Economia em pele de jacaré
Quando recomendava
aos eleitores que não se iludissem com o caráter de seus adversários, o
ex-governador Leonel Brizola recorria ao seu famoso baú de fábulas e metáforas
Octávio
Costaocosta@brasileconomico.com.br
Dizia o carismático político gaúcho: “É bom tomar cuidado. Se o bicho
tem couro de jacaré, tem dente de jacaré e olho de jacaré, é porque é jacaré
mesmo”. A imagem de Brizola se ajusta perfeitamente ao momento que vive a
economia brasileira. A atual conjuntura tem cara de recessão, jeito de recessão
e tudo indica que vem mesmo recessão por aí. Ontem, os economistas do mercado
financeiro que são consultados pelo boletim Focus, do Banco Central, rebaixaram
pela oitava semana seguida a previsão para o crescimento do ano. Pela primeira
vez, foi apontada uma evolução do PIB abaixo de 1%. A projeção agora é de
aumento de apenas 0,97%.
Na entrevista exclusiva dessa segunda-feira, o ex-presidente do Banco
Central Carlos Geraldo Langoni foi taxativo ao afirmar que, mesmo que não se
enquadre no conceito clássico de recessão, “o Brasil está vivendo um processo
de estagflação”. Para ele, ao crescer apensa 1%, “estamos próximos da
estagnação combinada com uma inflação alta”. E já se pode falar, sim, de
recessão em alguns setores da indústria. Bancos de porte também se mostram
decepcionados com os rumos da economia e não param de refazer suas previsões. O
Credit Suisse, por exemplo, engrossou o coro pessimista e rebaixou de 1,2% para
0,6% sua estimativa para o crescimento do PIB. Em nota aos clientes, explicou
que a revisão se justifica pelo “desempenho fraco do setor industrial” e “a
provável continuidade dos baixos níveis de confiança”.
Se resta dúvida sobre o tropeço da economia, é bom ler com atenção o
relatório do Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco divulgado ontem,
sobre os motivos que o levaram a rever para baixo suas expectativas. “Frente às
surpresas negativas observadas na economia brasileira ao longo dos últimos
meses, ajustamos nosso cenário para este e o próximo ano, com destaque para
nossas novas projeções do PIB que apontam para taxas de crescimento mais
modestas, de 1,0% e 1,5%, respectivamente”, explica o economista-chefe do
Bradesco, Octávio de Barros. E arremata: “Ao longo deste ano, em especial nos
últimos meses, foi notável a deterioração das expectativas na indústria, no
comércio, na construção civil, no setor de serviços e entre os consumidores”.
Após lembrar que os índices de confiança apurados pela FGV e pela CNI
recuaram para os níveis mais baixos desde 2009, o Bradesco ressalta que não
devem se esperar boas notícias do setor externo. “A demanda externa, que segue
bastante fraca, e a baixa competitividade do setor industrial do país seguem
limitando nossas exportações de manufaturados, agravadas principalmente pela
situação atual da economia argentina”. Some-se a isso o desaquecimento do setor
automotivo e da construção civil e o resultado é “a desaceleração significativa
da atividade doméstica, levando a um acúmulo de estoques na indústria e no
varejo”.
Há uma saída? O Bradesco aposta que no ano que vem, qualquer que seja o
governo, serão realizados ajustes no lado fiscal e na política de preços
administrados. Dessa forma, haverá recuperação na confiança dos agentes econômicos
e na taxa de investimento. Por enquanto, porém, a economia vai mal. Está mais
para o jacaré de Brizola.