A lição da Copa de 1966
Em momentos de
perplexidade, é sempre importante olhar para lições deixadas por experiências
semelhantes
Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
Por mais que o número de gols sofridos tenha sido acachapante, não foi a
primeira vez que a seleção brasileira cometeu um fiasco em Copa do Mundo. No
calor dos 7 a 1, muito se falou sobre a derrota para o Uruguai na final de
1950, o Maracanazo. Mas quem vem de longe lembrou-se de outro exemplo: o da
Copa de 1966.
Fomos para a Inglaterra – Pelé e Garrincha juntos – com a missão
histórica de trazer o caneco definitivamente para casa, num tricampeonato
mundial seguido e inédito. O time mesclava bicampeões de 58 e 62 com jovens
promessas. Mas nada deu certo. Ganhamos o primeiro jogo contra a Bulgária e
perdemos para Hungria e Portugal. Saímos de Londres após a primeira fase, na
pior classificação de todos os tempos. Revoltado, o irreverente João Saldanha
esbravejava na Rádio Nacional: “A vaca foi para o brejo!”.
Saldanha e outros comentaristas da época responsabilizaram a antiga
Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e a comissão técnica comandada por
Vicente Feola (o mesmo técnico de 1958). Um dos equívocos teria sido a
indefinição do elenco. Feola convocou de início mais de 40 jogadores, que
dividiu em quatro times. A escolha dos 22 foi feita em cima da hora, na véspera
do embarque, e, sem entrosamento, a equipe principal foi presa fácil para
húngaros e portugueses, que nos venceram por 3 a 1. A indecisão e a falta de
objetividade foram tão grandes que, nos três jogos, 20 dos 22 jogadores
entraram em campo. E olha que na época não eram permitidas substituições
durante as partidas.
No desastre do Mineirão, Felipão também ficou perdido ao escalar seu
time. Fez pouco do favoritismo dos alemães e pôs em campo um seleção vulnerável
que se mostrou insegura assim que levou o primeiro gol após um erro infantil.
Já os alemães logo perceberam que o Brasil, sem Neymar e Thiago Silva, estava
desorganizado e partiram para cima de forma fria e impiedosa. Para azar de quem
passou dos 60 anos, a decepção de 1966 se repetiu agora em 2014. Mas vale
lembrar que a lição da Inglaterra deu bons frutos.
Escolhido para técnico nas eliminatórias para a Copa de 70, João
Saldanha, logo na primeira entrevista, apresentou a lista de 11 titulares e 11
reservas. Entre suas “feras”, estavam Pelé e mais cinco sobreviventes do vexame
de 66: Edu, Brito, Gerson, Tostão e Jairzinho. Os amantes do futebol sabem da
importância de todos eles para o tricampeonato no México.
Agora, não será diferente. Não há espaço para a arrogância de Felipão e
Parreira diante do fracasso. É ridículo afirmarem que o resultado não foi de
todo ruim, já que chegamos à semifinal. Mesmo que se conquiste o terceiro lugar
no sábado, o resultado é amargo. O Brasil sofreu a pior goleada de sua
história, com uma exibição patética.
A torcida exige mudanças no comando da seleção e renovação das pessoas
que administram o futebol. Se demos a volta por cima em 1970, também seremos
capazes de mostrar um grupo vencedor na Copa da Rússia, em 2018. Mais maduros,
jogadores da qualidade de Neymar, Oscar, David Luiz e Thiago Silva certamente
serão aproveitados já nas eliminatórias. Vamos precisar de nomes que honrem a
tradição do futebol pentacampeão do mundo. De resto, como dizia Saldanha, é
vida que segue.