Rússia e Brasil fazem acordo para duplicar comércio bilateral
Os dois países têm interesse em acordos nas áreas de defesa e energia nuclear. Russos devem conhecer programas de logística
Edla Lula elula@brasileconomico.com.br
As sanções impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos à Rússia, em consequência da anexação da Crimeia pelo país, são vistas como boa oportunidade de negócios para Rússia e Brasil. Com este intuito, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, firmou ontem com a presidenta Dilma Rousseff uma série de compromissos que inclui a ampliação do comércio entre os dois países de US$ 5,6 bilhões para US$ 10 bilhões.
A intenção é ampliar a cesta de comércio, concentrada principalmente no agronegócio e nos mercados de petróleo e de química. A Rússia tem interesse em participar do programa brasileiro de concessões em infraestrutura. O acordo incluiu missões de empresas russas ao Brasil para que conheçam participar do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT) e também do Programa de Investimentos em Logística (PIL).
“Neste momento, quando existem diversas especulações de embargos da comunidade europeia à Rússia, esse programa pode vir na hora e lugar certos”, comentou Gilmar Menezes, diretor superintendente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria, Cultura e Turismo. Outro setor promissor, segundo Menezes, é a construção civil, cujo crescimento na Rússia é comparável ao brasileiro.
“São inúmeras oportunidades que se abrem em energia e infraestrutura, áreas nas quais as empresas russas poderão aumentar sua presença no Brasil, especialmente em concessões de petróleo, portos e ferrovias”, disse a presidenta Dilma a jornalistas, ao final do encontro.
A parceria não se resume ao comércio. Os dois países têm interesse na cooperação em defesa e no uso pacífico da energia nuclear. Brasil e Rússia já possuem acordos na área de defesa. Ontem, se comprometeram a agilizar o processo de compra, pelo Brasil, de unidades do sistema russo de defesa antiaérea, iniciado em 2013.
A parceria não se resume ao comércio. Os dois países têm interesse na cooperação em defesa e no uso pacífico da energia nuclear. Brasil e Rússia já possuem acordos na área de defesa. Ontem, se comprometeram a agilizar o processo de compra, pelo Brasil, de unidades do sistema russo de defesa antiaérea, iniciado em 2013.
Nem Dilma nem Putin falaram diretamente do conflito russo com a Ucrânia. Em discurso, a presidenta apelou, genericamente, para soluções pacíficas em regiões que brigam. “Consideramos que a escalada de conflitos em várias partes do planeta ameaça a estabilidade mundial e obriga as organizações multilaterais a serem cada vez mais eficientes. Nessa ordem multipolar é necessário adotar, como prioridade, a resolução consensual e pacífica de conflitos”. Depois, Dilma cumprimentou as posições russas em relação à Síria.
A presidenta citou a importância de cooperações técnicas à garantia da soberania dos países. “Nossos países estão entre os maiores do mundo e não podem se contentar, em pleno século 21, com dependências de qualquer espécie. Os acontecimentos recentes demonstram ser essencial que busquemos, nós mesmos, nossa própria autonomia científica e tecnológica.”
Entre os programas de cooperação técnica está a instalação de estações do sistema russo de navegação por satélite, o Glonass, similar ao GPS, no país. A primeira parceria teve início no ano passado, com a Universidade de Brasília (UnB). Agora, a Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e o Instituto Tecnológico de Pernambuco terão o sistema.
A presidenta ainda agradeceu o apoio russo à resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas sobre direito à privacidade digital, uma bandeira brasileira. Brasil e Rússia se comprometeram a superar obstáculos ao comércio bilateral, como os embargos da carne brasileira. Um acordo prevê intercâmbio para tornar equivalentes os sistemas sanitários dos dois países.