batalha pelo Sudeste
Com a escolha de Aloysio Nunes Ferreira para seu vice, Aécio Neves fez mais do que reeditar a tradicional aliança “café com leite” que marcou os tempos da República Velha
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
A opção pela chapa puro-sangue com o senador paulista mostra que o PSDB está apostando todas as fichas numa vitória por larga diferença em São Paulo. Tudo indica que os estrategistas tucanos acreditam que podem abrir ali margem suficiente para cobrir a ampla diferença que se desenha a favor da presidente Dilma Rousseff no Norte e no Nordeste. Também fazem parte de seus prognósticos vitórias de Aécio em Minas Gerais e talvez no Rio de Janeiro, mas a cartada crucial será jogada em São Paulo, com seus 32 milhões de eleitores, cerca de um quarto do eleitorado nacional.
A aposta do PSDB faz sentido. Enquanto no Nordeste e no Norte estão redutos eleitorais fiéis às políticas sociais dos governos petistas, em São Paulo o partido comandado pelo ex-presidente Lula vive momento difícil. Desgastada desde as manifestações de junho do ano passado, a administração Fernando Haddad não recuperou a imagem. Amarga índices de aprovação baixíssimos, inferiores a 20%.
A candidatura do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, escolhida a dedo por Lula, também não decolou. Patina em 3% das intenções de voto. Há quem diga que tudo vai mudar com o horário eleitoral e que se repetirá este ano o avanço de Haddad na reta final em 2012. Pode ser, mas é inegável que a situação de Padilha, nesses dias de economia em banho-maria, é bem mais complexa.
Raposa política das mais matreiras, o ex-governador Paulo Maluf, por exemplo, desistiu do apoio ao ex-ministro de Dilma e acaba de anunciar a adesão à candidatura do empresário Paulo Skaf, do PMDB. O ex-prefeito Gilberto Kassab, da base aliada, também reforçou o time de Skaf, como candidato ao Senado. A própria Dilma tem se aproximado do presidente licenciado da Fiesp, ao mesmo tempo em que mantém distância prudente da campanha de Alexandre Padilha.
Não é sem motivo que muitos analistas recorrem ao exemplo histórico de Cristiano Machado, nas eleições presidenciais de 1950. Candidato do PSD, Cristiano foi traído por líderes de seu partido que, apesar do apoio formal, fizeram campanha aberta pelo ex-ditador Getúlio Vargas. São fortes os rumores de que Padilha terá o mesmo destino e será “cristianizado”.
Para além da questão regional, a indicação de Aloysio Nunes pode dividir os votos que são atraídos pelas ligações da presidente Dilma com os grupos de esquerda que pegaram em armas contra a ditadura militar. Aloysio tem trajetória semelhante. Deixou o Partido Comunista Brasileiro em 1968 para ingressar na ALN, de Carlos Marighella, do qual se tornou motorista e guarda-costas. Sob o codinome Mateus, participou dos assaltos ao trem pagador da antiga Estrada de Ferro Santos Jundiaí e ao carro-pagador da Massey-Ferguson. Com pedido de prisão preventiva, foi enviado para Paris, onde se filiou ao Partido Comunista Francês. Condenado à revelia, só voltou ao Brasil em 1979, graças à Lei da Anistia.
Com o lançamento de José Serra ao Senado ontem, o PSDB amarrou de vez seu pacote paulista. O PT, porém, não está indiferente. Sabe do peso de São Paulo, mas, pelos movimentos de Dilma nos últimos dias, quer fazer do Rio o principal enclave no Sudeste. Não é partido de entregar os pontos. Vai à luta.