado de guerra, no qual o país entrava como aliado da Tríplice Entente (França, Reino Unido, Rússia).
“O Brasil já vinha reforçando o interesse em modernizar suas Forças. Depois de ter sido envolvido na guerra, cresceu a necessidade de o país ter uma capacidade robusta de autodefesa e de proteção para dissuadir ameaças”, avalia o professor de Relações Internacionais, Antônio Ramalho, diretor do Instituto Pandiá Calógeras – órgão ligado ao Ministério da Defesa.

Segundo informações da Academia Brasileira de História Militar (AHIMTB), no período da I Guerra, o Exército Brasileiro criou a Comissão de Estudos de Operações e de Aquisição de Material na França, que, sob a chefia do general Napoleão Felipe Aché, buscava absorver a maior quantidade de conhecimentos da Doutrina Militar Francesa e adquirir o material necessário à sua implantação no Brasil.
Além disso, foram enviados soldados da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG) que iriam se juntar aos aliados na África. Infelizmente, no caminho, o grupo foi atingido pela gripe espanhola e quase todos morreram antes de chegar ao destino final.


O Brasil também teve participação na I Guerra com o envio de uma Missão Médica do Exército à França, chefiada por Nabuco de Gouveia. Essa missão montou um hospital e organizou o atendimento a centenas de feridos aliados.
Quando acabou a guerra, o hospital foi doado pelo Brasil à França e até hoje pode ser visto no 15e arrondissement em Paris, onde funciona com o nome de “Hospital Vaugirard”. O local, apesar disso, ainda exibe a antiga placa de bronze nome “Hôpital Brésilien” (Hospital Brasileiro).
De acordo com o presidente da AHIMTB, coronel Cláudio Moreira Bento, o tenente José Pessoa, que foi para a França lutar com os aliados e chegou a comandar um esquadrão de soldados turcos, foi o grande destaque do Brasil na I Guerra.
“Era um homem empreendedor, além do excelente trabalho como combatente, trouxe novos conhecimentos ao Brasil, tendo sido o idealizador da AMAN”, explica o coronel lembrando ainda que, na época, José Pessoa recebeu inúmeros elogios de seus comandantes franceses.
A Grande Guerra
Em 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia, por suspeitar do envolvimento do governo eslavo no assassinato do herdeiro do trono, arquiduque Francisco Ferdinando. Era o início do maior conflito visto até então pela humanidade. Na época, o mundo vivia uma aparente situação de paz, mas a política de alianças secretas entre as principais potências europeias no final do século XIX levou a uma corrida armamentista.



“As alianças contraditórias entre os países europeus eram insustentáveis e acabaram culminando nessa guerra que todos acharam que seria uma guerra curta, mas acabou se tornando uma das mais dramáticas da historia mundial”, avalia Antônio Ramalho.
Além disso, a Alemanha e a Itália queriam expandir sua zona de influência para ter maior acesso a matérias-primas e mercados, enquanto eslavos e árabes lutavam para sair do jugo dos Impérios Austro-Húngaro e Turco-Otomano, respectivamente. Por essa razão, para muitos historiadores, o assassinato de Francisco Ferdinando foi apenas um pretexto para o início do conflito.
A guerra, inicialmente concentrada na Europa, acabou envolvendo o mundo inteiro, já que a intolerância geral imperava e forçava os países neutros a assumiram uma posição contra ou a favor da Alemanha.
O conflito se deu, sobretudo, em trincheiras, nas quais os soldados, em condições insalubres, chegavam a ficar meses de prontidão.
“Inicialmente, a expectativa era de ser uma guerra curta, especialmente por causa da expansão das inovações tecnológicas no mundo, como carros blindado, submarinos, aviões sendo usados como equipamento militar e armas químicas. Mas, o que se viu foi uma guerra longa e sofrida, especialmente no período das trincheiras”, diz o professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Thiago Tremonte.
“A guerra de trincheiras é o que mais marca esse tenebroso confronto. Além das condições absurdas em que os soldados ficavam ali, o espaço que separava os dois inimigos era terra de ninguém: o inimigo poderia estar a poucos metros de distância sem ser visto, o que gerava uma sensação de pavor constante”, conclui o historiador da UnB.
Fotos: BIBLIEx. O Exército na História do Brasil V3/ Diretoria do Patrimônio Histórico da Marinha
Assssoria de Comunicação
Ministério da Defesa

Brasil terá exclusividade na exploração de área rica em cobalto no Atlântico Sul
Publicado em Terça, 29 Julho 2014 12:42 | Última atualização em Terça, 29 Julho 2014 12:42
Brasília, 29/07/2014 - O Brasil terá direitos exclusivos para, durante 15 anos, explorar das crostas cobaltíferas na região da Elevação do Rio Grande (ERG), localizada no Atlântico Sul. A Comissão Jurídica e Técnica da Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos (ISBA), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pelas atividades de uso de recursos marinhos em águas internacionais, aprovou o pleito brasileiro em reunião da entidade que acontece na cidade de Kingston, na Jamaica.
A demanda brasileira ao ISBA foi apresentada no final de 2013. O Plano de Trabalho para exploração do cobalto na ERG foi coordenado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). O pleito foi resultado de quatro anos de pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA).

Os estudos também tiveram a participação de setores técnicos e políticos como o Serviço Geológico do Brasil, os Ministérios das Minas e Energia, da Ciência Tecnologia e Inovação, do Meio Ambiente e o das Relações Exteriores. Além disso, sessenta estudantes e pesquisadores de diferentes instituições e áreas científicas contribuíram para a construção do Plano de Trabalho.
Com a decisão da ISBA, além do direito exclusivo de exploração de cobalto na ERG por 15 anos, Brasil poderá aprimorar suas pesquisas científicas nos campos da Biologia, Geologia e Geofísica.
Além das crostas ricas em cobalto, as pesquisas na ERG também constataram a ocorrência de outros minérios, como níquel, platina, manganês e terras raras que possuem relevante potencial científico e econômico.
A criação do PROAREA no âmbito da CIRM, em 2009, tem como propósito a identificação e avaliação da potencialidade mineral de áreas com importância econômica e político-estratégica localizadas na Área, por meio do desenvolvimento de tecnologia de ponta, da geração de empregos e qualificação de recursos humanos.

Informações: CCSM
Arte: Pedro Dutra (Ascom/MD)
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa