'Estamos em um processo de
estagflação', diz o economista Carlos Langoni
Presidente do Banco
Central entre 1983 e 1985, quando a alta dos preços alcançava índices hoje
inimagináveis, o economista diz que o Brasil está muito perto da recessão,
combinando estagnação com inflação alta
Ana Paula
Graboisana.grabois@brasileconomico.com.br e Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br
Ex-presidente do Banco Central, o economista Carlos Langoni afirma que o
país vive uma armadilha econômica, de baixo crescimento e inflação alta, com um
quadro recessivo sobre a indústria. Seu diagnóstico é de que o círculo virtuoso
que combina pleno emprego e mobilidade social está sob ameaça, caso a economia
permaneça em expansão lenta. Para o economista, que também é diretor do Centro
de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), os ganhos sociais
observados nos últimos anos podem diminuir. Langoni vê 2015 como um ano difícil
de ajuste fiscal, especialmente para recuperar a confiança de investidores e do
empresariado. “O governo vai ter que dosar sua política para quebrar essa
rigidez inflacionária, levando em consideração que terá que fazer a correção
dos preços administrados e do câmbio”, diz. Langoni defende ainda a
persistência na tentativa de realizar uma reforma tributária e em promover
mudanças nos marcos regulatórios das concessões de infraestrutura, para
estimular o investimento do setor privado.
Alguns economistas afirmam que a economia brasileira já está em
recessão. O sr. concorda?
Se considerarmos o conceito clássico de recessão, de três trimestres
seguidos com queda de produção, ainda não aconteceu. Mas os dados da produção
industrial já estão em terreno negativo em bases anuais. Houve uma contração do
setor industrial que não é um fenômeno conjuntural. Possui raízes mais
estruturais, no problema da competitividade da economia brasileira, que
considero o grande tema de nossa agenda econômica atual. Essa perda de
competitividade se reflete até no esporte. A seleção brasileira é também um
exemplo de perda de competitividade. Não somos mais competitivos no futebol. No
Brasil, o futebol é uma alternativa à escola. Na Alemanha, é uma extensão.
Achávamos que poderíamos viver, eternamente, de talentos. Só que, hoje, o mundo
não vive só de talentos. Você precisa de talentos, planejamento e gestão.
Setores não competitivos podem tornar-se competitivos, e setores que são
competitivos a nível global podem perder esse status. Tudo vai depender,
basicamente, do binômio investimento-inovação. A indústria brasileira é um
reflexo da estratégia seguida para o crescimento dos últimos anos, com ênfase
exagerada no consumo das famílias, aproveitando a grande conquista da
mobilidade social. As duas coisas têm que estar interligadas. No mundo
globalizado, o investimento precisa ter uma componente de mudança tecnológica,
de incorporação de novas tecnologias. Faço um contraste muito interessante. Por
que o agronegócio no Brasil é tão competitivo? É um setor que vem investindo e
inovando de forma permanente. É uma distorção imaginar que o agronegócio só é
competitivo porque temos uma competitividade herdada dos recursos naturais.
Isso ajuda, mas há outro fator fundamental, a componente de investimento
combinada com a modernização, inclusive na gestão do negócio. E a inovação é
também o exemplo claro da interface correta entre Estado e setor privado.
Porque o Estado brasileiro é o grande inovador no setor tecnológico, por meio
da Embrapa. Mas não temos uma Embrapa no setor industrial.
A indústria tem fontes de crédito, como o BNDES. Não é suficiente?
O BNDES tem um papel fundamental e vai continuar tendo. O Brasil não tem
ainda uma alternativa de mercado de capitais privados. Esse processo de
diversificação que o próprio BNDES defende tem que ser gradual para aumentar
fontes privadas de financiamento e reduzir o peso do BNDES. Por enquanto, o
BNDES é fundamental. A partir dos últimos dois anos, o BNDES começou a dar mais
ênfase a componentes de inovação, a saída para a indústria brasileira. Não
defendo o protecionismo. É uma solução transitória. No médio e longo prazos, a
proteção excessiva desestimula a eficiência e os ganhos de produtividade. É
preciso encontrar uma saída permanente para a indústria, que passa por um
processo de focar nas questões estruturais internas ao setor. Mas a indústria
sofre também externalidades negativas, do ambiente macroeconômico. A principal
é a carga tributária. É unanimidade no setor privado que é excessiva e penaliza
o investimento, a formalização da mão de obra e até a inovação. Da maneira como
existe no Brasil, principalmente na partida do investimento, antes mesmo de
começar a receber os resultados desse investimento, há uma tributação pesada.
Outro item que afeta muito a competitividade do setor e penaliza outros é a
obsolescência da infraestrutura. O terceiro gravame é a questão do custo do
crédito privado no Brasil. O país ainda tem juros reais elevados que refletem
em parte uma distorção da gestão macroeconômica, a dependência excessiva da
política monetária para manter a inflação sob controle em relação à política
fiscal. Se houvesse um mix mais equilibrado de política fiscal e monetária ,
provavelmente haveria inflação menor. O juro real de equilíbrio da economia
brasileira não seria tão elevado.
O quadro de recessão que está se delineando na indústria se aplica
à economia em geral?
Tenho um conceito mais lato de recessão. Para mim, no Brasil, recessão é
quando o país está crescendo, sistematicamente, abaixo do PIB potencial. O
Brasil está muito próximo da recessão porque 1% de crescimento do PIB é muito
pouco para um país que, historicamente, cresce 4%, 5%, ao ano. Os demais Brics
estão em processo de soft landing , de aterrisagem suave. A China não
cresce mais 10%, vai crescer 7%, 6%. Não há nenhum fator econômico, objetivo, que
condene o Brasil a crescer apenas 1%. Estamos vivendo um processo de
estagflação. Não é recessão global. O setor de serviços ainda cresce, o consumo
privado ainda cresce 3%, 4%, o agronegócio ainda cresce 3,5%, 4%, mas estamos
próximos da estagnação, combinada com uma inflação alta. Um ponto muito
importante foi a grande mudança estrutural da economia brasileira, o lado
social, esse círculo virtuoso de pleno emprego — apesar da estagnação — e da
mobilidade social. Só que há um prazo de validade, caso a economia permaneça
estagnada. O setor de serviços substituiu a indústria na geração de empregos. E
grande parte do agronegócio e da mineração ainda vem empregando mão de obra.
Mas se esse processo for prolongado por muito tempo, principalmente com inflação
elevada, os ganhos sociais dessa verdadeira revolução estrutural vão diminuir.
O país vive um momento de estagflação e não de recessão?
Sim. Estagflação com recessão em alguns setores, mais localizado na
indústria. Os serviços, o agronegócio e a mineração ainda crescem. Estamos em
uma fase típica de transição. Sabemos que a situação atual não pode ser
permanente. Ou ela desanda em uma crise grave, que seria um mergulho recessivo,
uma descontinuidade recessiva, ou nós preparamos um terreno para romper essa
armadilha do crescimento baixo e restaurar a confiança. Tudo indica que,
qualquer que seja o eleito, ele irá trabalhar para seguirmos um caminho de
retomada, ainda que seja gradual. O primeiro ano vai ser muito difícil. Não
existem soluções mágicas. Uns candidatos vão optar por um ajuste gradual,
outros, talvez, por um ajuste mais rápido. O importante é o choque de
confiança, que é o que o país está precisando. Não há dúvida alguma de que esse
modelo de crescimento ancorado no consumo das famílias está esgotado. Tem que
passar para o investimento. Fazendo um paradoxo, é curioso como a China está
vivendo, exatamente, o oposto simétrico, saindo de um modelo de crescimento
baseado em exportações para um modelo baseado no consumo interno. Nós temos que
fazer o contrário.
Há risco de a taxa de desemprego aumentar em outros setores, além
da indústria?
Sem dúvida. Temos que evitar isso a qualquer custo. Independentemente de
quem for o próximo presidente, vai haver mudança da política econômica. O bom
senso, a visão objetiva, não partidária e fria da economia brasileira mostra
que não podemos correr o risco de interromper esse processo virtuoso de
mobilidade social. Hoje, ele está sob ameaça.
A manutenção dos juros elevados é necessária?
Foi necessária porque não houve a contribuição da política fiscal.
Estamos combatendo a inflação de forma ineficiente: só com juros. Há uma
distorção, que é o represamento de preços, como os de combustíveis e das
tarifas do setor elétrico. A política fiscal continua com um viés expansionista.
Deveria haver um rearranjo macroeconômico e uma política fiscal de melhor
qualidade. Isso passa por uma ênfase maior na questão dos gastos correntes,
principalmente os gastos públicos, que não são investimento. Mais cedo ou mais
tarde, teremos que fazer essa inflação corretiva. Porque o controle de preços
apenas faz ganhar tempo. Depois de passar o período eleitoral, no próximo ano,
independentemente de quem for eleito, vai haver o reajuste dos preços
controlados.
Se houver um ajuste fiscal maior, no atual cenário de desaceleração
interna e externa, o efeito seria de
mais contração?
Estamos presos em uma armadilha da estagflação, de baixo crescimento e
inflação elevada, em um cenário mais preocupante. O crescimento do PIB foi
revisado para baixo outra vez, para praticamente 1%, muito abaixo do potencial
brasileiro. A inflação continua rígida, acima da faixa de 6%, e já superou o
limite superior da meta. O ambiente externo não é de crise global, mas é hostil
e reduz as margens de manobra da política econômica. Com a recuperação gradual
da economia nos Estados Unidos e a queda do desemprego, já foi anunciado pelo
Fed que a compra de títulos acaba em outubro e, provavelmente em meados do ano
que vem, inicia-se a elevação dos juros americanos. Isso vai provocar um
realinhamento de preços relativos no mundo inteiro: de commodities, moedas e
taxas de juros. Um lado bom é que o Brasil já colocou a taxa de juros nominal e
real em um patamar que lhe permite conviver bem com o ciclo de elevação de
juros. O diferencial de juros ainda é muito favorável, até porque a taxa de
juros americana sai de zero para um patamar de 3%, 4%, porque a inflação
americana hoje é muito baixa. O diferencial de juros entre doméstico e
internacional, mesmo com o ajuste americano no ano que vem, não vai precisar
ser corrigido de forma muito mais drástica. De qualquer maneira, temos um
período de trégua de um ano, entre julho e o terceiro trimestre de 2015, quando
teremos que aproveitar e fazer as correções necessárias. Não são correções
fáceis. Não há soluções mágicas e elas vão trazer custos, sim. Custos
econômicos, sociais e políticos. Adiamos a correção dos desequilíbrios e,
agora, está chegando a hora da verdade.
Essa correção em 2015 levaria a mais desaceleração econômica?
O que pode minimizar um impacto recessivo dessa correção de
desequilíbrios é o governo apresentar um programa econômico consistente, que
tenha credibilidade e provoque uma reversão nessa onda de expectativas
pessimistas que tem afetado consumidores e empresários de forma generalizada.
Não é mais só a indústria e os serviços. A única exceção é o agronegócio, que
está em uma espécie de clausura.
O ajuste fiscal é necessário até para retomar a confiança?
Exato. É em uma dosagem menor, felizmente, do que aquela que os países
da Zona do Euro tiveram que passar. É preciso ter um ajuste fiscal inicial para
restabelecer a confiança de que o Brasil tem uma política fiscal consistente.
Esse ajuste, no início, vai implicar, certamente, em corte de gastos e, até
mesmo, de investimentos públicos. É difícil só cortar gastos correntes, não tem
espaço. Se bem feito, vai minimizar a necessidade de mais aperto monetário. O
governo tinha que apresentar um projeto pelo qual todos esperam, de reforma tributária.
Ainda que seja debatido pela sociedade e pelo Congresso, o anúncio de uma
reforma tributária que racionalize o sistema e aponte para uma redução da carga
tributária, ainda que lenta e gradual, começando pela tributação sobre poupança
e investimento e depois sobre o consumo. O objetivo é transformar o
investimento, principalmente o privado, em grande motor do crescimento. E o
governo precisa anunciar uma nova agenda de concessões.
Em quais áreas?
Em todas as áreas nas quais o setor privado possa ter papel ativo.
Começaria pelo aprimoramento dos marcos regulatórios, eliminando qualquer
resquício ideológico ou viés de controle de taxa de retorno. Incluiria todo o
setor de infraestrutura — portos, ferrovias, rodovias e aeroportos. No setor de
energia, é preciso retomar um modelo que era bem sucedido. Não pode reduzir
tarifa de forma artificial. As tarifas vão ser reduzidas à medida que exista
maior oferta de energia, maior eficiência energética e melhor distribuição. Mas
não se pode colocar em risco a rentabilidade do setor, porque se cai em um
círculo vicioso do qual se quer escapar: a retração de investimento e até o
risco de racionamento, como neste ano.
O ano que vem será difícil para o próximo presidente?
Seja a presidenta Dilma reeleita ou qualquer candidato da oposição
eleito, haverá uma fase difícil, que pode ser de curta duração, para corrigir
os desequilíbrios da economia brasileira, principalmente os internos, mas
também os externos, que voltaram a ser fonte de preocupação. Estamos com um déficit
em conta corrente beirando os 4% do PIB. O Brasil já não financia esse déficit
apenas com capitais de longo prazo, mas pelo menos 20% com capitais de curto
prazo. Com o aumento dos juros nos EUA, a tendência é que haverá uma correção
cambial. O câmbio está mais ou menos estabilizado devido aos juros elevados.
Mas, provavelmente, no ano que vem, com esse aumento de juros nos EUA e a
deterioração da balança comercial, por uma queda das exportações, vai haver uma
alta no câmbio. O governo vai ter que dosar sua política para quebrar essa
rigidez inflacionária, levando em consideração que terá que fazer a correção de
preços e do câmbio. Não é uma tarefa simples, mas o grande fator minimizador de
uma consequência recessiva é a retomada da confiança na gestão macroeconômica e
os estímulos que podem ser dados ao setor privado, apenas mexendo de forma
inteligente nos marcos regulatórios. Recentemente, o governo eliminou uma série
de impedimentos no 4G da telefonia celular.
Se Dilma for reeleita, ela marcharia para um modelo mais
privatista, diferente do atual?
O Brasil tem uma história econômica interessante, em que o pragmatismo
sempre vence a ideologia. A presidente Dilma vai enfrentar uma situação em que
a opção de o Estado liderar a retomada do crescimento não existe mais. Depois
da crise do euro, a sensibilidade dos mercados à trajetória esperada na relação
dívida/PIB, seja dívida bruta ou líquida, aumentou de forma tremenda. No
passado, os investidores internacionais, que, no fundo, são fundamentais para qualquer
país emergente, olhavam muito as reservas e as contas externas. Hoje, o foco é
maior na dívida interna. Qualquer percepção de que há um desvio sistemático na
trajetória da relação dívida/PIB, um indicador crítico de solvência interna,
pode ter consequências muito sérias para a economia brasileira, que seria o
Brasil perder o status do grau de investimento. Já houve um ensaio no primeiro
semestre. O custo econômico e social de o Brasil ser rebaixado ou sair do clube
restrito de países que são grau de investimento é tão alto que nenhum governo
sensato vai correr esse risco. Mesmo o governo da presidenta Dilma vai ser
obrigado a adotar uma linha de maior austeridade fiscal e mais estímulo ao
setor privado. O próprio governo está colhendo os frutos do ensaio de concessão
privada que fez, de forma muito bem sucedida, com os aeroportos. E preparou o
terreno para a área de portos, que ainda precisa deslanchar. Mudou-se o marco
regulatório, mas não aconteceu nada em termos de investimento. O Estado
brasileiro tem um papel fundamental de gestor de conflitos sociais e tem feito
isso de forma relativamente eficiente. As políticas de transferência de renda
no Brasil — o Bolsa Escola que virou Bolsa Família — são exemplos para o mundo
todo e o custo em relação ao PIB é baixo. O resultado foi, de fato, inserção e
mobilidade social. Outra prioridade absoluta do Estado brasileiro passou a ser
a questão da educação. Uma das coisas mais extraordinárias que eu li sobre a
Copa do Mundo foi o gerente da Federação Alemã de Futebol dizendo que, para o
Brasil voltar a ter sucesso no futebol, falta investir em educação. A frase é
extremamente emblemática, porque não é só no futebol. Para a indústria
brasileira ser mais competitiva, falta mão de obra mais qualificada e mais preparada.
Falta ter um setor de serviços com mão de obra qualificada. Essa foi a minha
tese, em 1970, da educação como investimento. O Estado brasileiro tem um
desafio imenso de concentrar suas energias nesse grande fator multiplicador de
oportunidades, ganho de eficiência, correlacionado com inovação e tecnologia,
que é a qualidade da educação.
Fala-se sobre isso desde os anos 70. Nos anos 80, falava-se muito do
exemplo da Coreia do Sul. Por que não se dá essa prioridade no Brasil?
Não sei dizer. Há algo muito curioso. Quando terminei meu doutorado em
Chicago e publiquei minha tese no Brasil sobre fontes de crescimento econômico,
e dois anos depois, sobre educação e distribuição de renda, quando tratei a
educação como capital humano, fui criticado tremendamente porque havia uma
postura de falta de compreensão da dimensão econômica da educação. Olhava-se a
educação somente como algo social e cultural. Naquela ocasião, os pioneiros
mostravam que a educação era um fator de produção per se , independente
do capital físico. Os países que investem em educação têm o melhor desempenho
econômico e a melhor distribuição de renda. Apesar desse debate intenso nos
anos 70, que se arrastou pelos 80, só fomos despertar para a importância da
educação nos anos 90, quando houve um grande salto quantitativo da escolaridade
no Brasil. Agora, temos 98% das crianças em idade escolar na escola. Temos um
estoque, infelizmente, de analfabetos.
Há também a grande evasão...
Não conseguimos fazer o que deveria ser um objetivo fundamental, a
educação em tempo integral, pelo menos no ensino médio, que foi a grande
revolução da Coreia. Vamos ver se esse fundo do pré-sal nos ajuda. Esta é a
grande revolução que o país precisa enfrentar. Temos um setor privado
extremamente dinâmico, preparado para enfrentar desafios, desde que seja
oferecido a ele um ambiente de negócios que reconheça a relação entre retorno e
risco. Assim, o Estado atuaria na área de pesquisa e desenvolvimento, na
inovação e na criação de Embrapas setoriais, principalmente para a indústria.
Pouco a pouco, deixaríamos as soluções transitórias, o protecionismo, o
subsídio exagerado, que criam um ambiente pouco competitivo.
As políticas de conceder isenções fiscais setoriais encaixam-se nesse
contexto?
São medidas esporádicas, tópicas, que não vão ao fundo do problema. O governo concede isenção tributária quando seria melhor uma reforma tributária mais ampla, em benefício de todos os setores.
São medidas esporádicas, tópicas, que não vão ao fundo do problema. O governo concede isenção tributária quando seria melhor uma reforma tributária mais ampla, em benefício de todos os setores.
FHC, Lula e Dilma tentaram fazer a reforma tributária e não conseguiram.
Qual seria a nova maneira?
Junto com a questão da educação, é o grande desafio da economia
brasileira. O Brasil é uma sociedade cada vez mais organizada, uma democracia
cada vez mais consolidada. Temos que ter capacidade, não só o governo, mas a
sociedade civil, as organizações de classe, os sindicatos de trabalhadores e
patronais de superar desafios. Não é possível que o Brasil, que tem uma rica
experiência de reformas econômicas, não tenha capacidade de apresentar um
projeto de reforma tributária com a liderança de um presidente eleito e
mobilizar o Congresso para aprovar uma reforma que modernize, elimine
distorções e crie um ambiente de negócios, para que a economia possa crescer
não 1%, mas 4%, 5%. O custo econômico do adiamento dessas duas grandes reformas
— a educacional e tributária — representa uma perda de 2 a 3 pontos percentuais
de alta no PIB por ano.
Estamos fadados a crescer 1%, 1,5%?
O crescimento de 1%, ou de 2%, é muito abaixo do potencial da economia
brasileira. O único setor da economia brasileira que cresce de maneira
sustentável, ao longo do tempo, é o agronegócio, com taxas de 4%, 4,5%. Na
indústria, além da competitividade baixa, há questões como o salário, que
também não nos permite disputar em pé de igualdade com a China. O ambiente
externo para a indústria é mais difícil. Enfrentamos a concorrência de outros
emergentes, como o México, e vamos enfrentar daqui a pouco a concorrência da
Índia, que vai passar por um processo de reformas institucionais, com uma nova
liderança política. Essa é a beleza de um mundo globalizado. Não há vencedores
permanentes, nem perdedores eternos. Ninguém está pregando uma política de
total liberdade porque alguns países têm práticas comerciais não equitativas,
mas temos a OMC (Organização Mundial do Comércio), a única instituição
multilateral com poder de lei dentro dos seus países membros e que deve coibir
abusos e posturas anticompetitivas. Se houver melhoria gradual de qualificação
da mão de obra, aumento da inovação tecnológica e do volume de investimentos,
vai haver ganhos de produtividade e a indústria vai encontrar os nichos onde
vai ter condições de competir com outros players globais.
A Embraer é um exemplo extremo. Se temos uma indústria de ponta
tecnológica no setor da aviação comercial e militar, por que não repetir esse
modelo? A Embraer é a interface correta do Estado com o setor privado.
O senhor olha a economia com otimismo?
Muito. Vai ser um processo gradual. Não acredito no fatalismo econômico. A política econômica é feita para mudar a história. Se há uma situação de estagnação, de recessão e falta de competitividade, cabe ao governo usar os instrumentos de política econômica para reverter as expectativas, criar um ambiente de negócios que estimule a produtividade e a competição e viabilize a retomada de investimentos. Os instrumentos estão todos aí. Nos últimos anos, houve uma perda de substância na gestão macroeconômica. Ficamos muito preocupados com a gestão do curto prazo, vivemos a histeria do curto prazo. Precisamos retomar a visão de médio e longo prazos.
Muito. Vai ser um processo gradual. Não acredito no fatalismo econômico. A política econômica é feita para mudar a história. Se há uma situação de estagnação, de recessão e falta de competitividade, cabe ao governo usar os instrumentos de política econômica para reverter as expectativas, criar um ambiente de negócios que estimule a produtividade e a competição e viabilize a retomada de investimentos. Os instrumentos estão todos aí. Nos últimos anos, houve uma perda de substância na gestão macroeconômica. Ficamos muito preocupados com a gestão do curto prazo, vivemos a histeria do curto prazo. Precisamos retomar a visão de médio e longo prazos.